Terrorista louva como bravos vigaristas que degustaram o amargo caviar do exílio
Janer Cristaldo - 13 de abril de 2010
Como os leitores devem ter notado, evito falar em política nacional. Suja muito as mãos. Faz uns bons vinte anos que não voto e não serão estes três ilustres vigaristas que agora se apresentam como candidatos à Presidência que me farão mudar de idéia. Se alguém me perguntar qual deles mente mais, não saberia responder. Há, no entanto, certas declarações dos candidatos desejosos de poder que merecem algumas considerações.
A imprensa flagrou a terrorista Dilma Rousseff em uma gafe das boas. Tentando acusar o também terrorista Serra, seu opositor, andou dizendo: "Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta". Em meio ao entusiasmo do verbo, não notou que ofendia todos os antigos terroristas que um dia se exilaram e hoje ocupam importantes cargos no governo. Ao tentar remendar, a emenda foi pior que o soneto: “De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros. Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar". E caracterizou como má-fé da imprensa a reprodução do que disse com todas as letras.
Escrevi terrorista, quando almas ingênuas preferem ex-terrorista. Ora, Dilma nunca renegou seu passado de terrorista. Pelo contrário, o reafirma: “Em cada época da minha vida eu fiz o que fiz porque acreditei no que fazia", disse. Até hoje não disse ter renegado sua militância nas organizações terroristas Colina e VAR Palmares. Pelo contrário, discretamente se orgulha de seu passado como facínora. O orgulho de seu passado como facínora faz parte de sua campanha. Portanto, terrorista e não ex-terrorista.
Mas o problema nem é este. E sim sua desculpa esfarrapada: “Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar”. Nem mesmo esta frase, mas duas palavrinhas, “corajosos e valorosos”. Salvo alguns gatos pingados, exilado algum foi para os países onde imperava a ideologia que defendiam. Alguns foram para Cuba, é verdade, era o consulado mais a mão para uma fuga. Mas a maioria foi para as prestigiosas capitais do Ocidente capitalista, Estocolmo, Berlim, Paris, Londres. Buscaram refúgio junto ao conforto do regime que combatiam.
Conheci essa escória em meus dias de Europa. Encontrei-os em 72, em Estocolmo, e no final dos anos 70, em Paris. Na Suécia, certa vez tropecei com um deles, em uma palestra na ABF (Arbetarnas Bildningsförbund), uma espécie de sindicato da social-democracia. Não lembro agora o nome. Talvez fosse o Gabeira, talvez fosse um certo Rabeira. Posava como guerrilheiro e se hospedava no exclusivíssimo Grand Hotel, o mais prestigioso cinco estrelas de Estocolmo. No salão da ABF, ante uma platéia de suecos deslumbrados, deitava falação sobre a revolução. No Brasil, é claro.
- O povo está nas ruas. O exército está acuado. A revolução é para amanhã.
Aplausos prolongados da suecalhada. O debate era feito com bilhetes. Mandei um para o revolucionário: “Estou chegando do Brasil. Sim, vi o povo nas ruas. Não para fazer a revolução, mas para torcer pela Copa. Como tu te sentes, hospedado no melhor cinco estrelas da Suécia, financiado pela social-democracia sueca, enquanto teus companheiros sofrem prisão e tortura no Brasil?”
Meu bilhete pulava de mão em mão, como brasa quente, entre os componentes da mesa. Cansei de esperar, fui embora. Soube mais tarde, por outros brasileiros, que o bilhete finalmente foi lido. Queriam saber quem o havia escrito. Ora, eu já fora embora. O bravo guerrilheiro aproveitou para comprovar sua situação de perseguido. Que se tratava certamente de um agente do SNI, que o perseguia por toda a Europa. Assim fosse. Para persegui-lo de perto, eu teria de hospedar-me nos melhores cinco estrelas da Europa.
No final dos 70, tropecei com esta canalha de novo, desta vez em Paris. Boa parte deles estava aboletada na Maison du Brésil, residência universitária na qual um brasileiro precisava apresentar atestado de ideologia para lá residir. Outra parte estava encostada no ingênuo e benevolente Estado francês, ou em alguma francesa, também benevolente e ingênua. Eu estava lá em agosto de 79, quando aos apparatchiks tupiniquins se preparavam para assistir um congresso em Roma, em favor da anistia.
Dia 28 de agosto, pânico nas hostes esquerdistas. O presidente Figueiredo sancionara a Lei nº 6.683, de iniciativa do governo, que decretava a anistia. Perplexidade entre os bravos guerrilheiros. Mentira! Não pode ser. É jogada da direita.
Não era. E a turma toda que vivia de benefícios do Estado francês, ou escorados nalguma francesa terceiro-mundista, teve de largar o bem-bom. Estes são os “corajosos e valorosos” que a candidata terrorista louva, tentando consertar sua gafe. Nenhum deles foi para países socialistas, onde imperava o regime que defendiam para o Brasil. Todos degustaram o amargo caviar do exílio.
