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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

“A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO INDUSTRIAL É UMA NECESSIDADE QUE NÃO PODE SER ADIADA”

Dos arquivos do meu pai, professor da antiga Escola Técnica Federal do Espírito Santo, homem cuja paixão pelo ensino era maior do a "inteligência" de toda a esquerdopatia brasileira junta.  


Vejam como ERA o Brasil.


“A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO INDUSTRIAL É UMA NECESSIDADE QUE NÃO PODE SER ADIADA” – O BOLETIM DA CBAI COMO DIFUSOR DA IDEOLOGIA DESENVOLVIMENTISTA.

Mário Lopes Amorim – UTFPR.

O presente trabalho procura fazer uma análise dos discursos veiculados pelo Boletim da CBAI, publicação responsável pela divulgação da atuação desenvolvida pela Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial (CBAI), um programa de cooperação educacional para a formação de docentes para o ensino industrial, firmado entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, assinado em 1946, sendo renovado anualmente, até 1963, quando esta publicação passou a ser editada pelo Centro de Pesquisas e Treinamento de Professores (CPTP), instituição vinculada à CBAI. Dessa forma, apesar de o referido Boletim começar a ser publicado a partir de 1948, na sede da CBAI no Rio de Janeiro, vamos nos restringir aos volumes publicados quando de sua edição pelo CPTP, criado em 1957 na então Escola Técnica de Curitiba (ETC), onde passaram a se concentrar os trabalhos da CBAI no Brasil. A partir de outubro de 1958, o Boletim da CBAI passou a ser elaborado pela Seção de Artes Gráficas da ETC, trabalho que durou até novembro de 1961, quando a sua redação voltou para o Rio de Janeiro.

A justificativa para a escolha desse período reside no fato de que, a partir da criação do CPTP na Escola Técnica de Curitiba, tal instituição passou por uma transformação significativa, desde a melhoria de suas instalações físicas, passando por uma total modernização de seus equipamentos e laboratórios, até a adoção e divulgação de princípios de racionalização científica como o caminho para se atingir a eficiência no ensino industrial, passando com isso a ser considerada a instituição modelar no âmbito de tal modalidade de ensino no país. A ETC passa a ser o exemplo para suas congêneres, pois aí a CBAI está mostrando o que deve ser feito para a melhoria do ensino industrial, tido como condição fundamental para o avanço do Brasil.

Vale ressaltar que, durante o período em tela, o Brasil passava pela euforia desenvolvimentista, e para conseguir superar sua condição de país atrasado, o único caminho a ser trilhado seria o da industrialização, daí a necessidade de se preparar o maior número possível de técnicos industriais, para dar conta das demandas do setor secundário por uma força de trabalho mais bem qualificada. Tratava-se de engajar todos os setores da vida brasileira na busca da superação da condição de subdesenvolvimento. Nesse sentido, verifica-se toda uma construção discursiva em torno da valorização do ensino industrial, como veremos a seguir.

Conforme citamos acima, a CBAI instalou-se inicialmente no Rio de Janeiro, com um programa de ação que era composto de doze pontos, a saber:

1) Desenvolvimento de um programa de treinamento e aperfeiçoamento de professores, instrutores e administradores;
2) Estudo e revisão do programa de ensino industrial;
3) Preparo e aquisição de material didático;
4) Ampliação dos serviços de bibliotecas; verificar a literatura técnica existente em espanhol e português; examinar a literatura técnica existente em inglês e providenciar sobre a aquisição e tradução das obras que interessarem ao nosso ensino industrial;
5) Determinar as necessidades do ensino industrial;
6) Aperfeiçoamento dos processos de organização e direção de oficinas;
7) Desenvolvimento de um programa de educação para prevenção de acidentes;
8) Aperfeiçoamento dos processos de administração e supervisão dos serviços centrais de administração escolar;
9) Aperfeiçoamento dos métodos de administração e supervisão das escolas;
10) Estudo dos critérios de registros de administradores e professores;
11) Seleção e orientação profissional e educacional dos alunos do ensino industrial;
12) Estudo das possibilidades do entrosamento das atividades de outros órgãos de educação industrial que não sejam administrados pelo Ministério da Educação, bem como a possibilidade de estabelecer outros programas de treinamento, tais como ensino para adultos, etc. (FONSECA, C.S., 1961, p. 565. v. 1).

