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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Quando Israel desafiou Washington

MÍDIA SEM MÁSCARA

"Que tipo de termo é esse - "punir Israel"? Nós somos seus vassalos? Somos uma república de bananas? Somos jovens de quatorze anos que, se não se comportarem adequadamente, será aplicada a palmatória? Deixe me informá-lo por quem esse governo é formado".

À medida que as tensões entre os Estados Unidos e Israel escalam a alturas acima dos padrões corriqueiros, lembram uma rodada anterior de tensões ocorrida há cerca de trinta anos, quando Menachem Begin e Ronald Reagan estavam no governo. Diferente das repetidas desculpas de Benjamin Netanyahu, Begin adotou outro tipo de abordagem. A série de acontecimentos começou com uma declaração do ditador sírio Hafez al-Assad de que ele não faria paz com Israel "nem mesmo em cem anos", Begin respondeu anexando as Colinas de Golã, pondo fim à administração militar que governava o território desde a época em que as forças israelenses tomaram-na da Síria em 1967. A 
legislação com esse objetivo passou facilmente no parlamento israelense em 14 de dezembro de 1981.

Contudo, essa medida foi tomada apenas duas semanas após a assinatura de um 
Acordo de Cooperação Estratégica, Estados Unidos - Israel, despertando muita irritação em Washington. De acordo com a iniciativa do Secretário de Estado Alexander Haig, o governo americano suspendeu o acordo recém assinado. Um dia depois, em 20 de dezembro, Begin convocou Samuel Lewis, embaixador dos Estados Unidos em Tel Aviv, para uma repreensão.

Yehuda Avner, ex-assistente de Begin, apresenta o clima e o comentário sobre esse episódio em "
Quando Washington se irritou e Begin se enfureceu." Em seu reconto, "O primeiro ministro convidou Lewis a se sentar, enrijecido, sentou-se, apanhou uma pilha de papéis em uma mesa ao seu lado, colocou-a em seu colo e [assumiu] uma expressão de pedra e uma voz de aço". Begin começou com "uma tonitruante recitação das perfídias perpetradas pela Síria através das décadas". Ele terminou com o que chama de "uma mensagem muito pessoal e urgente" ao Presidente Reagan (disponível no Web site do Ministério das Relações Exteriores de Israel).

"Três vezes durante os últimos seis meses, O Governo dos Estados Unidos "puniu" Israel", disse Begin. Ele enumerou as três ocasiões: a destruição do reator nuclear iraquiano, o bombardeio do quartel general da OLP em Beirute e agora com a lei das Colinas de Golã. No decorrer da exposição, de acordo com Avner, Lewis interrompeu, mas sem sucesso: "Não é punição ao senhor, Sr. Primeiro Ministro, simplesmente a suspensão...," "Desculpe-me , Sr. Primeiro Ministro, não se trata ...," "Sr. Primeiro Ministro, eu preciso corrigi-lo...," e "Isso não é uma punição, Sr. Primeiro Ministro, é simplesmente uma suspensão até..."

Preparado para dar vazão a sua raiva, Begin inspirou-se em um século de sionismo:

Que tipo de termo é esse - "punir Israel"? Nós somos seus vassalos? Somos uma república de bananas? Somos jovens de quatorze anos que, se não se comportarem adequadamente, será aplicada a palmatória? Deixe me informá-lo por quem esse governo é formado. É composto por pessoas que passaram a vida na resistência, lutando e sofrendo. O senhor não irá nos amedrontar com "punições". Aquele que nos ameaça verá que não damos ouvidos as suas ameaças. Estamos preparados apenas a ouvir argumentos racionais. Vocês não têm o direito de "punir" Israel - e eu protesto pelo simples uso desse termo.

No seu mais ardente ataque aos Estados Unidos, Begin contestou a atitude moralista dos americanos a respeito de vitimas civis durante o ataque israelense a Beirute:

"
Vocês não têm direito moral de nos fazer pregação sobre vítimas civis. Nós lemos a história da Segunda Guerra Mundial e nós sabemos o que acontecia aos civis quando vocês agiam contra um inimigo. Nós também lemos a história da guerra do Vietnã e a sua frase "contagem de corpos".

