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terça-feira, 11 de maio de 2010

Embaixador Thomas A. Shannon: Pronunciamento no Centro Brasileiro de Relações Internacionais - CEBRI

CONSULATE GENERAL OF THE UNITED STATES


Cavaleiro doTemplo: que acharam do novo Estados Unidos? Vermelho, não?


Pronunciamento do Embaixador dos Estados Unidos na República Federativa do Brasil, Thomas A. Shannon, no dia 5 de maio de 2010



INTRODUÇÃO

É com grande prazer que volto ao Cebri, desta vez como embaixador do meu país, para tratar da situação das relações entre os Estados Unidos e o Brasil.


Como sempre, sou grato pelas cordiais boas-vindas, pela generosidade de sua apresentação e pela atenção dos membros deste Centro e da plateia. É uma honra estar com vocês, e espero que minhas poucas palavras recebam a sua aprovação e sejam do seu agrado.


Hoje, quero falar sobre as relações entre os Estados Unidos e o Brasil sob três perspectivas diferentes:

Primeiro, gostaria de compartilhar com vocês minha avaliação da situação atual das nossas relações.

Segundo, gostaria de usar essa avaliação para refletir sobre o futuro das nossas relações.


E, por fim, gostaria de refletir sobre o que a natureza poderosa das nossas relações significa para o nosso mundo como um todo, em especial para esta profissão peculiar dedicada à expressão, coordenação e realização pacíficas de interesses e aspirações nacionais: a diplomacia.


UM APARTE PESSOAL


Antes de iniciar, quero fazer um aparte pessoal que ajudará a explicar a forma como eu penso o Brasil. Como foi dito quando me apresentaram, servi no Brasil de 1989 a 1992. Essa foi minha terceira incursão no Serviço de Relações Exteriores dos Estados Unidos e minha segunda no exterior. Trabalhei na nossa Embaixada em Brasília como assessor especial para dois grandes embaixadores: Harry Shlaudeman e Richard Melton. Meus três anos no Brasil causaram em mim um profundo impacto, tanto em termos profissionais quanto pessoais.

Foi um tempo de grandes mudanças e desafios no Brasil. O processo político de redemocratização havia apenas começado. O Brasil realizava sua primeira eleição direta para presidente desde 1960. O governo eleito do presidente Collor de Mello adotou medidas extremas para tratar da inflação, abrir a economia brasileira para o mundo, acabar com o programa de armas nucleares, transformar as relações com a Argentina e iniciar os preparativos para a Conferência do Rio de Janeiro de 1992 sobre o Meio Ambiente. Embora tenha deixado o Brasil antes do impeachment do presidente Collor de Mello, observei as nuvens da tempestade política se aglutinando e previ que a nova Constituição do Brasil e suas instituições democráticas enfrentariam um desafio difícil.

Por tudo isso, estava impressionado com o compromisso do Brasil com seu futuro democrático, a resistência das suas instituições e pelo o que Darcy Ribeiro chamou de “alegria de viver” do povo brasileiro. Senti que estava presenciando um grande nascimento: O surgimento de um povo decidido a tomar de volta o seu país, determinado a ter voz na construção dos seus destinos nacional e individual e reivindicando para o Brasil um lugar mais importante no mundo.


Ao retornar dezoito anos depois, sei que esse foi um nascimento bem-sucedido.


Recentemente, estava lendo partes das memórias de Juscelino Kubitschek e me deparei com um telegrama que o romancista britânico Aldous Huxley enviou ao presidente Kubitschek. Huxley tinha acabado de viajar de Ouro Preto para Brasília, e escreveu: “Vim diretamente de Ouro Preto para Brasília. Que jornada dramática, através do tempo e da História! Uma jornada do ontem para o amanhã, do que terminou para o que vai começar, das velhas realizações para as novas promessas.”


Hoje, essas “novas promessas” são uma nova realidade.


A SITUAÇÃO DE BEM-ESTAR DAS NOSSAS RELAÇÕES


Quando olhamos a situação atual das relações entre os Estados Unidos e o Brasil é importante reconhecer que o Brasil
não é uma potência emergente. Ele  emergiu. Ocupa agora um lugar no cenário global que não pode ser negado ou mesmo ignorado.

Esse fato transformou as relações entre os Estados Unidos e o Brasil de duas formas fundamentais.


Primeiro, nossas relações são agora mais do que relações bilaterais. É uma relação global. Estamos vendo o Brasil em lugares onde historicamente nunca esteve presente; e nos engajando com o Brasil em temas e iniciativas novas e inovadoras. Do Haiti ao Oriente Médio e à África, do Unasul ao G-20, da energia e da segurança alimentar à assistência cooperativa para o desenvolvimento, estamos trabalhando em estreita colaboração de forma única e desafiadora. Isso cria oportunidades importantes para aprofundar nossa colaboração e fortalecer nossas relações, mas às vezes também testa nossa capacidade de entender e responder um ao outro.


