direitadadireita | 10 de dezembro de 2010
Filmado na cidade de Auschwitz, após a segunda guerre mundial, ressalta através das imagens todo o horror espalhado pelos campos de concentração nazistas.
O FILME:
Uma década após o fim da Segunda Guerra, a pedido do Comitê da História da Segunda Guerra Mundial, o cineasta francês Alain Resnais realizou o documentário "Noite e Neblina", sobre os campos de concentração nazistas.
Em dias de "Holocausto-negação"onde pretende-se a obliteração da consciência e a clandestinidade da narrativa, o filme continua a ter em seus 31 minutos, o desafio da memória. Quando se esquece promove-se um segundo assassínio das vítimas do Holocausto. Assistir ao documentário, possibilitará, não só a referência visual dos horrores dos campos de concentração e uma boa fonte para o debate, como também, um ótimo recurso contra a amnésia dos acontecimentos históricos. O Holocausto nunca deve ser esquecido, tampouco banalizado devido a sua importância universal, e é justamente a memória viva destes acontecimentos (os monumentos, os memoriais, os museus, os livros, os filmes ...) que impedirá a volta de "estranhos carrascos", questionamento final do documentário. Além disso, a mensagem do filme não poderia ser mais oportuna para o atual contexto homofóbico, xenófobo, racista e de inúmeras intolerâncias em que vivemos.
O poeta francês Jean Cayrol, ex-prisioneiro do campo de Mauthausen, na Áustria, escreveu o texto para o documentário. Por vezes irônico, sem, no entanto, cair no denuncismo vazio, Cayrol captura a atenção do espectador de forma quase poética. Por seu turno (no outono de 1955), Alain Resnais gravou imagens coloridas dos campos poloneses de Auschuwitz-Birkenau e Majdanek.
Nelas, aparecem cenas bucólicas de "construções inofensivas", rodeadas de pântanos, aves, rolos de feno e muito verde. Na montagem da película, Resnais justapôs as cenas coloridas às imagens de arquivo em preto-e-branco, "costurando-as" com o belíssimo texto de Cayrol.
O nome do documentário foi inspirado na coletânea de poemas de Jean Cayrol "Poemes De La Nuit et Du Brouillard" ( Poemas Da Noite e Da Neblina ), de 1945. Essa expressão surge com a cena da chegada dos trens, durante a noite, sob forte neblina.Em muitas dessas noites, por falta ou excesso de nomenclatura, a SS nomeava os recém chegados apenas com: N N - "Nacht und Nebel" ( Noite e Neblina ).
As imagens de arquivo revelam a conjugação que os nazistas tentaram fazer entre a meticulosidade técnico-científica e a crueldade humana, conjugação que mais tarde Hannah Arendt (1999), em seu livro "Eichmann em Jerusalém" desvela brilhantemente na figura de Eichmann, quando nos apresenta um funcionário "exemplar" do governo Hitleriano que cumpriu e desempenhou suas atribuições com esmero e afinco. Esmero e afinco, o qual Hannah só consegue explicar a partir do conceito de "banalidade do mal". Eichmann foi uma das peças fundamentais na chamada "Solução Final". Solução inventada pelos nazistas, para resolver o que Jean Cayrol chamou de uma "Realidade desprezada pelos que a criaram...incompreensível para os que a viviam..."
Apesar da realidade incompreensível: dos portões que diziam com ironia "ARBEIT MACHT FREI" ( O Trabalho Liberta )das IG Farben com seus Zyklons B, dos ossos utilizados como fertilizantes, dos cabelos utilizados para a fabricação de tecidos e de uma passividade aparente... houve resistência! Homens e mulheres submetidos pelo regime sonhavam, escreviam, fabricavam e se organizavam, minuto a minuto, hora a hora, dia-a-dia e, o simples fato de não fenecerem simbolizava essa resistência, simbolizava a negação da condição de sub-homem imposta pelo regime. A luta por uma migalha de pão, por uma colher de sopa, por um minuto a mais de sono ou de descanso -- como testemunhou Primo Levi (1988) em seu "É Isto Um Homem"? - também foi uma forma de resistência.
Com o final da guerra e a quase inexistência de "culpados", nem Kapos, nem oficiais, nem chefes, o filme faz um alerta e um chamado à vigília:
"Quem de nós vigia neste estranho observatório para avisar da vinda de estranhos carrascos
Será que eles são diferentes de nós? Há os que não acreditavam,[...]E há nós, [...]
Nós, que fingimos que isso pertenceu a um tempo, a um país.
E que não olhamos em volta de nós...
E que não ouvimos o grito que se cala...
Ainda que o Holocausto não tenha sido uma tragédia exclusivamente dos judeus (as estimativas são de que os nazistas tenham exterminado cerca de 20 milhões de pessoas, entre elas, 6 milhões de judeus), ele foi também uma tragédia e um fato da história judaica (BAUMAN 1998, p. 12), assim, sob o ponto de vista do filme é impossível não suscitar, além da continuidade da memória, uma reflexão sobre os atuais acontecimentos beligerantes no Oriente Médio, uma vez mais, envolvendo o povo judeu.