O acordo de cooperação com os Estados Unidos estabelecia recursos da ordem de US$ 750.000,00, sendo US$ 500.000,00 por conta do governo brasileiro, e o restante viria através do Ponto IV,1 entre janeiro de 1946 a junho de 1948. Conforme já mencionamos acima, tal acordo foi sendo renovado até 1963. As atividades da CBAI iniciam-se oficialmente em 1947, com uma reunião de diretores de estabelecimentos industriais, e ainda neste mesmo ano realizou-se o primeiro curso para professores das escolas industriais federais, na Escola Técnica Nacional, no Rio de Janeiro. Tal curso dividia-se em duas etapas, sendo a primeira

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1 Ponto IV correspondia à denominação recebida pelo programa de cooperação e assistência técnica do governo estadunidense para as regiões mais pobres do mundo, na área de transmissão de conhecimento técnico, iniciativa do então presidente estadunidense Harry Truman (Cf. MALAN, in: FAUSTO, 1984, p. 68).

uma revisão dos conhecimentos gerais e técnicos e estudo da língua inglesa, e a segunda um curso de aperfeiçoamento nos Estados Unidos. (Cf. FONSECA, C. S., 1961, p. 567. v. 1).

Podemos analisar a atuação da CBAI no Brasil na perspectiva apontada por Antonio Pedro Tota, como um instrumento para um projeto de “americanização” da América Latina, através da divulgação das virtudes e vantagens da ideologia do americanismo, baseada nos ideais de democracia, progressivismo e tradicionalismo. (TOTA, 2000). Para o Brasil, o progressivismo consistiria na necessidade da produção de bens industrializados para o progresso econômico do país, e conseqüente demanda por uma força de trabalho adequadamente qualificada, tornando-a uma nação soberana e um parceiro mais forte na luta contra a expansão do socialismo no continente, numa conjuntura marcada pela chamada Guerra Fria. O tradicionalismo estaria personificado na defesa dos valores ocidentais, tais como a família, a religião e o enaltecimento do individualismo. Por fim, a democracia, pois através do desenvolvimento industrial, todos seriam beneficiados, e para as camadas menos favorecidas da população o ensino industrial poderia ser visto como uma possibilidade de ascensão social.

Tudo isso, evidentemente, desde que as escolas industriais passassem a atuar de acordo com as prescrições da CBAI, embasadas nos princípios da administração científica, que procuravam incutir nos docentes do ensino industrial a necessidade de se buscar o máximo de eficiência com o mínimo de perdas, tanto de tempo quanto de materiais, através da padronização de procedimentos. Os professores implementariam tais métodos em suas oficinas e nas salas de aula para seus alunos, capacitando-os economicamente através do treinamento recebido a se tornarem cidadãos produtivos, a fim de contribuírem para o desenvolvimento do país.

Tal forma de pensar não era nova. Discursos semelhantes já eram difundidos pelo menos desde a década de 1930 (Cf. AMORIM, 2004), mas tornam-se praticamente hegemônicos a partir da década de 1950, reforçados pela Teoria do Capital Humano, “exatamente na fase mais aguda da internacionalização da economia brasileira – quando se radicaliza um modelo de desenvolvimento amplamente concentrador associado de forma exacerbada ao movimento do capital internacional”. (FRIGOTTO, 1984, p. 128).

