SEGUNDA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2010
Por Alberto Benegas Lynch
Muitos autores já advertiram sobre os perigos de transitar nos caminhos do socialismo. Taalvez o mais destacado tenha sido Ludwig von Mises, que destacou como neste caminho, orientado para a eliminação da propriedade privada, se joga com fogo, ou como se um barranco desabasse, acelerando os tempos e movimentos.
Exemplificando: quando os governos impõem preços máximos a um artigo, no primeiro momento a oferta é maior que a procura. Logo a oferta se reprime porque outros setores mais rentáveis aparecem. Resumindo, por mais que se busquem bodes expiatórios, gera-se a escassez do produto em questão, criando a tentação de controlar outros preços. Com isto somem os indicadores econômicos e se impossibilita a avaliação de projetos baseados em informação realista. Uma coisa leva à outra quando se pretende atuar sobre vidas e propriedades alheias, até que o controle é total – daí o totalitarismo.
Esta coisa de "socialismo com face humana" como variante do stalinismo, não existe! Não é humano limitar, restringir a liberdade e disponibilidade do fruto do trabalho individual. Não existem surpresas diante do poder que maneja as pessoas burocraticamente, com experiências mais ou menos truculentas e promessas impossíveis de cumprir, quando se evidencia a cara desagradável da prepotência estatal.
O Paraguai tem uma tradição histórica de tiranias com os Francia, López e Strossener. Agora esta nas mãos de um ex-sacerdote que patrocina a Teologia da Libertação (leia-se o marxismo). O demagogo Fernando Lugo que os integrantes do Exército do Povo Paraguaio intentam ultrapassar é o "pai da pátria" no sentido literal e figurado, o "jesuita da conclusão fácil". A triste história do Paraguai oscila entre a ditadura e a cleptocracia.
O grupo terrorista é comandado por Manuel Cristaldo Mieres, que defende o estabelecimento de uma "república socialista", com medidas profundas que permitam ao estado o "controle total da propriedade, começando por uma reforma agrária intgral", para o que "é indispensável derrubar o oligarca Lugo."
Os guerrilheiros de sempre acabam de incendiar o maquinário agrícola de um empresario brasileiro, sequestraram dois pecuaristas paraguaios recebendo grandes somas de resgate e assaltaram a base militar de Tacuatí. Diante destes fatos o governo decretou o estado de sítio em cinco províncias. O EPP, que se declara marxista-leninista conta com apoio logístico nas universidades, centros educativose outros grupos paraguaios afins em diversos setores.
O mesmo Lugo já pregava o socialismo no púlpito de sua igreja e há muito, como se diz, "esquenta a água para os outros tomarem o mate", de modo que não é surpresa a aparição deste grupo (o EPP) que parece reduzido, mas não se sabe em que vai acabar.
Um fenômeno parecido aconteceu há pouco tempo na Venezuela, quando um grupo rebelde se autoproclamou o genuino representante da "revolução bolivariana" e declarou que "Chavez traiu a revolução e deve ser destituído dando lugar aos verdadeiros revolucionários".
Foi o que aconteceu há algum tempo na Argentina com Perón que em 1957 ordenou: "quem tomar a casa ou a estância de um oligarca ou executem, ficará com a propriedade... Os suboficiais que matarem seus chefes ou oficiais, ficarão no comando das unidades militares".
Em setembro de 1947, Perón anunciava atraves de uma cadeia de rádio: "Levantaremos forcas por todo o país para enforcar os opositores... E numa carta parao interventor da província de Santiago del Estero: "Para o inimigo, nenhuma justiça!" - E em vias de assumir o terceiro mandato presidencial: "Se a URSS nos tivesse ajudado em 1955 eu teria sido o primeiro Fidel Castro do continente" (Revista Marcha, Montivideu, 27 de Fevereiro de 1970). (...)
Hoje no Paraguai o EPP não se contenta com simulacros do socialismo e demanda por socialismo profundo. Lugo que entrou no seminário aos 19 anos, foi ser missionário no Equador onde se embebeu da Teologia da Libertação. Depois foi estudar em Roma onde ficou até 1987. Em 1994 foi designao Bispo do Departamento (estado) de San Pedro, onde era conhecido como o "bispo dos pobres" e defendia a redistribuição da terra e o socialismo. Em 14 de Agosto de 2008, a revista "The Guardian Weeklyy" publicou uma pormenorizada análise das idéias socialistas de Lugo sob o título "The Rise of the Red Bishop".
Antes que o incêndio totalitário asfixie todos os vestígios da decência e do respeito em nosso continente é imperioso estudar os fundamentos de uma sociedade aberta e os irreparáveis estragos, que a guilhotina horizontal do igualitarismo causa, igualando a miséria e roubando os melhores sonhos dos mais necessitados. (...)
Sem lamentações pelo que poderia ter sido feito no passado. Agora é estar seguro que se agiu da melhor maneira diante das circunstâncias. (...) Trata-se de estar consciente hoje para não perder as oportunidades de reverter a situação. Sem desculpas pueris e mentirosas como "não tenho talento para participar". (...)
Na realidade a maior resposabilidade não recai nos grupos extremistas e sim nos grupos indiferentes, naqueles que ficam olhando de lado e nos irresponsáveis que contribuem para abrir as comportas que debilitam as fundações de uma sociedade civilizada. (...)
Finalmente, em geral, existem cretinos que pouco contribuem para melhorar as situações através do debate de idéias e so pensam em investir em Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia e Nicarágua na esperança de lucro quando se liberem os lacres governantes (naturalmente devido ao esforço que os nacionais estão fazendo). Ja sabemos que o primeiro país é um grande campo de concentração e os outros quatro abandonaram a democracia, para substituí-la pela cleptocracia, isto é, o governo de ladrões: desde as propriedades até os impostos insuportáveis e endividamentos inauditos. Das liberdades individuais e das vidas e sonhos, que os megalômanos do momento tratam de arruinar.
O Paraguai está caminhando a passos gigantes para a Argentina. Acaba de consumar uma alarmante escalada contra a imprensa livre. Ofende superlativamente denominando "democracia" os regimes que zombam do senso mais elementar de sociedade livre e do respeito a minorias. Com todas as contradições de sua época, Aristóteles assinalou que "o princípio fundamental do governo democrático é a liberdade". Na mesma linha de raciocínio, Lord Acton escreveu que "A distinção mais poderosa para se julgar se um país é realmente livre está na dose de segurança que as minorias gozam."
Fonte: Diario del Exterior, Segunda feira, 10 de Maio/10
Tradução reduzida: A. Montenegro
Nenhum comentário:
Postar um comentário