O FILME:
Uma década após o fim da Segunda Guerra, a pedido do Comitê da História da Segunda Guerra Mundial, o cineasta francês Alain Resnais realizou o documentário "Noite e Neblina", sobre os campos de concentração nazistas.
Em dias de "Holocausto-negação"onde pretende-se a obliteração da consciência e a clandestinidade da narrativa, o filme continua a ter em seus 31 minutos, o desafio da memória. Quando se esquece promove-se um segundo assassínio das vítimas do Holocausto. Assistir ao documentário, possibilitará, não só a referência visual dos horrores dos campos de concentração e uma boa fonte para o debate, como também, um ótimo recurso contra a amnésia dos acontecimentos históricos. O Holocausto nunca deve ser esquecido, tampouco banalizado devido a sua importância universal, e é justamente a memória viva destes acontecimentos (os monumentos, os memoriais, os museus, os livros, os filmes ...) que impedirá a volta de "estranhos carrascos", questionamento final do documentário. Além disso, a mensagem do filme não poderia ser mais oportuna para o atual contexto homofóbico, xenófobo, racista e de inúmeras intolerâncias em que vivemos.
O poeta francês Jean Cayrol, ex-prisioneiro do campo de Mauthausen, na Áustria, escreveu o texto para o documentário. Por vezes irônico, sem, no entanto, cair no denuncismo vazio, Cayrol captura a atenção do espectador de forma quase poética. Por seu turno (no outono de 1955), Alain Resnais gravou imagens coloridas dos campos poloneses de Auschuwitz-Birkenau e Majdanek.
Nelas, aparecem cenas bucólicas de "construções inofensivas", rodeadas de pântanos, aves, rolos de feno e muito verde. Na montagem da película, Resnais justapôs as cenas coloridas às imagens de arquivo em preto-e-branco, "costurando-as" com o belíssimo texto de Cayrol.
O nome do documentário foi inspirado na coletânea de poemas de Jean Cayrol "Poemes De La Nuit et Du Brouillard" ( Poemas Da Noite e Da Neblina ), de 1945. Essa expressão surge com a cena da chegada dos trens, durante a noite, sob forte neblina.Em muitas dessas noites, por falta ou excesso de nomenclatura, a SS nomeava os recém chegados apenas com: N N - "Nacht und Nebel" ( Noite e Neblina ).
As imagens de arquivo revelam a conjugação que os nazistas tentaram fazer entre a meticulosidade técnico-científica e a crueldade humana, conjugação que mais tarde Hannah Arendt (1999), em seu livro "Eichmann em Jerusalém" desvela brilhantemente na figura de Eichmann, quando nos apresenta um funcionário "exemplar" do governo Hitleriano que cumpriu e desempenhou suas atribuições com esmero e afinco. Esmero e afinco, o qual Hannah só consegue explicar a partir do conceito de "banalidade do mal". Eichmann foi uma das peças fundamentais na chamada "Solução Final". Solução inventada pelos nazistas, para resolver o que Jean Cayrol chamou de uma "Realidade desprezada pelos que a criaram...incompreensível para os que a viviam..."
Apesar da realidade incompreensível: dos portões que diziam com ironia "ARBEIT MACHT FREI" ( O Trabalho Liberta )das IG Farben com seus Zyklons B, dos ossos utilizados como fertilizantes, dos cabelos utilizados para a fabricação de tecidos e de uma passividade aparente... houve resistência! Homens e mulheres submetidos pelo regime sonhavam, escreviam, fabricavam e se organizavam, minuto a minuto, hora a hora, dia-a-dia e, o simples fato de não fenecerem simbolizava essa resistência, simbolizava a negação da condição de sub-homem imposta pelo regime. A luta por uma migalha de pão, por uma colher de sopa, por um minuto a mais de sono ou de descanso -- como testemunhou Primo Levi (1988) em seu "É Isto Um Homem"? - também foi uma forma de resistência.
Com o final da guerra e a quase inexistência de "culpados", nem Kapos, nem oficiais, nem chefes, o filme faz um alerta e um chamado à vigília:
"Quem de nós vigia neste estranho observatório para avisar da vinda de estranhos carrascos
Será que eles são diferentes de nós? Há os que não acreditavam,[...]E há nós, [...]
Nós, que fingimos que isso pertenceu a um tempo, a um país.
E que não olhamos em volta de nós...
E que não ouvimos o grito que se cala...
Ainda que o Holocausto não tenha sido uma tragédia exclusivamente dos judeus (as estimativas são de que os nazistas tenham exterminado cerca de 20 milhões de pessoas, entre elas, 6 milhões de judeus), ele foi também uma tragédia e um fato da história judaica (BAUMAN 1998, p. 12), assim, sob o ponto de vista do filme é impossível não suscitar, além da continuidade da memória, uma reflexão sobre os atuais acontecimentos beligerantes no Oriente Médio, uma vez mais, envolvendo o povo judeu.
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