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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Uma correção reveladora

Fonte: MARCOS GUTERMAN
24.12.09


por Marcos Guterman, Seção: Religião, Oriente Médio, Europa,Jornalismo 18:06:28.



Em 21 de dezembro, o jornal inglês The Guardian publicou uma reportagem intitulada “Israel admite que extraiu órgãos de palestinos”. O interesse era óbvio. Em agosto, um jornal sueco causou sensação ao acusar soldados israelenses de arrancar os órgãos de palestinos mortos para serem usados em transplantes. A reação do governo de Israel e dos judeus na ocasião foi veemente: tratava-se de uma mentira cruel, uma forma de reafirmar o anti-semitismo em seu estado mais primitivo – aquele que, na Idade Média, atribuía a judeus uma série de crimes rituais, como tirar o sangue de crianças cristãs para fazer pão ázimo. A reportagem do Guardian, no entanto, parecia confirmar a acusação.


Mas só parecia. Nesta quinta-feira, o jornal inglês publicou a seguinte correção a respeito da reportagem: “Aquele título não corresponde ao texto, que deixa claro que os órgãos não eram retirados apenas de palestinos. Foi um sério erro de edição, e o título foi alterado na edição online para refletir o texto escrito pelo repórter”.


A reportagem em questão dizia que, até os anos 90, um instituto médico-legal perto de Tel Aviv extraiu pele, córneas, válvulas cardíacas e ossos de cadáveres de soldados israelenses, cidadãos israelenses, palestinos e trabalhadores estrangeiros, frequentemente sem permissão dos parentes. Ou seja: as vítimas não eram apenas, ou não especificamente, palestinos. Portanto, o crime não era étnico, como o título dava a entender. A reportagem enfatizou ainda que não havia evidências de que os israelenses haviam matado palestinos para lhes retirar os órgãos, como acusara o jornal sueco.


A pergunta óbvia, diante disso, é: por que o jornalista que editou a reportagem optou por um título que mencionava somente os palestinos? Qual era sua intenção?


Há várias explicações possíveis, e incompetência profissional é somente a mais fácil delas. Mas o caso inspira uma reflexão um pouco menos rasa. É provável que o jornalista do Guardian tenha destacado os palestinos no título por causa do barulho produzido pelo jornal sueco. Era uma forma de relacionar as duas coisas, como a comprovar a acusação tão negada pelos israelenses.


E aqui entramos no segundo – e perverso – aspecto do episódio. O jornalista do Guardian parece não ter refletido sobre o texto que leu antes de escrever o título. Seu impulso imediato foi pensar num título que incriminasse Israel em relação aos palestinos. A razão disso é muito simples: incriminar Israel é muito mais fácil do que não incriminar.


Israel é um país muito malvisto, graças sobretudo a uma intensa propaganda negativa por parte de “humanistas” que, a título de defender os palestinos, na verdade exercem o mais tosco anti-semitismo, ao negar o direito de Israel de existir. Não importam os enormes avanços técnicos e científicos que a sociedade israelense produziu para o mundo todo; não importa o trabalho solidário de diversas entidades israelenses em relação aos árabes; não importam os esforços dos israelenses para tentar conviver com vizinhos que, se pudessem, já os teriam dizimado. Será sempre Israel o elemento criminoso da equação, uma entidade irremediável, um monstrengo que só produz sofrimento e desolação.


É por isso que foi tão fácil ao jornalista do Guardian “errar” em seu título. Para ele, como para muitos outros, tudo o que envolve Israel em relação aos palestinos está sempre eivado de crueldade, mesmo que não tenha relação com a realidade. É a força da ideologia, que comprova a resiliência brutal do anti-semitismo.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".