EFEITO CIRO GOMES
04 de fevereiro de 2010
A entrada de Ciro Gomes na disputa da eleição presidencial se reveste da maior importância porque ele, de fato, prejudica diretamente o PT e o seu projeto político de longo prazo, mais até do que uma eventual vitória de José Serra. Tudo que o PT desejava era a polarização com o candidato tucano, é tudo que não terá. O governador de São Paulo talvez viesse a mudar muito pouco os projetos em curso do PT dentro do Estado. Talvez algo mais forte na condução da política econômica, pois aqui suas crenças esquerdistas são mais desenvolvidas e radicais. Certamente a política cambial e de juros sofreria uma inflexão.
Ciro Gomes é uma incógnita nesse tema. Seu programa efetivo é um enigma, embora de público faça o discurso alinhado com o PT. Bem sabemos que uma coisa é o discurso, bem outra a ação. Dificilmente Ciro manteria a maluca política externa que Lula tem praticado, de apoio a Hugo Chávez, de abandonar o mercado norte-americano, de sacrificar os legítimos interesses nacionais em favor de duvidosas convicções ideológicas, como vimos no caso da Bolívia e do Paraguai. Na política internacional, se Ciro Gomes vier a ser presidente haverá um grau de realismo maior e o PT, enquanto partido revolucionário que lidera o Foro de São Paulo, perderia um dos seus maiores trunfos, o comando do Itamaraty.
O magnífico artigo de Demétrio Magnoli publicado hoje no Estadão (“O terceiro Chávez) prognosticou que, se a Dilma não for eleita, o presidente da Venezuela não sobreviverá politicamente. Com a presença de Ciro Gomes isso será um fato imediato. Vemos aqui porque Lula adoeceu ao receber a negativa do político cearense ao pedido seu para que se afastasse da disputa. Teve uma crise aguda de “cirose”.
Também não consigo imaginar Ciro Gomes patrocinando alucinações coletivas bolcheviques como aConfecom e a Conferência Nacional de Direitos Humanos. Fui informado que poderosos meios de comunicação já estão alinhados com sua candidatura, como Fernando Collor de Mello foi adotado no passado. A perda dessas alucinadas conferências representará para o PT enorme perda de prestígio e de capacidade de mobilização.
O paradoxal é que não sobrará alternativa ao PT que não apoiá-lo, se vier a passar ao segundo turno contra José Serra. Ato contínuo, o partido desinflaria rapidamente e mesmo o apoio em meio ao funcionalismo público poderia ser perdido. A simples colocação da candidatura Ciro Gomes tenderá a dividir o palanque da candidata Dilma em muitos Estados. Isso trará uma grande fragilização para os candidatos a governador e a senador da legenda, bem como retirará força para a formação de uma bancada maior na Câmara de Deputados.
A candidatura Ciro Gomes está para o PT como o terremoto para o Haiti. Será um desastre completo. No mínimo, favorecerá a candidatura de José Serra, dividirá os votos de Dilma e fulminará qualquer pretensão hegemônica do PT pela via eleitoral. Bem disse Ciro Gomes que o “Santo” Lula não tem muito a falar sobre o assunto. Até o final do ano a “cirose” presidencial aumentará exponencialmente.
É divertido assistir à turma do poder na iminência de naufragar sem ter nada a fazer para escapar ao desastre político. Seus líderes não podem pressionar o candidato rebelde de nenhum modo, sequer podem atacá-lo, pois vá que ele passe ao segundo turno, precisarão ter um nome a apoiar. Uma sinuca de bico. Sem dúvida, a campanha eleitoral ganhou novo colorido. E os hospitais uma nova doença para tratar, a “cirose” do Lula.
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