Patrícia Andrade - VEJA
O QUE É SER DE DIREITA?
A economista Patrícia Carlos de Andrade é defensora das liberdades individuais. Coisa rara hoje em dia. Mas ela mesma tem sido escrava de uma agenda cada vez mais lotada, como diretora executiva do Instituto Millenium. A entidade acredita que o horizonte revolucionário no Brasil é liberal. Trabalho, portanto, é o que não falta.
O GOVERNO LULA É ACUSADO PELA ESQUERDA DE TER SE TORNADO NEOLIBERAL. A CRÍTICA PROCEDE?
O governo está muito distante do liberalismo. Apesar de estar mantendo um conjunto de medidas que foi a base do avanço econômico, como a estabilização, todo o resto guarda um abismo em relação ao liberalismo. É um Estado que vem crescendo, que volta e meia tenta atacar liberdades. Eles tentam e depois recuam quando a opinião pública se manifesta contrariamente. Em seguida, tentam de novo. Ainda somos muito travados. Não temos, por exemplo, um Banco Central independente.
O BRASIL É UM PAÍS DE DIREITA, CENTRO OU ESQUERDA?
Há no país um pensamento hegemônico de esquerda, em todas as camadas. Somos uma sociedade que espera do Estado a solução para todos os seus problemas. A maioria dos cidadãos está programada assim, sejam os mais educados, sejam os mais ricos ou os mais pobres. Ainda não temos uma visão mais centrada no indivíduo, nos mercados e nas liberdades.
PRECISAMOS, ENTÃO, DE UM CHOQUE DE LIBERALISMO?
Não existem modelos prontos a seguir. Até mesmo nos Estados Unidos o governo faz movimentos pendulares, ora é mais liberal, ora mais intervencionista, com restrição de liberdades individuais. Mas o fato é que não fomos capazes de crescer como uma força política social-democrata. No entanto, todos os remédios que se pretende ministrar são mais do mesmo: mais Estado, mais intervenção, mais sindicalismo, mais coletivismo. O caminho claramente não é esse.
QUAL É O CAMINHO?
As melhores opções são sempre aquelas que dão aos indivíduos maior liberdade de empreender, buscar seus projetos pessoais, fazer o que é melhor para seus filhos e sua família.
QUEM SE DECLARA ABERTAMENTE DE DIREITA SOFRE PRECONCEITO?
A palavra direita está tão desgastada que o próprio senador Jorge Bornhausen, numa entrevista a VEJA, afirmou que não é de direita, sendo ele do PFL. Falou de direita como se isso fosse um xingamento. Ser de direita choca as pessoas. Associa-se a direita ao nazismo e ao apoio à ditadura militar.
JÁ FOI HOSTILIZADA POR ISSO?
Minha filha participou de uma atividade na faculdade em que se discutia um artigo publicado por mim. Falava sobre os meninos de rua. Escrevi, em resposta ao Arnaldo Jabor, que falava da culpa que todos nós temos por aqueles meninos estarem pedindo dinheiro nos sinais de trânsito. Eu disse que não tenho culpa nenhuma. Sempre cumpri meus deveres. Durante a leitura, disseram algo do tipo "quem é essa mulher que pensa que é economista...".
A SENHORA SE CONSIDERA UMA PESSOA DE DIREITA. O QUE É SER DE DIREITA HOJE EM DIA?
É você não esperar que o Estado venha solucionar a sua vida. É tomar suas decisões pessoais e arcar com a responsabilidade por elas. Muitas pessoas são assim e não se dão conta de que têm uma atitude de direita. Isso por conta de uma imprecisão histórica. O que se chamou de direita no Brasil foram forças retrógradas, coronelistas. Não é a isso que me refiro. É a uma direita que existe nas democracias modernas, que dá mais força ao mercado, à competição e às liberdades individuais.
Fonte: Veja - 24 de janeiro de 2007
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