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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Desmontando um sofisma

MÍDIA SEM MÁSCARA
Autor: João Luiz Mauad 6 novembro 2008
Editorias - Economia, Estados Unidos, Livre iniciativa

“Já estamos fartos desse tal neoliberalismo. Queremos regras que nos protejam desses banqueiros maldosos e oportunistas, que nos ofereceram créditos excepcionalmente baratos, os quais tomamos contra a nossa vontade. Queremos que o governo gaste o dinheiro dos impostos comprando títulos podres, pagando-os a preço de face, ainda que eles não valham absolutamente nada. Queremos também que o governo, esse ente magnânimo e inesgotável, estatize o maior número de empresas possível, sejam elas bancos, financeiras, seguradoras, construtoras ou padarias, tudo para garantir os nossos sagrados empregos“. 
(Don Boudreaux – tradução adaptada)

O que vai acima é, evidentemente, uma hipérbole do que seria o senso comum hoje em dia. Porém, é inegável que a maior parte da opinião pública acredita que a crise financeira atual é resultado do livre mercado, e que neste estaria a origem de toda injustiça e todo caos, enquanto o governo seria o agente da justiça, da racionalidade e da eficiência econômica.

Tão acentuada é esta crença que o principal objetivo de jornalistas e analistas tem sido apontar os vilões da história: empresários, banqueiros, CEOs e capitalistas que “provocaram” a crise com suas ganâncias, e, mais importante ainda, descobrir os heróis – burocratas e políticos – capazes de identificar e dar suporte a “políticas públicas”, intervenções e controles que irão eliminar o mal e prevenir a sua recorrência futura.

O fato de que muitos mercados mundo afora tenham se tornado um pouco mais livres durante os últimos anos é agora visto como se tivéssemos vivido no reino do mais absoluto “laissez-faire”. Trata-se, evidentemente, de uma enorme bobagem, porém não tão fácil de demonstrar. (Como dizia Bastiat, na introdução do seu magnífico “Sofismas Econômicos”, em economia são necessárias longas e áridas dissertações para mostrar uma verdade – o que tentarei fazer adiante – mas apenas algumas poucas linhas para disseminar uma idéia falsa ou uma meia-verdade).

Se o motorista de um veículo em alta velocidade aciona o freio, quais seriam as conseqüências possíveis dessa ação nos momentos seguintes? Caso o sistema de freio estivesse funcionando corretamente, eu vejo somente duas possibilidades. Ou o automóvel reduziria a velocidade inicial e seguiria sua viagem; ou pararia completamente alguns metros adiante. No último caso, seria necessário que o condutor continuasse freando até a parada total. Ora, o que aconteceu nas últimas décadas, não só no Brasil, como de forma geral em quase todo o mundo, foi um abrandamento da intervenção dos Estados nas economias (uma pequena freada), mas jamais poderíamos falar de “laissez-faire”, já que o intervencionismo continuou bastante atuante, tanto aqui quanto alhures.

Conceitualmente, o “Capitalismo Laissez-faire” é um sistema político-econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção, no qual o poder outorgado ao Estado está limitado à proteção dos direitos individuais elementares – vida, liberdade e propriedade. Esta proteção aplica-se especificamente à defesa dos cidadãos contra os atos de força praticados por outros indivíduos, por governos estrangeiros e, mais importante, pelo próprio governo.

A defesa dos cidadãos contra os atos de força de seu próprio governo é garantida pela constituição, pelo sistema de divisão dos poderes e pela eterna vigilância da população, à qual deveria ser garantido o direito ao uso de armas. Num sistema “Laissez-faire”, portanto, as atribuições do Estado seriam, essencialmente, aquelas vinculadas à força policial, à administração judiciária e à defesa contra os ataques externos.

Para alguém com um mínimo de bom senso, por conseguinte, é absolutamente absurda a alegação de que a crise financeira originada nos mercados norte americanos tenha sido resultado de algo sequer próximo de um sistema “laissez-faire”. Eis alguns dados da realidade que ajudam a demonstrar isso, segundo o economista George Raisman:

1. Atualmente, os gastos governamentais nos EUA são superiores a quarenta por cento do produto interno bruto (PIB) daquele país. Este índice, é importante ressaltar, não inclui os massivos gastos não orçamentários de empresas subsidiadas ou implicitamente garantidas, como as famigeradas Fannie May e Freddie Mac. Tampouco estão incluídas nele as despesas recentes com os “bailouts”.

2. Existem atualmente, naquele país, quinze ministérios (Cabinet Departments), nove dos quais dedicados a atividades eminentemente privadas, do ponto de vista liberal, como habitação, transporte, saúde, educação, energia, mineração, agricultura, trabalho e comércio. Virtualmente todos eles estão voltados a, de alguma maneira, restringir a liberdade econômica. Sob um regime de “laissez-faire”, onze destes ministérios simplesmente deixariam de existir, permanecendo somente os departamentos de Justiça, Defesa, Estado e do Tesouro.

3. A interferência econômica do governo nos assuntos econômicos privados é ainda reforçada – e ampliada – pela existência nefasta de mais de 100 agências e comissões federais, dentre as quais destacam-se: IRS, CIA, FBI, FRB, FDIC, EPA, FDA, SEC, CFTC, NLRB, FTC, FCC, FERC, FEMA, FAA, CAA, INS, OHSA, CPSC, NHTSA, EEOC, BATF, DEA, NIH, NASA, etc. Sob um sistema real e efetivamente liberal, todas estas agências teriam de ser fechadas, com exceção talvez do FBI.

4. Para completar, até o fim de 2007, o chamado “Registro Federal” – uma compilação de leis e regulamentos federais dos EUA - continha cerca de setenta e três mil páginas de detalhadas regulamentações governamentais, dez mil das quais criadas desde 1978, ano a partir do qual, segundo o jornal The New York Times, as políticas favoráveis à desregulamentação neoliberal dos negócios começaram a ser implementadas.

5. Além dos já citados, devemos agregar também o vasto arcabouço legal e departamental em níveis estadual e local.

Como se pode notar, mesmo que os EUA sejam uma nação política e economicamente muito mais liberal do que o Brasil, por exemplo, o sistema vigente por lá está ainda muito longe de poder ser comparado, sequer aproximadamente, ao liberalismo dito “laissez-faire”, como pretendem os nossos adversários intervencionistas.

O medo e o ódio à liberdade, especialmente à liberdade econômica, são o verdadeiro estopim de toda essa fúria retórica e propaganda enganosa antimercado, ambas capazes de transformar um fantasma, um simples mito (o neoliberalismo para uns e o “laissez-faire” para outros) em causa de todos os males econômicos. Através da divulgação deste insidioso sofisma, os inimigos da liberdade não só ajudam a disseminar um sentimento de aversão ao capitalismo, como, principalmente, a criar um ambiente cada vez mais propício ao intervencionismo estatizante.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".