QUINTA-FEIRA, 17 DE JUNHO DE 2010
Por Arlindo Montenegro
Quando um artista da magia, atraindo a gente com seu olhar, faz um movimento com a mão, realiza o truque, sem que se perceba que substituiu um objeto da cena. Atraídos e concentrados pelo olhar, pelo movimento das mãos, do corpo ou pelo específico manuseaddo em cena, nossa atenção despreza os detalhes periféricos, os complementos da cena.
Em política, os detalhes que parecem banais são encobertos pela ação diversiva, pelo discurso risonho, pela imagem maquiada, mascarada. Em política, os segredos de estado, como as verbas secretas, as negociações de bastidores, encobrem verdades históricas que acabam em tragédias, guerras, desabamento de morros, cidades alagadas, trânsito congestionado, multas, impostos crescentes, interferência do estado controlador... e mais!
Na década de 1990, uma voz isolada na imprensa brasileira começou a denunciar o Foro de São Paulo, fundado pelo PT, por iniciativa de sua estrela maior, o líder metalúrgico Lula da Silva. O Foro veio prá substituir a Internacional Comunista nas Américas e como dizem os pais, padrinhos, patrocinadores, gestores, lideres e sociopatas fanáticos liderados em seus documentos, veio com tudo, para resgatar e aplicar as idiotices selvagens do fracassado estado de economia marxista.
Até agora, somente os marxistas, que descartam toda a história da civilização, que não reconhecem pai e mãe, família, cultura, religião – como se tivessem nascido no ventre de uma abóbora ou transportados da terra do nunca no bico de uma cegonha – tinham a solução para todos os males do demoníaco imperialismo capitalista liderado pelo infame tio Sam. Aos defensores da ordem marxista associaram-se com mala e cuia os ilustres internacionalistas da ONU.
O decreto filosófico que move a nova sociedade é mesmo abandonar, descartar toda a experiência humana de convívio social e até de reprodução, educação e atenção às leis. Viver agora o futuro estampado nas telas de tevê! Robôs trabalhando e a gente se divertindo com muito sexo e droga. Viajando em naves pelo universo ou se embrenhando nas matas românticas onde vivem os verdes com o sexo no rabo. Lindo, não é mesmo?
Ontem lembrei Chicrânio. Um cdf que confessava e comungava todo santo dia. Não jogava futebol nem bulia com as moças. Vivia com a cara espinhenta enfiada nos livros, anotando coisas num caderno que não largava nem para dormir. Chicranio só existia quando a gente estava com alguma dúvida. Era só perguntar que os olhos castanhos risonhos brilhavam e a boca derramava a resposta certeira, detalhada e referenciada.
Pois Chicranio morreu de morte morrida e de repente. Mas deixou uns cadernos com suas anotações. Foi o primo dele, Teobaldo quem tomou posse do saber escrito, mandou encadernar tudo e dedicou-se a estudar aquele sumário de sapiencia. Prá quê? Pirou e entrou para a política. Tinha todas as respostas. Todas as soluções. Era como se o prato de feijão aparecesse na mesa, junto com o bife, antes de ser plantado, antes do bezerro ser parido, apojado, crescido e matado. Tudo mágico, sem trabalho.
Riram dele, por que o dinheiro vinha antes de tudo. Era impossível trabalhar e portanto viver, sem dinheiro. O negocio era economizar, investir, pensar no futuro e só no futuro. A terra era a mãe teta que oferecia o leite de graça, sem trabalho. Trabalho era coisa de demente. Os mais dementes que não tinham nadica de nada, podiam sem esforço tomar sua cerveja com churrasquinho prá não morrer à mingua. O estado providenciava a esmola mensal.
Teobaldo, ficava fulo com tudo aquilo, pensando na falta que Chicranio fazia prá dar as respostas e apontar o caminho, com aquele jeito de cachorro roendo osso, humilde e atento ao chamado do amigo humano. Abriu o livro "Cadernos do Chicranio" e começou a ler de trás prá diante. Pois não é que estava tudo ali!!! Aquela era a solução política que a ONU devia abraçar. Em poucas linhas a solução definitiva estava descrita ali, no resumo.
SOLUÇÃO HUMANA – Toda investigação sobre o que está por vir é nula, pertencendo este saber exclusivamente à providência divina. Amanhã é sempre uma incógnita, uma adivinhação diferente do naco de pão que cada um precisa plantar e colher hoje. O dia a dia importa na missão de encher a barriga prá juntar energia e preservar a vida, por isto mesmo, quem come tudo num dia, no outro não tem de comer.
As disputas e guerras entre os adeptos das várias utopias imaginadas ou por imaginar ainda, podem bem ser resolvidas com a divisão territorial do espaço, onde convivam os que pensam em organizações sociais comuns. Todos têm direito à vida que escolherem viver. Assim, quem é ateu que viva entre ateus nas colonias territoriais designadas para ateus, na pátria humana e produtiva dos ateus, sem ser incomodados.
Quem venera a Deus, seja qual for a forma concebida, que viva em suas colonias territoriais, designadas para os crentes de cada religião específica, sem ser incomodados e cada grupo produzindo os alimentos preferidos. Nenhuma liderança, nenhuma forma de governo será considerada superior ao ponto de ser imposta.
Quem pariu mateus que o embale! Ninguém pode ser acusado por ter nascido com a faculdade de pensar. Mas cada tribo pode eliminar quem atente contra a vida do outro, sem dó nem piedade. Ou expulsar quem pense e queira impor seu pensamento e forma de agir ao outro. A liberdade que se transmite para a vida em grupo, está fundada na responsabilidade de cada um em obter seu pão pelo mérito do seu trabalho, na medida das bocas que tem a obrigação de alimentar.
A organização e instituição das colonias territoriais é determinada em consenso, plenamente justificada e compreendida por todos os adultos. Para facilitar a divisão da terra e manutenção da ordem, quem optar pelo socialismo pode mudar-se para os territórios modelo. E vice versa. Cada macaco no seu galho. Com a garantia da responsabilidade de manter sua escolha, sem dever nada a ninguém.
Depois eu conto o que mais foi lido nos "Cadernos de Chicranio", mas em suma, a ordem deliberada é: cada coletivista em seu coletivo, cada crente em qualquer utopia vivendo entre os seus. Cada minoria com seu proprio espaço. Acabando com a idéia de misturar água com óleo ou de corpos e mentes diferentes ocupando o mesmo espaço. Sagrado é o direito à vida.
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