08/09/2008
Os jornais de hoje anunciaram que o Tesouro norte-americano vai injetar US$ 200 bilhões para garantir hipotecas de bancos quebrados, a pretexto de proteger a economia. É sempre assim, a cada instante de perigo trazido pela existência o Estado, arvorando-se uma suposta razão científica em Economia, estende suas garras ameaçadoras, a pretexto de eliminar os perigos sistêmicos. O único perigo sistêmico é próprio Estado, que no momento representa o máximo perigo para humanidade, em escala global. Devora o mais precioso dos bens: a liberdade.
Essa decisão coroa um processo de agigantamento estatal nos EUA que se prolonga desde o início do século XX – sempre para sua proteção (do pagador de impostos de lá) – e episodicamente interrompido pelo governo Reagan que, no entanto, não logrou revertê-lo. Mesmo as administrações dos Bush pai e filho o processo de alargou. O fato é que a economia norte-americana vive a falsa prosperidade financiada pela inflação e a crise das hipotecas é apenas o início de um ajuste necessário. Ao intervir diretamente, impedindo a quebra das instituições o Tesouro legará como saldo desse processo tão somente o adiamento do ajuste. Entretanto, o ogro estatal resultará mais forte e mais ameaçador.
Veja, caro leitor, que nenhum instrumento político delegou tal poder de intervenção. Essa é uma ação voluntarista da burocracia estatal, obviamente apoiada pelo estamento político, interessado em realizar negócios e transferir grandes estoques de riquezas para suas esferas de influência. O processo é muito parecido com o que vimos por aqui, com o Proer. Bem sabemos o custo dessa engenharia financeira: alguns pontos percentuais de elevação da participação da carga tributária no PIB, em caráter permanente e dificilmente reversível. A liberdade desapareceu entre nós na mesma proporção, devendo acontecer o mesmo nas terras do Tio Sam.
Essa é a grande mentira, a de que o Estado pode ser capaz de eliminar os riscos inerentes à existência. Quer sanar todos, dos riscos do tabaco aos do porte de arma de defesa pessoal e acaba por ser ele, o Estado, o grande risco. Nos EUA a chance de um homem negro, por exemplo, tornar-se um prisioneiro das masmorras estatais é altíssimo. Na verdade, de qualquer homem. Para proteger os homens dos riscos da existência o sistema legal está se tornando uma gigantesca prisão, que se torna literal para um número cada vez maior de pessoas.
Nenhuma proteção pode ser dada pelo Estado que não seja temporária e artificial. Toda proteção estatal é privilégio moralmente insustentável. Manter bancos falidos como se estivessem em boa situação financeira é um erro. Manter valorizadas hipotecas insolventes também. Investir é antes de tudo um ato de assumir riscos e toda gente sabe disso. E o risco torna-se sempre fatalidade para alguns. O Estado não pode eliminar essa realidade imediata.
A conclusão é que mesmo o país que tem sido referência mundial em matéria de práticas liberais nega essa condição, a cada dia que passa. Tornou-e o paraíso do politicamente correto, uma nação policialesca que nega aos seus próprios cidadãos a espontaneidade tão vital como a alegria de viver. É um fenômeno universal, a Europa já está assim de há muito e o Brasil também.
O Estado não tem os meios para eliminar os riscos vitais, sejam eles de que ordem forem, desde um esquadrão suicida islâmico até um crise econômica conjuntural. Viver é correr perigo, viver é muito perigoso. Acreditar que essa realidade imediata possa ser modificada pelos burocratas estatais é completa loucura. Está sendo dado mais um passo na direção do coletivismo no país que deveria dar o exemplo na direção contrária. Algo a se lamentar profundamente.
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