O Boletim da CBAI será um dos difusores da ideologia do americanismo no Brasil, praticamente desde a sua criação. Além de trazer em seu bojo um retrato de determinada conjuntura, não apenas no que concerne às idéias, discursos e práticas pedagógicas, também oferece um espectro mais amplo da própria sociedade e de suas representações ideológicas. Assim, “nessa perspectiva, torna-se um guia prático do cotidiano educacional e escolar, permitindo ao pesquisador estudar o pensamento pedagógico de um determinado setor ou de um grupo social a partir da análise do discurso veiculado e da ressonância dos temas debatidos, dentro e fora do universo escolar”. (CATANI & BASTOS, 1997, p. 5). Através de tal perspectiva, verificamos no Boletim da CBAI uma preocupação com a divulgação do trabalho desenvolvido no CPTP, no sentido de possibilitar a mais ampla visibilidade das atividades da CBAI no Brasil, justificando-as como uma importante contribuição estadunidense para ajudar na superação do atraso brasileiro, bem como em sua inserção na modernidade industrial capitalista. A formação de professores para o ensino industrial deveria ser efetivada de acordo com os princípios da racionalização científica, cujos ditames seriam reproduzidos no trabalho docente, pois somente buscando a eficiência produtiva tal modalidade de ensino contribuiria decisivamente para o desenvolvimento econômico do país, modelo este defendido nos exemplares do Boletim. Em suma, o discurso da publicação em tela procura justificar a importância do ensino industrial em geral, e da CBAI em particular, como o caminho para a industrialização e conseqüente progresso do país, através desse raciocínio linear.

A delimitação do perfil do periódico em questão consistiu na coleta de dados do Boletim da CBAI no período em que foi confeccionado na Escola Técnica de Curitiba, no que concerne à pesquisa de artigos, para que numa etapa posterior pudéssemos classificá-los em determinados assuntos, permitindo a verificação da recorrência de temáticas ao longo dos números do periódico. Aí constatamos que, de um modo geral, há todo um embasamento discursivo na ideologia desenvolvimentista, por mais diversos que fossem os assuntos tratados.

Especificamente em relação ao ensino industrial, predominava uma concepção messiânica de que esta modalidade era imprescindível para o desenvolvimento do país, ao se considerar que “a formação do professor do ensino industrial se torna imperiosa e a sua protelação comprometerá todo e qualquer programa de expansão industrial”. 2 Nas mais

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2 “PROFESSOR do ensino industrial”. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XIII, n. 7, p. 7, jul./ago. 1959.

diversas situações, o Boletim da CBAI enfatiza tal ponto de vista. Ao divulgar o Segundo Curso de Treinamento para professores, a publicação destaca que

Bem sabemos o quanto representa para o progresso do nosso país o desenvolvimento do ensino industrial. O Brasil que vem nos últimos anos acelerando decididamente a sua industrialização, não poderia prescindir da técnica e do aperfeiçoamento dos que se dedicam ao mister de aprender como se faz ou dos que ensinam a arte de como fazer os produtos industriais de acordo com a moderna técnica.3

Nesta mesma direção, quando do início do Terceiro Curso de Treinamento, ressalta-se a “necessidade de técnicos especializados por que passa o Brasil nessa formidável evolução de progresso, principalmente no setor industrial”.4

Na convocação para a reunião comemorativa do cinqüentenário do ensino profissional federal, realizada em Volta Redonda, entre 21 e 26 de setembro de 1959, é reforçado que “nos últimos anos, o Brasil parece ter-se acordado e compreendido a importância de desenvolver e incrementar o ensino profissional, sem o qual, aliás, a sua industrialização estaria passível de solução de continuidade”.5

Em determinadas situações, as atividades do CPTP eram tidas como um exemplo de patriotismo, como nas palavras do diretor do Centro, Luiz Procópio: “a alta significação e a importância que representa ao progresso Industrial do Brasil este curso está presente nos vossos esforços, na vossa dedicação e amor à vossa pátria”.6 Note-se que, apesar da mudança de governo7, não se verifica uma mudança no discurso referente à importância que o ensino industrial deveria ter para o país.

