A campanha a que o PT recorreu contra o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, indagando se ele tinha mulher e filhos é expressão da amoralidade de seus promotores. Mas também é fruto de uma mentalidade que antecede os amorais da hora: nela, o indivíduo está morto. Voltarei a este ponto. Antes, convido o leitor a um passeio pela paisagem ideológica que abriga esta narrativa. Na semana passada, em entrevista a um jornal paulistano, a petista disfarçada de intelectual Maria Victoria Benevides explicou a reeleição do prefeito do DEM segundo a ótica da patologia social: para ela, estivesse o eleitor mais bem informado sobre os seus próprios interesses, e fossem as elites paulistanas menos reacionárias, a eleita teria sido a petista Marta Suplicy. Para essa senhora, ou os vitoriosos são de seu partido, ou a democracia está com uma doença regressiva. Algo a estranhar?
Não. A história da esquerda é a história do esmagamento do indivíduo e do homem que há, com suas precariedades, em nome do homem a haver, livre de "deformações". Seus utopistas nunca viram o horror, o massacre e a morte de milhões como empecilhos para construir esse "novo homem". "Só a esquerda?", logo indagaria um inconformado. Não. A direita também cometeu crimes hediondos. A diferença, o que não a perdoa moralmente, é que nunca reivindicou a condição de um novo humanismo. Em termos um tanto especulativos, pode-se dizer que a direita reacionária – já que existe a reformista – matou para tentar reconstruir o passado, e a esquerda revolucionária, dezenas de vezes mais para construir o futuro. Outra diferença nada ligeira é que o fascismo, felizmente, não deixou senão defensores residuais e sem importância. Já os epígonos intelectuais do socialismo homicida, como se nota acima, estão na academia, na imprensa, nos governos e integram o establishment das democracias, construídas à sua revelia. Afinal, o regime democrático é obra do liberalismo. "Que papo mais antigo, Reinaldo! O muro já caiu!" É fato. Mas a amoralidade da esquerda sobreviveu aos escombros.
Aquele mesmo aparelho intelectual que sustentou a sua facinorosa trajetória continua vivo, ainda que se adapte às circunstâncias de cada país e consiga disfarçar o seu caráter deletério. A débâcle socialista obrigou os "engenheiros de gente" a procurar outro lugar onde pôr a sua "luta de classes". Os esquerdistas desviaram o foco das relações econômicas para a esfera das relações sociais. De certo modo, inverteu-se a equação clássica segundo a qual, para ser muito sintético, seria preciso fazer a revolução na economia para mudar as mentalidades. Incapazes de operar na base econômica, decidiram tentar o contrário: "Primeiro mudamos as mentalidades; o resto vem como conseqüência". Bem, "o resto" não veio nem virá. O máximo que esse esquerdismo bocó consegue é tornar o mundo mais xucro. De comum com o seu passado remoto, o mesmo desprezo pelos indivíduos.
Comecemos a ligar os fios. Mergulhemos, ainda que com o devido cuidado, na mentalidade do PT, caudatário desse pensamento que aposta na reengenharia do homem. Uma das vertentes formadoras do partido são os chamados "movimentos sociais", onde se incluem as "minorias organizadas", antigamente chamadas de "coletivos": havia o das mulheres, o dos negros, o dos homossexuais etc. Hoje, converteram-se em ONGs subordinadas ao partido. Os petistas, sabemos, não viram mal nenhum em fazer ilações sobre a vida pessoal de Kassab. Tentaram ainda conferir ao que pretendiam ser uma pecha o caráter de coisa escusa, sub-reptícia, ilegal.
Por que o partido que um dia se notabilizou pela defesa dos chamados "direitos dos homossexuais" atribui tal condição a um adversário, fazendo-o de maneira oblíqua, covarde e com o óbvio objetivo de desqualificá-lo? Essa gente sabe que, diante do preconceito, todas as respostas se igualam: negar, ignorar ou confirmar têm peso idêntico. O que se quer é disparar a máquina do medo ou da repulsa irracionais. Nas batalhas mediadas por uma ética – e até as guerras têm a sua –, há coisas que não podem ser feitas. Mas, para tanto, é preciso ter uma ética. Trata-se daquele conjunto de interdições e permissões que tanto eu como meu adversário reconhecemos como aceitáveis e justas. Se esse acordo entre desiguais está presente até na guerra, isso significa que, sem ele, também não se faz a paz – e a democracia se torna impossível. A ditadura nada mais é do que um desequilíbrio de valores: "Eu posso fazer o que ao outro é vedado". O PT substituiu a ética pela administração das necessidades da hora, pelo presente eterno. Retomo a questão na conclusão do texto.
