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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quebra-Quilos Party

MÍDIA SEM MÁSCARA

Não deixa de ser inspirador o fato de saber que no Brasil, quase um século e meio atrás, tal como ocorreu em 1773 na rebelião do Boston Tea Party (que mais tarde desaguou na guerra da independência norte-americana), a população indignada se reuniu e lutou contra impostos que feriam suas liberdades e riquezas.
Toca, toca minha genteToca, toca a reunirQue os matutos quebra-quilosPor aí não tardam a vir
Cantiga nordestina do século XIX
Em 26 de julho de 1862, o imperador D. Pedro II, com o objetivo de criar meios práticos de controle fiscal e ao mesmo tempo auferir novos recursos financeiros para sustentar os gastos da Corte estabelecida no Rio de Janeiro, assinou uma lei que revogava o sistema de pesos e medidas então vigentes no país. Conforme relatos históricos, a lei impositiva tratava de substituir as antigas medidas de superfície, capacidade e peso (tais como palmos e polegadas, e pesos calculados em arroubas e libras) por novos padrões de quilograma, metro e litro, oficializando-se, com isso, em todo o território nacional, o sistema métrico decimal vigente na França desde o início do século XIX.
A regulamentação da lei, no entanto, só foi efetuada dez anos mais tarde, em 1872, por força de instrução baixada pelo então ministro da Agricultura e Comércio da Corte, Francisco do Rego Barros. No ano seguinte, precisamente em 1º de julho de 1873, a lei imperial entrou em vigor e, tal como pretendiam os burocratas da Corte, as mercadorias oferecidas no comércio e nas feiras públicas passaram a ser medidas segundo os novos ditames impostos pela Coroa.

Nos editais públicos afixados nas coletorias e cartórios das vilas e municípios ficava determinado que a partir daquela data, qualquer usuário do antigo sistema de pesos e medidas seria punido com a prisão de cinco a dez dias e multa de 10 a 20 mil réis, ficando o infrator obrigado a adotar os novos padrões de pesos e medidas.

Assim, para cumprir a lei e negociar sem temer as sanções legais, o comerciante, o pequeno proprietário e o artesão de produtos caseiros teriam de alugar ou adquirir junto às autoridades públicas os novos pesos e medidas - pagando por fora, como taxa extra, a sua aferição. Pior ainda: ao lado da obrigatoriedade de aquisição (ou aluguel) da nova parafernália, os comerciantes passariam a enfrentar um encargo até então impensável, o "Imposto do Chão" - outra forma de tributo paga às autoridades municipais pelo privilégio de expor no chão das feiras suas mercadorias.

Num Nordeste inóspito e retardatário, assolado pela crise da produção de açúcar e algodão - commodities em baixa nos mercados nacional e internacional -, a onda impositiva do governo levou ao desespero as populações das pequenas cidades, em particular os negociantes, criadores de gado e agricultores que tinham no comércio de produtos agrícolas e artesanais - tais como feijão, farinha, carne, queijo, milho, cachaça, peneiras, tecidos, etc. - a própria sobrevivência. O resultado do acosso imperial não se fez esperar: numa crua manhã de outubro de 1874, lideradas pelo almocreve João Vieira, o João Carga d'Água, centenas de pessoas desceram a serra do Bodopitá e invadiram a movimentada feira de Campina Grande, na Paraíba, se insurgindo contra as medidas do governo consideradas lesivas.

Aos gritos, munidos de porretes e bacamartes, os revoltosos passaram a quebrar os moldes de medidas dos feirantes. Em seguida, invadiram a Coletoria e a Câmara Municipal, onde, após rasgarem éditos e avisos, destruíram novos moldes e queimaram os arquivos contábeis do poder público repletos de multas. De quebra, os revoltosos jogaram os pesos no Açude Velho da cidade.

Entre os feirantes, foram distribuídos panfletos e manifestos advertindo a população de que ela seria a principal vítima das medidas infligidas pelo poder imperial, pois que, segundo o alerta, ao final das contas os aluguéis e compra dos novos moldes pagos à prefeitura seriam inevitavelmente repassados aos compradores.

Mais tarde, atacando a vila do Ingá do Bacamarte, nas vizinhanças de Campina Grande, os revoltosos do Quebra-Quilos invadiram a casa da Comarca e destruíram os novos editais do governo, obrigando o comandante da polícia local, José Aranha, a assinar um documento no qual se comprometia a acabar, de uma vez por todas, com "os novos impostos, a lei de recrutamento e a aplicação dos novos pesos e medidas e custas judiciais".

Na capital da Paraíba, o então presidente da província, o magistrado Silvino Carneiro da Cunha, impotente diante da ação dos sediciosos, solicitou a ajuda da Corte, reconhecendo que estava "sem forças para manobrar, sem meios para fazer seguir em perseguição a esses desordeiros, que, certos da nossa fraqueza, ameaçam-nos a cada instante".

Exaltada em prosa e verso pelo improviso poético dos repentistas sertanejos, em pouco tempo a Revolta dos Quebra-Quilos tomou conta não só dos vilarejos paraibanos, como logo se espraiou por boa parte das províncias nordestinas. Ela se alastrou por quase uma centena de cidades e vilas de Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte - chegando até ao Maranhão. Por toda parte, os revoltosos subvertiam a lei, rasgavam editais, invadiam cadeias, soltavam os presos, destruíam medidas e "quebravam" os quilos, livrando a população do "dilúvio armado pelos ladrões", isto é: o novo sistema métrico decimal.

Após dois anos de muitos combates, a repressão veio solerte e firme. À Paraíba foram enviadas forças comandadas pelo coronel Severiano da Fonseca, irmão do marechal Deodoro, o futuro proclamador da República. No final, não apenas "os matutos e desordeiros" foram punidos pelo braço forte da lei. Padres e advogados solidários aos Quebra-Quilos receberam os castigos devidos, muitos deles supliciados pelo "colete de couro", uma peça de couro úmido que, uma vez endurecida pelo calor do sol, sufocava a vítima entre golfadas de sangue pela pressão da veste.

Para alguns historiadores tupiniquins, o movimento dos Quebra-Quilos não tinha o menor conteúdo político em suas ações e propósitos. Em última análise, a revolta sertaneja enquadrar-se-ia como mera expressão da "desobediência civil" - uma forma incorreta de se definir o fenômeno, embora, de fato, não exista atitude política mais consciente do que o ato da desobediência civil, caracterizado pelo ensaísta Henry David Thoreau, rebelde que no século XIX se recusou a pagar impostos ao governo norte-americano, como uma forma de resistência à lei criada pelo Estado injusto, instituída para subtrair dos indivíduos seus direitos naturais e inalienáveis. (No dizer de Thoreau, "o melhor governo é o que de fato não governa").

Não deixa de ser inspirador o fato de saber que no Brasil, quase um século e meio atrás, tal como ocorreu em 1773 na rebelião do Boston Tea Party (que mais tarde desaguou na guerra da independência norte-americana), a população indignada se reuniu e lutou contra impostos que feriam suas liberdades e riquezas. Nos Estados Unidos atual, para enfrentar um governo pródigo em leis permissivas, como é o do socialista Barack Obama, a população insurgente restabeleceu o Movimento Tea Party para desalojá-lo do poder pela força do voto - no que se vai dando muito bem.

E aqui, no Brasil, restabelecida a famigerada CPMF no futuro governo (seja ele qual for), haverá força moral para se reeditar um movimento inspirado na sedição dos Quebra-Quilos? 

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".