Deve-se, porém, levar em consideração que, para haver uma expansão quantitativa e qualitativa do ensino industrial, era fundamental o programa de cooperação com a participação estadunidense, porque este seguia o caminho da racionalização, da eficiência e do ajustamento do estudante, futuro trabalhador. Ao destacar os objetivos das disciplinas do Curso de


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3 SEGUNDO curso de treinamento para professores. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XII, n. 1, p. 5, out. 1958.
4 TERCEIRO curso de treinamento para professores do ensino industrial. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XII, n. 2, p. 4, nov. 1958.
5 CINQÜENTENÁRIO da criação do ensino profissional federal. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XIII, n. 7, p. 7, jul./ago. 1959.
6 AULA inaugural do curso do Centro de Treinamento de Professores. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XV, n. 1, p. 4, mar. 1961.
7 Em 31 de janeiro de 1961, Jânio Quadros toma posse como presidente da República, substituindo Juscelino Kubitschek.

Formação de Professores, revelam-se as suas intenções racionalizadoras, como na cadeira de Planejamento dos Currículos e Programas, ao determinar que “os cursistas deverão aceitar a necessidade do ensino metódico dos ofícios, pelo uso de uma série metódica de tarefas, ou de um programa metódico equivalente”.8 Já em Organização e Administração de Oficinas, os docentes-alunos deveriam adquirir conceitos básicos sobre “economia e eficiência de trabalho e de ensino”.9 E na disciplina de Prática de Oficina,

2 – Os cursistas deverão habituar-se ao uso dos processos mais racionais e modernos de trabalho; 3 – Os cursistas deverão habituar-se aos processos de trabalho que exigirão, quando professores, de seus alunos:
a) Obediência às folhas de tarefas
b) Uso das folhas de informações [...]
d) Padrões de qualidade e rapidez.10

Conclui-se que o CPTP foi criado “a fim de que possamos moldar o elemento formador de técnicos”,11 de acordo com os procedimentos de racionalização científica, pois o treinamento de professores para o ensino industrial deveria ser efetuado de modo que os docentes, ao trabalharem com os alunos dos cursos técnicos, seguissem a mesma senda, garantindo a formação de indivíduos direcionados para a eficiência produtiva, fator tido como fundamental à expansão industrial pela qual passava o Brasil no período. Isso sem contar com a imposição dos valores do american way of life, envolvendo a ideologia da operosidade estadunidense e os valores liberais ocidentais com os quais o Brasil deveria se alinhar, numa conjuntura de conflito com o chamado socialismo real, apresentado como “inimigo da liberdade”. Assim, era essencial cuidar da preparação dos professores do ensino industrial, já que são eles os responsáveis pela constituição da força do trabalho especializada que contribuirá decisivamente para o progresso do país. Tal concepção permeia os boletins da CBAI: no editorial da edição de fevereiro de 1959, enfatiza-se que, “com a crescente falta de mão de obra especializada, as escolas profissionais passam a ocupar lugar de suma importância no cenário nacional. Daí o interesse do Governo em querer dotá-las dos requisitos


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8 OBJETIVOS das disciplinas do Curso de Formação. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XIV, n. 2, p. 14, abr. 1960, grifo nosso.
9 Id., Ibid.
10 Id., Ibid., grifo nosso.
11 IRMÃOS maristas em visita ao Centro de Pesquisas e Treinamento de Professores. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XV, n. 5, p. 16, jul. 1961.

necessários de modo que possam vir em socorro da falta de técnicos, pondo anualmente o maior número possível de profissionais habilitados à disposição da indústria florescente”.12

Uma segunda temática bastante freqüente nas páginas do Boletim da CBAI editado na ETC diz respeito aos técnicos estadunidenses. Enfatiza-se o quão valiosa era para o desenvolvimento do país a presença dos mesmos, no sentido de representarem os exemplos a ser seguidos pelos brasileiros por suas qualidades pessoais, responsáveis pelo seu sucesso profissional. Ao descrever o grupo de técnicos estadunidenses atuante no CPTP, o Boletim da CBAI não economiza elogios: todos, sem exceção, são possuidores de saberes indiscutíveis, dentro de suas respectivas especialidades; são pessoas extremamente dedicadas ao trabalho; adaptaram-se perfeitamente às condições da vida brasileira, muito simpáticos e por isso conseguiram desenvolver muitas amizades durante sua estadia em Curitiba, tratando seus colegas brasileiros de modo bastante afável, compreendendo os elevados desígnios da missão da qual são agentes; e por fim, procuravam aprender a língua portuguesa, não se cansando de elogiar o esforço e a capacidade dos brasileiros. Mais ainda, a referida publicação acentua o caráter sacrossanto do trabalho dos estadunidenses no CPTP,

onde um “staff” de competentes técnicos da grande República do Norte, ao lado de especialistas nacionais, conjunta e amigavelmente trabalha pelo progresso de nossa Pátria, em determinados setores de atividade, cumprindo o sacro e humano princípio bíblico – “Ama a teu próximo como a ti mesmo”.13