Segundo, nossa relação deixou de ser uma relação exclusivamente entre governos. É agora uma relação entre sociedades e povos. Globalização, tecnologia e viagens conectaram as sociedades americana e brasileira como nunca antes. Laços comerciais e de investimento, vínculos crescentes entre universidades e laboratórios, o extraordinário crescimento do turismo brasileiro e o relacionamento entre igrejas evangélicas no Brasil e nos Estados Unidos, são exemplos de uma rede de relacionamentos em constante expansão entre os dois países. Essa rede surgiu de forma natural, frequentemente com pouca influência ou envolvimento dos governos. Contudo, à medida que essa rede se fortalece e se consolida, exigirá cada vez mais dos dois governos, demandando que os governos facilitem e promovam os crescentes vínculos entre nossas sociedades.


Essas mudanças fundamentais valorizam a qualidade, a constância, a abrangência e a diversidade do nosso diálogo. Historicamente, a amizade e as boas relações que existiram entre nossos dois países foram caracterizadas por períodos de engajamento e cooperação intensos seguidos de períodos de afastamento e desatenção. Esse engajamento desigual foi resultado de mudanças de prioridades e de desafios em outras partes do mundo que desviavam a atenção. No cenário atual, porém, não podemos mais permitir que nossas relações fiquem estagnadas.


Precisamos garantir diálogo e engajamento constantes, de alto nível e de qualidade.


Os dois países reconhecem esse fato e têm trabalhado para criar oportunidades e mecanismos para que isso se torne uma realidade. Começando com a Cúpula Brasil-EUA de 2003 em Washington, os dois países criaram um conjunto ambicioso de diálogos ministeriais para impulsionar a ampla agenda bilateral. Os dois países trabalharam também em iniciativas como o Memorando de Entendimento sobre Biocombustíveis,o Plano de Ação Conjunta contra a Discriminação Racial e Étnica e lutam para erradicar a malária em São Tomé e Príncipe, iniciativas destinadas a dar conteúdo a essa agenda.


Começando em 2009,o presidente Obama e a secretária Hillary Clinton consolidaram e avançaram esses ganhos em nossa relação. O presidente Lula foi o primeiro líder da América do Sul a ser convidado para a Casa Branca, e o presidente Obama tem mantido uma agenda frequente e regular de encontros, telefonemas e correspondência com o presidente Lula. Na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago, o presidente Obama se reuniu com presidentes sul-americanos sob os auspícios da Unasul, sendo essa a primeira vez que um presidente americano reconheceu a Unasul. Isso se deve ao engajamento de nosso presidente com o presidente Lula e mostra o respeito por um projeto de integração concebido pelo Brasil.


Mais recentemente, nosso engajamento se acelerou de maneiras importantes. Nos últimos três meses, cinco secretários do governo americano visitaram o Brasil: secretária de Estado, Hillary Clinton, secretário de Justiça, Eric Holder, secretário de Comércio, Gary Locke, secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Shaun Donovan, e secretário de Transportes, Ray LaHood. Assinamos cinco Memorandos de Entendimento que abrangem desde Igualdade de Gênero e Avanço das Mulheres até Mudanças Climáticas, Assistência Trilateral para o Desenvolvimento, Educação e Infraestrutura Rodoviária. Assinamos um Acordo de Cooperação em Matéria de Defesa, o primeiro desde os anos 1950. Lançamos um Diálogo de Parceria Global para melhorar a estrutura de engajamento entre o Departamento de Estado e o Itamaraty.   Presidimos conjuntamente o Fórum Urbano Mundial da ONU, e fomos co-anfitriões da Conferência Internacional de Combate às Drogas, dois importantes eventos internacionais recentemente realizados no Rio de Janeiro. Concluímos, após anos de negociações, um Acordo para Conservação da Floresta Tropical. Acabamos de concluir uma importante missão comercial, a “Tradewinds”, que trouxe ao Brasil 130 companhias americanas , interessadas em trabalhar com empresas brasileiras. Identificamos o Brasil como um país prioritário na Iniciativa Nacional de Exportação do presidente e, ontem, realizamos nosso Diálogo Comercial Bilateral em Brasília. Fechamos um Acordo de Troca de Informações Tributárias, importante medida rumo a um Tratado Bilateral sobre Tributos. E identificamos um caminho para solucionar uma disputa comercial antiga sobre o algodão, que ameaçava prejudicar nossa relação comercial. Enquanto fazíamos tudo isso, trabalhamos também juntos na coordenação da resposta internacional ao terremoto no Haiti, tanto em solo haitiano quanto na ONU, durante a preparação para a Conferência de Doadores.


Esse desempenho é histórico e ressalta o compromisso dos dois países com as nossas relações.


CONSTRUINDO UMA PARCERIA PARA O SÉCULO VINTE E UM


Os passos adotados por ambos países para expandir e melhorar suas relações são uma indicação clara de que Estados Unidos e Brasil estão criando, de maneira consciente e sistemática, uma parceria desenhada para responder aos desafios especiais do Século Vinte e Um.