Referindo-se a decisão dos americanos de suspender o acordo assinado recentemente, Begin anunciou que "O povo de Israel viveu 3700 anos sem um memorando de entendimento com os Estados Unidos - e continuará a viver por outros 3700". Em um nível mais mundano, ele citou que Haig havia declarado, em nome de Reagan, que o governo dos Estados Unidos iria comprar armas israelenses no valor de US$ 200 milhões e outros equipamentos. "Agora você diz que não será mais assim. Isso por conseguinte é uma violação da palavra do presidente. Isso é costumeiro? Isso é correto?"

Lembrando a recente disputa no senado americano sobre a decisão de vender aviões AWACS à Arábia Saudita, Begin observou que "ela foi acompanhada por uma vergonhosa campanha de antisemitismo". A título de ilustração, ele mencionou três peculiaridades: os slogans "Begin ou Reagan?" e "Nós não podemos deixar os judeus decidirem a política externa dos Estados Unidos", e ainda calúnias de que senadores como Henry Jackson, Edward Kennedy, Robert Packwood e Rudy Boschwitz "não são cidadãos leais".

Respondendo às exigências de que a lei das Colinas de Golã seja rescindida, Begin invocou o sentido de rescisão propriamente dito aos "dias da Inquisição" e lembrou a Lewis que

Nossos ancestrais preferiam ser queimados vivos a "rescindirem" a sua crença. Nós não seremos queimados vivos. Graças a Deus. Nós temos força suficiente para defender nossa independência e defender nossos direitos. ... tenha a gentileza de informar ao secretário de estado que a Lei das Colinas de Golã permanecerá válida. Não há força sobre a face da terra que trará a sua rescisão.

A sessão acabou sem que Lewis respondesse. Conforme reconta Avner, "Frente a esse bombardeio inflexível, que para o embaixador parecia um tanto hiperbólico e, em parte, até paranóico, não vendo razão em continuar, deixou o recinto".

Comentários
:

(1) O fim de 1981 marcou o ponto mais baixo nas 
relações Estados Unidos - Israel durante a administração Reagan. De maneira especial, a cooperação estratégica avançou nos anos subsequentes.

(2) O Web site do Ministério qualifica a explosão de Begin "uma atitude sem precedentes"; à qual eu acrescento, não foi apenas sem precedentes, mas também jamais repetida.

(3) A acepção de destino de Begin, combinada a sua grandeza de oratória impulsionou-o a responder às diferenças políticas atuais invocando 3700 anos de história judaica, a Inquisição, a Guerra do Vietnã e o antisemitismo americano. No processo, ele mudou os termos da argumentação.

(4) Apesar da forte ofensa americana para com Begin, seu furioso ataque aumentou o orgulho e posicionamento israelense.

(5) Os políticos em outros países atacam os Estados Unidos com muita frequência. Na realidade, 
Hamid Karzai, presidente do Afeganistão o fez na semana passada. Mas o objetivo dele - de convencer seus compatriotas de que ele não é, de fato, um líder que desfruta da sua posição devido ao apoio externo - difere fundamentalmente da asserção da dignidade de Israel por parte de Begin.

(6) É difícil imaginar que outro político israelense, inclusive Benjamin Natanyahu, ousaria levar a cabo a agressão verbal de Begin.

(7) No entanto, é possível que seja exatamente isso que Israel esteja precisando.

Atualização de 6 de abril de 2009
:


O leitor, Charles Gruenspan, salienta que 
Ariel Sharon ecoou de maneira distante a conversa da "república de bananas" de Begin em 4 de setembro de 2001, quando da sua declaração "Tchecoslováquia":

Hoje Israel sofreu outro monstruoso ataque terrorista palestino, que nos custou muito caro - três mortos e sete feridos. Todos os esforços de se alcançar um cessar fogo foram torpedeados pelos palestinos. O fogo não parou, nem por um dia sequer.

O Gabinete então instruiu nossas forças de segurança para tomarem todas as medidas necessárias a fim de estabelecer total segurança aos cidadãos de Israel. Podemos confiar apenas em nós mesmos.

Estamos no momento no meio de uma campanha diplomática difícil e complexa, eu conclamo as democracias ocidentais e principalmente o líder do Mundo Livre - os Estados Unidos: Não repitam o terrível erro de 1938, quando as evoluídas democracias européias decidiram sacrificar a Tchecoslováquia por uma "solução temporária conveniente". Não tentem aplacar os árabes às nossas custas - isso é inaceitável para nós.

Israel não será a Tchecoslováquia. Israel irá combater o terrorismo.

Publicado originalmente em FrontPageMagazine.com.
Original em inglês: 
When Israel Stood Up to Washington

Tradução: Joseph Skilnik

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".