As matérias encomiásticas referentes aos referidos técnicos, quando da notícia de seus retornos aos E.U.A. nos revelam uma reverência à suposta superioridade deste país, sempre reforçada pelo Boletim da CBAI, até como uma maneira de justificar o programa de cooperação, representado na Comissão.

Por fim, uma terceira temática reiterada no periódico em análise relaciona-se com a preocupação da CBAI em dar a mais ampla visibilidade ao CPTP. Afinal, tratava-se de mostrar ao país o quanto a ajuda estadunidense era importante para a superação do atraso do Brasil e para a nossa inserção na modernidade industrial capitalista, desde que se procedesse de acordo com o modelo sugerido pela “generosa” nação-irmã do norte... Uma forma


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12 SEMINÁRIO de diretores. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XIII, n. 2, p. 1, fev. 1959.
13 CONFRATERNIZADOS, brasileiros e americanos brindam o natal e o ano novo. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XIII, n. 1, p. 7, jan. 1959.

encontrada para a divulgação dos trabalhos do Centro de Treinamento de Professores foi através de um documentário cinematográfico, produzido pela Herbert Richers, focalizando a ETC e as atividades escolares e das suas oficinas, a ser exibido nas telas dos cinemas brasileiros, no formato de um tele-jornal.14 Na divulgação das atividades da CBAI, dava-se um grande destaque ao elevado número de visitas recebidas pelo CPTP, sendo que todas elas eram consideradas relevantes para demonstrar a importância do trabalho desenvolvido pela CBAI, desde autoridades do governo estadunidense até estudantes de outras escolas, técnicas ou não, passando por autoridades do MEC, diretores de outros estabelecimentos de ensino técnico, professores estrangeiros e empresários industriais. Geralmente, destacava-se a impressão extremamente favorável que as instalações do Centro de Treinamento e da própria ETC causavam nos visitantes. Em uma das suas várias estadas em Curitiba, o diretor da DEI, Francisco Montojos mostrara-se eufórico com as atividades do CPTP;15 Edward Bermann, chefe do Setor de Educação do Ponto IV, pôde

aquilatar a excelência das instalações desse órgão, ficando tão vivamente impressionado que as qualificou como “das melhores da América Latina”. Afirmou também que o Centro de Treinamento está aparelhado para cumprir as suas funções com grande eficiência e aproveitamento dos seus freqüentadores.16

Alunos da Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáutica manifestaram “grande entusiasmo com o que puderam apreciar, adiantando mesmo que em outros setores não puderam encontrar tão fabuloso equipamento e organização”.17 Tal sentimento também se referia à ETC, que a partir do trabalho aí desenvolvido pela CBAI passou a granjear a imagem de escola-modelo, dentre as suas congêneres.
E como não poderia deixar de ser, havia uma preocupação em tornar público aos empresários o trabalho desenvolvido no CPTP. Os boletins da CBAI noticiam a vista do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), Lydio Paulo Bettega, em outubro de 1959, com o objetivo de conhecer os programas desenvolvidos no Centro de


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14 A ESCOLA Técnica de Curitiba na tela de mil e trezentos cinemas do Brasil. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XII, n. 1, p. 14, out. 1958.
15 VISITA a Escola Técnica de Curitiba o Diretor do Ensino Industrial. Boletim da CBAI, v. XII, n. 1, p. 14, out. 1958.
16 MR. EDWARD Bermann visita o Centro de Treinamento. Boletim da CBAI, v. XIII, n. 2, p. 14, fev. 1959.
17 ALUNOS da Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáutica visitam a Escola Técnica de Curitiba. Boletim da CBAI, v. XIII, n. 7, p. 3, jul./ago. 1959.

