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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mentirosos! Cantalamessa NÃO comparou anti-semitismo com perseguição à Igreja

DEMÉTRIUS SURDI

DOMINGO, 11 DE ABRIL DE 2010



Manchetes correram o mundo na semana passada dizendo que o Fr. Raniero Cantalamessa comparou as acusações contra o Papa e à Igreja, em casos de pedofilia, com o anti-semitismo (a perseguição aos judeus). A idéia propagada aos quatro ventos foi essa mesma: assim como a violenta perseguição que resultou no assassinato de mais de 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial, a Igreja agora sofre da mesma forma como no anti-semitismo ao ser “perseguida” e acusada violentamente como envolvida em “milhares” de escândalos de abusos sexuais de menores.

Segundo também a repercussão dos jornais, a comparação que Cantalamessa fez (não fez!, explico adiante) foi desproporcional, descabida, inapropriada, fora de contexto, entre outros adjetivos. Imagine, tentar equivaler o massacre de milhões com acusações contra a Igreja! Absurdo! Essa foi a idéia disseminada em muitos jornais, que aproveitaram a deixa para malhar a instituição Católica.

Na verdade, o que foi feito pelas centenas de jornais de meio mundo foi reproduzir a informação passada pelas poucas grandes agências de notícias que existem, estas poucas responsáveis por encaminhar para seus associados todas as principais notícias do mundo. Essas agências possuem uma responsabilidade poderosíssima, pois são elas que controlam as informações, e por extensão, controlam as notícias que lhes são convenientes, controlando a opinião da sociedade mundial.  

No caso específico, as fontes de todas as notícias que vocês encontram nos principais jornais brasileiros, o G1, Estadão, Folha, e nos portais Terra, IG, entre outros, que reproduziram o ocorrido na pregação do Fr. Cantalamessa, não variam muito entre a AFP - Agence France-Presse, a EFE e a BBC.

Pois bem, lá vou eu sem medo apresentando as fontes primárias: todos esses jornais (inclusive os coitados brasileiros) MENTIRAM. Pecaram pelo erro de repassar adiante, sem sequer consultar a fonte primária (o próprio sermão), uma informação falsa que fora moldada pelas agências citadas. Foi sistemático. Mas o que ocorreu verdadeiramente? Vamos explicar. 

O Fr. Raniero Cantalamessa é o Pregador da Casa Pontifícia desde 1980, e, como tal, é o responsável por proferir sermões durante as semanas da Quaresma e do Advento. É o único autorizado a pregar para o Papa. Vai daí que, na sexta-feira Santa (2 de abril), exerceu sua função na Basílica de S. Pedro. Basicamente o tema tratado foi a violência, mais especificamente aquela cometida contra a mulher. Após a primeira parte, que poderei chamar de uma “introdução” para a mensagem pretendida, Cantalamessa disse que:

(...) o sacrifício de Cristo contém uma mensagem formidável para o mundo de hoje. Grita para o mundo que a violência é um resíduo arcaico, uma regressão a estágios primitivos e superados da história humana e, em se tratando de crentes, um retardamento censurável e escandaloso frente à tomada de consciência do salto de qualidade operado por Cristo.

À certa altura da pregação, chegou ao ponto desejado para poder desenvolver a idéia do dia:


Mas há uma violência ainda mais grave e disseminada do que esta dos jovens nos estádios e nas ruas. Não me refiro àquela violência dirigida às crianças, com a qual estão manchados até mesmo elementos do clero; sobre essa violência já se fala suficientemente em outros âmbitos. Falo da violência contra a mulher.

O grifo é meu. Nesse trecho está bem claro (no que posteriormente foi ignorado pelos jornais) que a mensagem pretendida era falar sobre a violência contra a mulher, e de modo algum discursar sobre os casos de abusos sexuais – não era a ordem do dia.  

Uma pequena digressão. Os jornais, que ficaram tão bitolados com essa bandeira dos casos de pedofilia, pensam que “violência contra a Igreja” traduz-se somente em acusações de abusos sexuais cometidos por alguns clérigos. Há muitas outras formas de violentar a Igreja, maculando-a injustamente através de inúmeros argumentos infundados com o objetivo de desmoralizá-la a fim de derrubá-la. Há muito argumento e pensamento equivocado utilizado por pessoas que não tem o mínimo conhecimento da instituição Católica, de como ela funciona e no que ela se baseia, de modo que sem estudar ou ler fontes primárias, uma porção de gente critica a Igreja com base em informações “ouvidas”, ou seja, “que ouviram falar”. Essa é a maldita idéia, bastante cultivada no Brasil, de que todo mundo tem que ter opinião formada sobre todos os assuntos, sendo que é impossível uma coisa dessas! Desse modo, o sujeito escuta uma notícia bastante repetida e acha que aquilo é verdade, daí adota e repete-a como papagaio, sem no mínimo refletir sobre o assunto, sem sequer conferir de perto as verdades. Termino a digressão.  

