6 de agosto de 2010
Em A Democracia na América, Alexis de Tocqueville comenta espantado como os EUA podem existir sem ter um governo centralizado. Para o francês, as nações européias só conseguiriam permanecer graças a uma centralização de poder que, no caso da França, ia do rei para as assembléias, das assembléias para os estados, dos estados para as cidades, das cidades para os funcionários públicos, dos funcionários públicos para os cidadãos normais.
Nos EUA, tudo acontecia ao contrário – e, talvez por um milagre que só uma nova ciência política poderia explicar, era justamente o fato de ser um governo descentralizado que permitia os americanos a exercerem sua liberdade e sua igualdade de maneira harmoniosa.
É claro que, hoje, se Tocqueville visse os EUA, diria sem misericórdia que não gostaria de forma alguma ver o seu diagnóstico realizado.
Contudo, isso não acontece somente na América. O governo centralizado parece ser a idéia fixa do momento tanto no resto do mundo como, olhem só, na nossa terra papagalis.
Aí vem a pergunta: Por acaso já existiu alguém que praticou esse elemento alienígina chamado “auto-governo”, descentralizado, que deixa as coisas acontecerem de forma natural, sem qualquer espécie de intervenção nos assuntos do mercado e do indivíduo?
A resposta é “sim” e foi praticada por Calvin Coolidge.
Quem? Em um mundo em que a mídia faz você acreditar que Roosevelt e Kennedy foram bons presidentes e que Lula e Barack Obama são exemplos de estadistas, é óbvio que ninguém ouviu falar neste sujeito.
Calvin Coolidge foi o presidente que governou os EUA entre Warren Harding (que morreu de ataque cardíaco) e Herbert Hoover (que foi seu secretário de Estado e com quem não se dava bem). Era um homem taciturno, de poucas palavras (seu State of the Union tinha só três linhas…), um quase puritano à maneira de Cromwell e deixava o governo se mover naturalmente.
Resultado: foi nesta época, os chamados roaring twenties, que os EUA tiveram uma das maiores fases de prosperidade econômica – e que terminou logo depois com o crash de 29.
Muitos esquerdopatas e liberais de meia-tigela afirmam que Coolidge foi o responsável pelo desastre porque não autorizou as intervenções necessárias. Talvez tenham razão: Paul Johnson conta, em seu A History of American People, que Coolidge realmente sabia que a bonança não duraria por muito tempo e queria deixar a bomba cair no colo de Hoover – que piorou a situação com mais intervenção estatal. Mas Calvin era também um realista implacável: ele afirmou que a bonança tinha de acabar porque as coisas boas não duram para sempre.
Ou seja, apenas afirmou um princípio básico da arte de governar que, atualmente, muitos insistem em esquecer.
Nos tempos atuais, esta é a lição mais díficil que um presidente pode absorver. Afinal, todos querem dar riquezas inimagináveis ao seu povo. Mas, infelizmente, não podem fazer porque a política não é a arte de agradar a todos e sim, como bem definiu Henry Adams, “a organização sistemática dos ódios“.
Por isso, meu voto para presidente é Calvin Coolidge. Mas, como ele morreu, ficamos a chupar o dedo e a dançar um tango argentino.
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