Treinamento, pelo qual teria ficado “grandemente impressionado”.18 Um grande número de industriais participou da Reunião sobre o Ensino Industrial, comemorativa do cinqüentenário de criação do ensino profissional, de 21 a 26 de setembro em Volta Redonda (RJ), onde ouviram palestras do diretor da DEI, Francisco Montojos, e do diretor brasileiro do CPTP, Lauro Wilhelm, a respeito das atividades do Centro de Treinamento.19 Mas sem dúvida alguma, o interesse do empresariado pode ser demonstrado através da liberação de suas instalações para as visitas dos professores-alunos do CPTP, atividade obrigatória para os cursistas.

O último número do Boletim da CBAI elaborado na ETC data de novembro de 1961, quando deveria voltar a ser publicado no Rio de Janeiro, devido “a interesses do próprio órgão, a fim de melhor atender aos leitores”, de acordo com o seu editorial. Já o CPTP funcionaria até o início de 1965. Mas o que podemos concluir sobre a publicação em questão é que nos seus exemplares está claramente expressa a ideologia desenvolvimentista do período em questão, da necessidade da industrialização como condição indispensável para o desenvolvimento, e por extensão a grande importância do ensino industrial e da adequada preparação docente para tal mister. Para tanto, procura destacar a fundamental cooperação estadunidense através da atuação da CBAI e do seu Centro de Treinamento de Professores como fator determinante para se chegar ao objetivo de contribuir para o progresso do Brasil. Neste contexto, podemos afirmar que a Escola Técnica de Curitiba praticamente centralizou as atenções do ensino industrial no Brasil, já que as principais atividades e eventos ligados a essa modalidade educacional aí se desenvolviam, podendo ser considerados a “menina dos olhos” da CBAI, pois sempre recebia o mais amplo destaque nos boletins do referido programa de cooperação. Por fim, a utilização do Boletim da CBAI é fundamental para a análise da história da Escola Técnica de Curitiba, no âmbito dos trabalhos desenvolvidos na modalidade de História das Instituições Educacionais, considerando que “pesquisar uma instituição escolar é uma das formas de se estudar filosofia e história da educação brasileira pois as instituições escolares estão impregnadas de valores e idéias educacionais. (BUFFA, In: ARAÚJO & GATTI JR., 2002, p. 25).


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18 O PRESIDENTE da Federação das Indústrias do Paraná visita a Escola Técnica de Curitiba. Boletim da CBAI, Curitiba, v. XIII, n. 9, p. 11, out. 1959.
19 Há várias matérias a respeito de tal evento nos boletins da CBAI, de setembro e de outubro de 1959.

FONTES:

BOLETIM DA CBAI. Curitiba: Comissão Brasileiro-Americana de Educação Industrial, 1958-1961.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Mário Lopes. Da Escola Técnica de Curitiba à Escola Técnica Federal do Paraná: projeto de formação de uma aristocracia do trabalho (1942-1963). 2004. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo.

BUFFA, Ester. História e filosofia das instituições escolares. In: ARAÚJO, José Carlos Souza & GATTI JR., Décio (orgs.). Novos temas em História da Educação Brasileira: instituições escolares e educação na imprensa. Campinas: Autores Associados/Uberlândia: Edufu, 2002.

CATANI, Denice Bárbara & BASTOS, Maria Helena Câmara (orgs.) Educação em revista – A imprensa periódica e a história da educação. SP: Escrituras, 1997.

FONSECA, Celso Suckow da. História do ensino industrial no Brasil. RJ: Nacional, 1961. 2 v.
FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. SP: Cortez/Autores Associados, 1984.

MALAN, Pedro S. Relações econômicas internacionais do Brasil (1945-1964). In: FAUSTO, Boris (dir.) História geral da civilização brasileira. Tomo III, 4. vol. SP: Difel, 1984.

TOTA, Antonio Pedro. O imperialismo sedutor. SP: Cia. Das Letras, 2000

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".