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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Será que precisamos de mais Keynes agora?

INSTITUTO LUDWIG VON MISES BRASIL Liberdade - Propiedade - Paz


Por Frank Shostak

 

KeynesMagician.jpgAgora que os governos e bancos centrais estão submetendo suas respectivas economias a agressivas políticas monetárias e fiscais, muitas pessoas dizem que as idéias de Keynes voltaram à moda. Ouvimos constantemente que os remédios keynesianos podem impedir que as economias mundiais mergulhem em um severo colapso econômico. Nos Estados Unidos, por exemplo, Republicanos e Democratas estão competindo ferozmente entre si para ver que será o primeiro a submeter a economia americana a inúmeros pacotes de estímulo. Sobre isso, o Financial Times recentemente escreveu,


As recaídas keynesianas tomam formas diferenciadas. Para os Republicanos, este o momento de se propor novos cortes de impostos para os pequenos negócios, incluindo uma suspensão do imposto sobre ganhos de capital, o que muitos acreditam que iria ajudar a estimular a atividade econômica. Já os Democratas preferem uma expansão do seguro-desemprego e do auxílio-alimentação, além de uma ajuda aos proprietários de imóveis que estejam em apuros.


Não obstante os trilhões de dólares que os bancos centrais de todo o mundo já injetaram na economia, alguns ilustres comentaristas asseguram que a quantia ainda não foi suficiente. Por exemplo, Martin Wolfdisse que,


Entretanto, sob as atuais condições, uma política monetária será insuficiente. Esta é uma situação keynesiana que requer remédios keynesianos. Os déficits orçamentários chegarão a níveis outrora considerados inimagináveis. Que assim seja.


É extraordinário sugerir que as idéias de Keynes estejam somente agora retornando para salvar o mundo. As idéias keynesianas jamais deixaram as salas dos estrategistas dos governos e dos bancos centrais. A essência do pensamento dos mais influentes economistas sempre foi keynesiana. Logo, os vários pacotes de estímulo que estão sendo apresentados agora são apenas uma continuação das mesmas políticas keynesianas às quais estamos submetidos há muitas décadas. A atual crise econômica é o resultado da enorme dose de keynesianismo que nos foi ministrada nos últimos anos.


Fazendo um breve resumo, John Maynard Keynes dizia que não se pode confiar plenamente na economia de mercado, que é inerentemente instável. Se deixada livre, a economia de mercado poderia se auto-destruir. Daí a necessidade de os governos e bancos centrais gerenciarem a economia.


Um gerenciamento de sucesso, na abordagem keynesiana, é aquele que influencia o gasto geral da economia. É o gasto que gera a renda. O gasto feito por um indivíduo se transforma em renda para outro indivíduo, de acordo com Keynes. Quanto mais for o gasto, melhor será para todos. O que comanda a economia, portanto, é o gasto geral.


Consumo e produção


Na abordagem keynesiana, a parte mais significante do gasto é determinada pelas despesas do consumidor. Portanto, o motor da economia são as despesas com consumo. É o consumo que gera o crescimento econômico real.


Mas será que o consumo é mesmo o motor da economia? É necessário fazer uma distinção entre consumo produtivo e consumo improdutivo. Enquanto que o consumo produtivo é um agente de crescimento econômico, o consumo improdutivo gera apenas empobrecimento econômico.


Consumo produtivo


Um padeiro poupa (deixa de consumir) dez pães para poder trocá-los por dez batatas. As batatas passam agora a sustentar (ou financiar) o padeiro enquanto este está envolvido na manufatura de pães. Da mesma forma, os pães servirão para sustentar o fazendeiro enquanto este estiver envolvido na produção de batatas. São as respectivas produções empreendidas pelo padeiro e pelo produtor de batatas que permitem que eles consigam bens de consumo.


O que torna o consumo produtivo neste exemplo é o fato de que tanto o padeiro quanto o produtor de batatas consomem para poder produzir. O consumo de ambos mantém suas vidas e seu bem-estar. Essa é a única razão da produção.


A introdução do dinheiro em nada altera o que foi dito até agora. Por exemplo, o padeiro pode trocar seus dez pães por $10 e então utilizar esse dinheiro para obter dez batatas. Da mesma forma, o produtor de batatas pode agora trocar seus $10 por dez pães. Observe que, à exceção de ter cumprido seu papel de meio de troca, o dinheiro não contribuiu em absolutamente nada para a produção de pães e batatas.


Consumo improdutivo


Até agora, vimos que, para obter batatas, o padeiro teve de trocar pão por dinheiro para então poder trocar esse dinheiro por batatas. Alguma coisa foi trocada por dinheiro que, por sua vez, foi trocado por uma outra coisa - uma coisa é trocada por outra coisa por intermédio do dinheiro.


Até aí, tudo certo.


Mas o real problema surge quando o dinheiro passa a ser criado "do nada". Tal criação de dinheiro estimula o consumo sem que tenha havido qualquer aumento na produção. Essa "falsificação" de dinheiro faz com que alguma coisa seja obtida em troca de nada.