Mas com essa bandeira em mãos, essa “viseira de cavalo”, as agências interpretaram o seguinte trecho que gerou a polêmica como uma associação que Cantalamessa estava utilizando-se para defender a Igreja dos ataques sobre os casos de pedofilia. Leiam:

Por uma rara coincidência, neste ano nossa Páscoa cai na mesma semana da Páscoa judaica, que é a matriz na qual esta se constituiu. Isso nos estimula a voltar nosso pensamento aos nossos irmãos judeus. Estes sabem por experiência própria o que significa ser vítima da violência coletiva e também estão aptos a reconhecer os sintomas recorrentes. Recebi nestes dias uma carta de um amigo judeu e, com sua permissão, compartilho um trecho convosco. Dizia:

“Tenho acompanhado com desgosto o ataque violento e concêntrico contra a Igreja, o Papa e todos os féis do mundo inteiro. O recurso ao estereótipo, a passagem da responsabilidade pessoal para a coletividade me lembram os aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo. Desejo, portanto, expressar à ti pessoalmente, ao Papa e à toda Igreja minha solidariedade de judeu do diálogo e de todos aqueles que no mundo hebraico (e são muitos) compartilham destes sentimentos de fraternidade. A nossa Páscoa e a vossa têm indubitáveis elementos de alteridade, mas ambas vivem na esperança messiânica que seguramente reunirá no amor do Pai comum. Felicidades a ti e a todos os católicos e Boa Páscoa”.

Vejam aí que NÃO são palavras de Cantalamessa, muito menos a posição do Papa ou do Vaticano – como deram a entender todos os jornais –, foram palavras lidas de uma carta escrita por um seu amigo judeu. Era a comparação de um judeu, falando com base na experiência de seu próprio povo. E, novamente, a comparação diz respeito ao “ataque violento” que a Igreja vem sofrendo – e isso não se restringe somente aos escândalos de pedofilia, que também fazem parte. Percebam como é sutil a diferença. Para que fique registrado, algumas manchetes:

Pregador da Casa Papal revolta judeus contra Igreja Católica 


Os jornalistas piraram! É preciso dizer que NÃO foi o Vaticano que fez a comparação? A loucura que as agências promoveram, essa campanha, diria assim, “subliminar”, repercutiu em outros blogs. O Edgard Freitas, do blog Festival de Besteiras que Assola o Direito, sabiamente comentou:

Mais a mais, este episódio é uma confirmação do que foi dito na tal carta. A responsabilidade individual da fala do Pe. Raniero foi transmutada para uma responsabilidade coletiva do Vaticano.

E Luciano Henrique, do Neo-Ateísmo, um Delírio, acrescentou:

Em complemento, eu adicionaria um quarto ponto, que é o fato de que, se o padre citou um amigo judeu, que o autorizou a ler a carta, nem sequer o Pe. Raniero poderia ser alvo da acusação de ter feito uma suposta comparação odiosa. Ou seja, os caras transformaram uma declaração do amigo do Pe. Raniero em uma declaração dele, e depois transformaram essa declaração em uma declaração do Vaticano. Em suma, um show de trucagens longe de qualquer princípio de ética profissional.

Para vocês verem como logicamente, e através da busca pelas fontes primárias – coisa que todo jornalista deveria fazer –, é possível comprovar que todos esses jornalistas estão compactuando com a mentira, não estão compromissados com a verdadeira informação, e que essas agências são perigosas porque possuem interesses escusos e relações suspeitas. Nós, como meros blogueiros, indivíduos que buscam nada mais do que a Verdade e procuram dar os méritos aos justos, podemos ter muito mais credibilidade e sermos muito mais honestos do que grandes corporações que, quase que obrigatoriamente ou por necessidade, acabam mantendo relações de interesse perverso que nem sempre são do conhecimento do público. E o público, sem saber, acaba comprando a MENTIRA.

Breve esclarecimento e indicações:

Fiquei sabendo dessa informação através do site Neo-Ateísmo, Um Delírio (acima citado), que remeteu ao Festival de Besteiras (idem), que por sua vez indicou a íntegra do sermão de Cantalamessa (esse sermão está reproduzido na seção Documentos que este blog acaba de inaugurar, clicando aqui).

Pesquisando diretamente no site do Vaticano, é possível ler o sermão em italiano, aqui.


Editado em 11 de abril, às 23h20min: Nada melhor do que ler o que o próprio Cantalamessa explicou posteriormente a respeito do ocorrido. Cliquem neste link para conferir.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".