09 de novembro de 2008
Em recente reunião a Executiva do PT avaliou que o partido “perdeu” a classe média, advindas daí as derrotas colhidas no último pleito, especialmente aquelas verificadas em Porto Alegre e em São Paulo. Não podemos esquecer que, desde a origem, o PT nutriu-se de sua penetração na classe média: funcionários públicos, professores universitários, jovens estudantes, sindicalistas, membros da Igreja. Rigorosamente falando, o PT jamais foi o partido dos pobres, tendo conquistado este segmente depois da ascensão à Presidência da República, mediante a ampla distribuição de bolsas aos miseráveis dos rincões.
A última eleição municipal mostrou que o PT ficou imbatível onde a predominância é de eleitores pobres e perdeu feio onde a classe média predomina. Como entender esse fenômeno? Em primeiro lugar, é bom lembrar que a adesão da classe média ao PT na sua origem não se deu por razões econômicas. Foi uma adesão às idéias esquerdistas, então em voga. O sedutor discurso da igualdade, a indignação (mais das vezes postiça) contra as elites, a satanização do modo de vida tradicional, tudo isso formou um amálgama que permitiu a gênese do partido. Ocorre que
a geração que fundou e aderiu ao PT envelheceu e deu-se conta da falsificação desse discurso. Mais que isso, percebeu o abismo vigente entre as palavras de ordem e a realidade. Eleitores outrora entusiastas no PT deram lugar a céticos que não votam no partido por nada nesse mundo. A rejeição é total.
Mas há ainda uma terceira razão econômica fundamental para o fracasso eleitoral do PT junto à classe média. O que é a classe media? É um conceito bastante indefinido e largo e depende de pré-qualificações para se saber sobre o que se fala. Latu senso, classe média é toda a faixa de população que medeia a faixa pobre, que mal tem acesso aos bens básicos e depende dos serviços públicos estatais para um mínimo de bem-estar, e os ricos, confundidos com os empresários e os donos do capital em geral. O ponto fundamental é que não é possível criar políticas públicas para alargar a classe média, que só pode florescer por força do próprio talento pessoal de seus integrantes.
A classe média é composta pela massa de pessoas que chegaram lá por força da meritocracia, seja esta técnica, gerencial ou de network pessoal. Nenhuma política de Estado pode gerar essas condições. Quem gera a classe média é a estabilidade econômica e política, nada mais. Isso é um dado da realidade.
Para piorar, a transferência de renda que tem sido feita pelo Estado brasileiro aos mais pobres é paga fundamentalmente pela extração de elevados impostos cobrados sobre a classe média. A conquista dos votos dos pobres dos rincões foi paga pela subtração de renda da classe média urbana. Agradar a classe média significa reduzir impostos, tornar o Estado impessoal e eficiente, moralizar a administração pública, reduzir o Estado ao mínimo, dando-lhe eficiência em suas funções básicas.
Esse é o dilema da esquerda. Ela prega aos mais pobres que eles podem chegar a ser membros da classe média. Mas paga o benefício estatal empobrecendo a própria classe média e alargando a vasta classe dos parasitas estatais, que vivem da administração do Estado de bem-estar social.
A conclusão se impõe: não há como a esquerda revolucionária conquistar mais a classe média, pois seu discurso ideológico esgotou-se e suas propostas econômicas são necessariamente contrárias aos interesses objetivos daqueles que dependem apenas de si mesmos para terem uma vida decente. Nenhuma bolsa de qualquer natureza tem apelo aos membros da classe média, mas redução de impostos e de regulação tem. A tese do Estado mínimo está latente como um tumor ideológico que irá brotar a qualquer momento do inconsciente coletivo da classe média, destruindo cada vez mais as pretensões arcaicas dos militantes esquerdistas. O terreno está semeado para que políticos de discurso de centro-direita triunfem nos pleitos majoritários que se aproximam.
Então é possível prognosticar que as próximas eleições majoritárias irão consagrar políticos que afinarem seu discurso com a classe média. É ela que forma a opinião pública, que dá as tendências do eleitorado. Nem Lula aqui e nem Obama nos EUA têm como seduzir economicamente a classe média exceto pela manutenção da normalidade econômica e pela vigência do sistema de abertura de oportunidades pela meritocracia. A classe média não precisa de esmolas estatais, precisa sim ter o caminho livre para sua iniciativa e o seu talento.
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