Por exemplo, imagine que um falsificador imprima uma perfeita cédula de $20. Ele não obteve esse dinheiro por meio da produção de algum bem ou pela prestação de algum serviço. Ele não teve de produzir nada para ganhar esse dinheiro. O dinheiro simplesmente foi criado do nada. Portanto, o falsificador obteve $20 sem ter de dar nada em troca.


O falsificador então utiliza esses $20 para comprar dez pães. O que houve nesse caso? Os recursos reais - dez pães - que seriam utilizados pelo produtor de batatas para financiá-lo foram desviados para o falsificador. Observe que esse desvio ocorreu porque o falsificador foi capaz de pagar um preço maior pelo pão - ele paga $2 por pão; antes, o preço era de $1 por pão. Observe também que, dado que o falsificador não produz nada de útil, o consumo no qual ele está incorrendo é improdutivo.


Ao produtor de batatas agora lhe é negado o pão que ele precisa consumir para se sustentar enquanto estiver produzindo batatas. Obviamente isso irá prejudicar a produção de batatas. Como resultado, menos batatas serão disponibilizadas, o que consequentemente irá afetar o consumo do padeiro, o que debilitará sua capacidade de produção.


Podemos ver que, enquanto o consumo produtivo sustenta as atividades geradoras de riqueza e promove a expansão da riqueza real, o consumo improdutivo leva apenas ao empobrecimento econômico.


Um banco central imprimindo dinheiro produz exatamente o mesmo efeito danoso do dinheiro falsificado do exemplo acima. O mesmo é válido para a criação de dinheiro por meio do sistema bancário de reservas fracionárias. Ambos são igualmente perniciosos. A expansão do dinheiro sem o correspondente lastro na produção cria as bases para o consumo improdutivo - é um agente da destruição econômica.


Segundo a abordagem keynesiana, durante uma recessão, quando os consumidores tendem a diminuir seus gastos em consumo, o governo tem a função de intervir e aumentar seu próprio gasto. Por exemplo, o governo pode colocar vários indivíduos desempregados para cavar buracos no chão.


O dinheiro que o governo paga a esses trabalhadores irá estimular o consumo deles, e isso consequentemente irá elevar a renda total da economia. De acordo com esse modelo, não interessa se buracos no chão contribuem para o bem-estar das pessoas; o que de fato interessa é que as pessoas estão sendo pagas e irão utilizar esse dinheiro para estimular o consumo.


Mas acontece que o governo não ganha dinheiro assim como as outras pessoas no mercado. O governo não é um gerador de riquezas. Assim, como é que ele vai pagar os vários indivíduos que estão empregados em projetos não geradores de riqueza? Ele pode obter o dinheiro por três métodos: tributação, pedindo ao banco central que imprima o dinheiro ou pedindo empréstimos. Excetuando-se os empréstimos externos, todas as três opções acima se resumem a tomar a riqueza dos seus genuínos geradores e desviá-la para as atividades do governo. O resultado será o mesmo daquele alcançado pela impressão de dinheiro: o consumo improdutivo.


De acordo com Mises,


é preciso enfatizar o fato óbvio de que um governo somente pode gastar ou investir aquilo que tira dos cidadãos, e que os gastos e investimentos adicionais diminuem, na mesma medida, os gastos e os investimentos que seriam feitos pelos cidadãos.


Disso, podemos concluir que, sendo o governo um ente que não gera riquezas, ele consequentemente não pode fazer a economia crescer em termos reais. Contrariamente à crença popular, quanto mais o governo gastar, pior será para a saúde da economia e, por conseguinte, para o crescimento econômico.


Os pacotes de socorro financeiro destinados a salvar as economias mundiais estão apenas criando os fundamentos para mais sofrimento durante os meses vindouros. Muitos comentaristas e especialistas econômicos que defendem fortes medidas de estímulos governamentais nunca se preocuparam em perguntar como essas medidas serão financiadas - e por financiamento estamos nos referindo à coisa real: de onde virão todos os pães e batatas?


Não ocorre aos simpatizantes do keynesianismo que foram exatamente as políticas fiscais e monetárias da década passada que geraram todo o consumo improdutivo. O resultado de tudo isso foram as inúmeras bolhas que surgiram por toda a economia mundial e que agora estão necessariamente estourando. Como acreditar ser possível que as mesmas políticas econômicas keynesianas que causaram danos maciços aos produtores de riqueza irão reativar a economia?


Implementar mais políticas keynesianas é exatamente o oposto do que deve ser feito agora: permitir que os produtores de riqueza tenham plena liberdade para começar a gerar riqueza genuína. O mundo precisa de uma abundância de consumo produtivo. Mais gastos governamentais e uma criação maciça de dinheiro pelos bancos centrais servirão apenas para fortalecer o consumo improdutivo, adiando as perspectivas de uma significativa recuperação econômica.


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Frank Shostak é um scholar adjunto do Mises Institute e um colaborador freqüente do Mises.org. Ele é o economista-chefe da M.F. Global.


 

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".