Creio ter a resposta para a pergunta que abre o parágrafo anterior. Os petistas não reconhecem os direitos de um sujeito na sua particularidade. Aceitam, por exemplo, a homossexualidade, mas como condição geradora de demandas, o que está longe de ser sinônimo de respeito ao homossexual na sua especificidade. Assim, o gay, para ser admitido no mundo dos justos, precisa ser um militante: exposto, "assumido", porta-voz de uma causa, carregando bandeira. Um negro tem de trazer a escravidão estampada na alma. Ou negará a si mesmo. Também à mulher cabe se organizar contra o seu feitor. Não existem indivíduos, mas categorias. É uma espécie de sindicalização do espírito, de corporativismo anímico. É preciso que as "minorias" sejam dotadas de um rancor escravo que as torne dependentes existenciais de seus algozes.
O ódio impotente, que tem de conquistar na marra o que supostamente lhe falta, está na origem de uma nunca contada história sentimental das esquerdas. Uma das filhas de Karl Marx relata que o pai lhes ensinava que Cristo era o filho de um carpinteiro pobre assassinado pelos ricos... Não tinha como dar em boa coisa.
Estaria eu surpreso ou chocado com a baixaria do PT? Não. Como vêem, considero isso um ponto numa longa trajetória. E o partido repetirá o procedimento, com conteúdo novo, tão logo considere necessário. Nessa mesma campanha, os valentes fizeram coisa ainda pior: acusaram a prefeitura de São Paulo de discriminar negras na hora do parto. E que fique claro: não me alinho àqueles que acreditam ou defendem que a política deva ter receio de tratar deste ou daquele tema. Em princípio, todas as questões são "politizáveis" e podem passar pelo escrutínio popular. Num país em que a nova aristocracia sindical, ora abraçada ao velho mandonismo, pretende chamar de vida privada o que não passa de vício público, é preciso tomar especial cuidado ao estabelecer as justas fronteiras entre o individual e o coletivo.
Se a amante de um parlamentar com poder de interferência nos negócios da República tem a pensão alimentícia paga por uma empreiteira; se uma concessionária de serviço público faz negócio com o filho de um político com autoridade sobre essa empresa; ou, ainda, se a vida privada de um homem público influente está em flagrante contradição com sua pregação, tanto o jornalismo como os adversários desses "representantes do povo" têm o direito – e o dever – de levar a questão à arena, à ágora da democracia. Errado é silenciar. Se, no sentido em que trato, todos os assuntos cabem à política, isso não significa ausência de medidas.
E qual é a régua? Justamente a ética, que estabelece as regras, muitas delas não escritas, da convivência pública entre as diferenças. Não se vendo o PT, no entanto, obrigado a dispensar ao outro o respeito que exige para si mesmo, também não se sente comprometido com a sua própria trajetória, rendendo-se à lei da necessidade: "Perca-se a vergonha, mas não a eleição". Nesse juízo perturbado, o escrúpulo é uma herança da cultura que deve incomodar apenas as sandálias da "direita", assim como a coerência é uma cruz que deve pesar exclusivamente sobre os seus ombros. De um modo muito particular, o PT acerta neste caso: ter princípios é mesmo algo próprio da direita democrática, tanto quanto não os ter constitui a verdadeira tradição das esquerdas.
Mas São Paulo disse "não" à campanha suja. E Maria Victoria Benevides considerou isso uma coisa de direita. Talvez ela esteja certa.
Não demonstre medo diante de seus inimigos. Seja bravo e justo e Deus o amará. Diga sempre a verdade, mesmo que isso o leve à morte. Proteja os mais fracos e seja correto. Assim, você estará em paz com Deus e contigo.
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
O muro caiu, mas a amoralidade da esquerda sobrevive
MOVIMENTO ENDIREITAR
Dom, 09 de Novembro de 2008 16:40 Reinaldo Azevedo
Última atualização ( Dom, 09 de Novembro de 2008 16:45 )
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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".
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