No entanto, para que esta parceria continue crescendo de maneira bem sucedida, deverá se moldar segundo alguns princípios fundamentais:


Primeiramente, esta deve ser uma parceria baseada em fatos.


Ideologia e retórica não são mais as ferramentas adequadas para compreender a realidade do mundo em que vivemos, muito menos para definir nosso compromisso ou nossa cooperação. Precisamos de entendimentos comuns. E isto exigirá uma maior troca de informações, mais transparência e o respeito provenientes da atenção que dispensamos às nossas necessidades e nossos interesses.


Em segundo lugar, deve ser uma parceria dedicada a resultados.


Não podemos nos deixar atrair por processos ou procedimentos. A eficácia de nossa parceria precisa ser medida pelo que ela alcança. Isso é especialmente importante num mundo em constante mudança. Diferentemente de nossos ancestrais, não podemos esperar a criação, seja por acordos ou guerras, de uma ordem mundial definida pela manutenção do 
status quo ou pela tranquilidade. Nós sempre estaremos nos ajustando a novos desafios, e nossa confiança mútua crescerá enquanto desenvolvemos maneiras práticas e efetivas para enfrentar estes desafios.

Em terceiro lugar, esta parceria precisa ser baseada em interesses e valores comuns.


Apesar das histórias diferentes de nossos países, compartilhamos os mesmos valores políticos e compreensões econômicas. Ambos temos um profundo compromisso com a democracia, com as liberdades individuais e com a tolerância, valores que definem nossas sociedades abertas. Nós estamos comprometidos com a economia de mercado, com a integração econômica regional, e com o crescimento econômico através do comércio. Também estamos comprometidos a dar a nossos cidadãos segurança, educação e saúde, elementos necessários para que aproveitem integralmente as oportunidades econômicas. 


Nesse sentido, compreendemos que nosso objetivo comum não é defender ou preservar o presente, nem resgatar o passado, mas criar constantemente um futuro no qual nossos povos possam prosperar. 


E finalmente, deve ser uma parceria que consiga lidar com as diferenças.


Intimidade, em qualquer relacionamento, não representa ausência de questionamentos. Significa uma percepção ou compreensão mútua que se sobrepõe às diferenças. A maneira com a qual lidamos com as diferenças é importante, mas o mais importante é como nossas parcerias são construídas.


Hans Morgenthau, o pai intelectual do realismo norte-americano, escreveu que grandes nações não compreendem a si próprias nem seus desafios apenas em termos de competição com outros países. Em vez disso, grandes nações são criadas a partir da consciência de suas falhas e da compreensão de sua finalidade. Quanto melhor os Estados Unidos e o Brasil compreenderem os interesses comuns e os valores que os ligam, tanto melhor conseguirão administrar suas diferenças.


MANTENDO OS SERES HUMANOS COMO FOCO


A Parceria para o Século Vinte e Um que Brasil e Estados Unidos estão construindo possui valores óbvios para ambos países. No entanto, ela também tem um valor para nosso hemisfério e para o mundo. 


Criar prosperidade através de uma forte relação comercial; aumentar a segurança dos nossos cidadãos ao enfrentar a ameaça dos crimes internacionais, terrorismo e proliferação de armas; melhorar o bem-estar humano através de segurança alimentar e energética; promover a dignidade ao superar o racismo e a discriminação de gêneros; e estender o desenvolvimento da democracia no continente africano através de programas colaborativos de ajuda são frentes em que Brasil e Estados Unidos estão trabalhando hoje. Estamos criando bens públicos internacionais através de nossa diplomacia. E estamos reconhecendo que a eficiência de nossa diplomacia depende de sua capacidade de atingir pessoas de verdade e mudar suas vidas.


Vivemos num mundo em que, pela primeira vez, os povos de maneira geral emergiram como protagonistas e atores e não são mais relegados a meros sujeitos da história. Nossa diplomacia compreende isto, e procura ser relevante ao agregar conteúdo social à nossa cooperação e colaboração. Nesse sentido, nós estamos dedicados a manter os seres humanos completamente sob nosso foco, enquanto conduzimos nossa parceria.


Ao buscarmos resgatar a vitalidade e o propósito de nosso diálogo e esforços comuns, deparamo-nos com uma realidade maior. Encontramo-nos num momento crucial. Podemos voltar ao mundo que conhecemos, ou podemos avançar se nos abrirmos de maneira consciente a algo novo. Nossa diplomacia pode ser mais do mesmo, ou pode ser um ato de dignidade, compreensão e transformação.


Darcy Ribeiro escreveu uma vez que as criações de Brasília eram “conquistas humanas” manifestadas na “...construção de Brasília, na arquitetura de Niemeyer, na música de Villa-Lobos, na pintura de Portinari, na poesia de Drummond, e nos romances de Guimarães Rosa.” Minha esperança é que o Brasil possa acrescentar sua diplomacia com os Estados Unidos a esta lista.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".