Perdão, leitor. Hoje me senti obrigado a enfiar a mão no escatol.
A imprensa flagrou a terrorista Dilma Rousseff em uma gafe das boas. Tentando acusar o também terrorista Serra, seu opositor, andou dizendo: "Eu não fujo da situação quando ela fica difícil. Eu não tenho medo da luta". Em meio ao entusiasmo do verbo, não notou que ofendia todos os antigos terroristas que um dia se exilaram e hoje ocupam importantes cargos no governo. Ao tentar remendar, a emenda foi pior que o soneto: “De onde tiraram que fugir da luta é se exilar? O exílio significou a diferença entre a vida e a morte para os exilados brasileiros. Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar". E caracterizou como má-fé da imprensa a reprodução do que disse com todas as letras.
Escrevi terrorista, quando almas ingênuas preferem ex-terrorista. Ora, Dilma nunca renegou seu passado de terrorista. Pelo contrário, o reafirma: “Em cada época da minha vida eu fiz o que fiz porque acreditei no que fazia", disse. Até hoje não disse ter renegado sua militância nas organizações terroristas Colina e VAR Palmares. Pelo contrário, discretamente se orgulha de seu passado como facínora. O orgulho de seu passado como facínora faz parte de sua campanha. Portanto, terrorista e não ex-terrorista.
Mas o problema nem é este. E sim sua desculpa esfarrapada: “Grandes amigos meus, corajosos e valorosos, só tiveram uma saída na ditadura, se exilar”. Nem mesmo esta frase, mas duas palavrinhas, “corajosos e valorosos”. Salvo alguns gatos pingados, exilado algum foi para os países onde imperava a ideologia que defendiam. Alguns foram para Cuba, é verdade, era o consulado mais a mão para uma fuga. Mas a maioria foi para as prestigiosas capitais do Ocidente capitalista, Estocolmo, Berlim, Paris, Londres. Buscaram refúgio junto ao conforto do regime que combatiam.
Conheci essa escória em meus dias de Europa. Encontrei-os em 72, em Estocolmo, e no final dos anos 70, em Paris. Na Suécia, certa vez tropecei com um deles, em uma palestra na ABF (Arbetarnas Bildningsförbund), uma espécie de sindicato da social-democracia. Não lembro agora o nome. Talvez fosse o Gabeira, talvez fosse um certo Rabeira. Posava como guerrilheiro e se hospedava no exclusivíssimo Grand Hotel, o mais prestigioso cinco estrelas de Estocolmo. No salão da ABF, ante uma platéia de suecos deslumbrados, deitava falação sobre a revolução. No Brasil, é claro.
- O povo está nas ruas. O exército está acuado. A revolução é para amanhã.
Aplausos prolongados da suecalhada. O debate era feito com bilhetes. Mandei um para o revolucionário: “Estou chegando do Brasil. Sim, vi o povo nas ruas. Não para fazer a revolução, mas para torcer pela Copa. Como tu te sentes, hospedado no melhor cinco estrelas da Suécia, financiado pela social-democracia sueca, enquanto teus companheiros sofrem prisão e tortura no Brasil?”
Meu bilhete pulava de mão em mão, como brasa quente, entre os componentes da mesa. Cansei de esperar, fui embora. Soube mais tarde, por outros brasileiros, que o bilhete finalmente foi lido. Queriam saber quem o havia escrito. Ora, eu já fora embora. O bravo guerrilheiro aproveitou para comprovar sua situação de perseguido. Que se tratava certamente de um agente do SNI, que o perseguia por toda a Europa. Assim fosse. Para persegui-lo de perto, eu teria de hospedar-me nos melhores cinco estrelas da Europa.
No final dos 70, tropecei com esta canalha de novo, desta vez em Paris. Boa parte deles estava aboletada na Maison du Brésil, residência universitária na qual um brasileiro precisava apresentar atestado de ideologia para lá residir. Outra parte estava encostada no ingênuo e benevolente Estado francês, ou em alguma francesa, também benevolente e ingênua. Eu estava lá em agosto de 79, quando aos apparatchiks tupiniquins se preparavam para assistir um congresso em Roma, em favor da anistia.
Dia 28 de agosto, pânico nas hostes esquerdistas. O presidente Figueiredo sancionara a Lei nº 6.683, de iniciativa do governo, que decretava a anistia. Perplexidade entre os bravos guerrilheiros. Mentira! Não pode ser. É jogada da direita.
Não era. E a turma toda que vivia de benefícios do Estado francês, ou escorados nalguma francesa terceiro-mundista, teve de largar o bem-bom. Estes são os “corajosos e valorosos” que a candidata terrorista louva, tentando consertar sua gafe. Nenhum deles foi para países socialistas, onde imperava o regime que defendiam para o Brasil. Todos degustaram o amargo caviar do exílio.
Perdão, leitor. Hoje me senti obrigado a enfiar a mão no escatol.
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