SERRA x DILMA
Nivaldo Cordeiro
11 de abril de 2010
Os primeiros movimentos da campanha eleitoral têm me surpreendido. O candidato Serra tem se mostrado muito habilidoso com as palavras e na costura política. Sua tarefa principal tem sido colocar a seu lado o governador Aécio Neves e parece ter sido bem sucedido no intento até agora.
O ponto mais positivo de José Serra tem sido o fato de destinar seu discurso à sociedade em geral. Tem trabalhado de forma competente os formadores de opinião. Tem dado brilho de estadista ao que diz. Tão notável tem sido o discurso que até mesmo os jornais alinhados com o PT, como o Estadão, estão dando-lhe ressonância positiva. Resta saber se esse apoio se manterá ao longo da campanha.
Dilma adotou um discurso oposto, juntamente com seu padrinho Lula. Tem feito um discurso dirigido aos cabos eleitorais, ao partido e aos burocratas do governo a ele ligados. Discurso redundante e inútil para comover o público em geral. Na verdade, esse tem sido o roteiro de todas as campanhas do PT, com exceção daquela de 2002, quando surpreendeu o Brasil com a famosa Carta ao Povo Brasileiro. Este documento, na prática, aboliu todas as promessas do partido e destinou-se ao público formador de opinião e às elites em geral.
Parece não haver espaço para movimento semelhante agora, até porque os dois últimos anos do governo Lula têm revelado a verdadeira face do PT, o seu radicalismo revolucionário. As conferências nacionais, como a recém feita sobre Educação e a famigerada dos Direito Humanos, colocaram o eleitorado em alerta contra o potencial de radicalização.
A popularidade de Lula não lhe dá carta branca para fazer o que bem entender no poder. É perceptível o abuso que tem sido cometido nas finanças públicas, especialmente com as decisões sobre o salário mínimo e os reajustes da Previdência Social e dos salários do funcionalismo. Os primeiros sintomas do descontrole inflacionário já aparecerem e Lula está diante do difícil dilema de tomar decisões para proteger a moeda, fato hostilizado pelo PT (aumento dos juros e contenção dos gastos), ou deixar correr frouxo e contentar segmentos beneficiados pela irresponsabilidade fiscal.
A próxima reunião do COPOM será o Rubicão do PT: o que for decidido sinalizará que a campanha vai manter seu discurso para dentro da legenda ou para a opinião pública em geral, voltada para os interesses gerais da nação.
José Serra tem portanto duas grandes vantagens até agora em relação à Dilma: um forte candidato ao governo do estado de São Paulo, que de antemão lhe garante grande vantagem no maior colégio eleitoral, e um discurso afinado com os formadores de opinião. Se conseguir a lealdade de Aécio Neves poderá marchar vitorioso no pleito.
A força da Dilma é a sua fraqueza. Está presa no discurso estreito do radicalismo esquerdista. Seus estrategistas de campanha estão em uma sinuca, porque devem saber que essa estreiteza tira as chances da eleição, mas como convencer a cúpula a perder um pouco da arrogância?
Em resumo, o ritmo da campanha até agora aponta que a largada foi amplamente favorável ao candidato do PSDB e que a fragilidade do PT em São Paulo e provavelmente em Minas fará a diferença no pleito majoritário. O PT poderá ser vítima de sua própria arrogância.
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