Terça-Feira, 21 de Outubro de 2008
Delas certamente resultarão alterações profundas em biografias, teorias, estratégias, correlação de forças e mudanças significativas no comportamento de políticos, partidos, alianças.
É um dado novo em matéria de eleições municipais, sempre criticadas por excessivamente mornas desde a retomada do voto direto para prefeito, em 1985.
Nesse período, uma ou outra provocou impacto. Seja pela novidade, como a eleição da petista Maria Luiza Fontenelle, em Fortaleza, ou pela mudança de expectativa na última hora, como a vitória de Luiza Erundina sobre Paulo Maluf e a derrota de Fernando Henrique Cardoso para Jânio Quadros, em São Paulo.
Casos isolados, nenhuma delas teve significado conjunto, repercutiu de maneira acentuada no cenário nacional ou fez revelações capazes de reorientar condutas para embates futuros.
Tanto que a oposição apegou-se ao dogma segundo o qual eleição de prefeito não ultrapassa os limites do município e sublimou antecipadamente o "passeio" dos partidos aliados ao governo federal que, por isso mesmo, tentou dar às disputas um caráter de plebiscito nacional em torno da popular figura do presidente Luiz Inácio da Silva.
Não aconteceu o passeio, não ocorreu o plebiscito, não houve julgamento contra ou a favor. Em compensação, sobraram confrontos eletrizantes, resultados surpreendentes, políticos saíram bem menores, outros ficaram enormes, teorias foram fulminadas, conceitos revistos, gente que era coadjuvante passou a figurar como protagonista e vice-versa.
Nada se passou de acordo com as regras preestabelecidas, o inesperado continua a produzir surpresas todos os dias e no domingo, com viradas ou sem elas, haverá prefeitos eleitos politicamente perdedores bem como candidatos derrotados com a aura de vencedores.
Isso sem contar os políticos que passam definitivamente da segunda para a primeira divisão dos produtores de votos e aqueles que conseguiram bom desempenho contrariando o manual do político tradicional.
Caso típico de Fernando Gabeira, no Rio. Entrou na disputa e passou para o segundo turno com o mesmo jeito de "outsider" de sempre. Nos debates jogou na inteligência deixando de lado as normas de marketing, enquanto o adversário, Eduardo Paes, se ocupava em dar repetidos nós na própria trajetória.
Se ganhar, Paes terá assumido a marca do político disposto a "tudo" pela cidade, inclusive se humilhar em público, manipular preconceitos e alimentar na população a idéia de que é dever do bom governante manter relação de camaradagem e subserviência com o poder central.
Em São Paulo, Marta Suplicy consolidou a imagem de candidata de fôlego limitado que em algum momento - a exemplo de Ciro Gomes - pode falar ou fazer algo contra si. Seu grupo planejava sair da eleição com uma candidatura presidencial para confrontar a opção Dilma Rousseff e acabou com uma hipótese de candidata ao governo do Estado a mercê dos adversários internos.
Em Belo Horizonte, fracassaram a certeza da transposição de uma relação administrativa entre PT e PSDB para a política e a tentativa de imprimir um caráter de experimento nacional à união dos dois partidos.
Em Salvador, a luta da fase final entre PT e PMDB simboliza o que poderá vir a ser a conseqüência mais séria em termos da base de apoio do presidente Lula: a perda do principal parceiro para a oposição e, de imediato, o empenho do Planalto para evitá-la.
O PMDB passará a dar as cartas com muito mais peso e isso, evidente, altera a correlação de forças dentro do governo e, depois, para a sucessão em 2010. Baiano, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, entrou para o rol de primeira grandeza e será personagem essencial dessa articulação.
Uma eleição municipal peculiar, cujas peculiaridades completas só serão visíveis a partir de domingo. Apenas uma tese permaneceu intocada: a de que o confronto com o presidente Lula faz perder votos.
Ninguém se arriscou a fazer o teste. Lula não foi posto em xeque. Ao contrário, todos os políticos mostraram-se amenos com ele. Ficou acima dos conflitos, desviou-se de quase todos os terrenos minados, preservou-se, foi preservado e, por isso, não se sabe se seus pés são mesmo de aço ou se são feitos de barro.
Bela viola
Examinadas com lupa as pesquisas em Belo Horizonte, a campanha de Márcio Lacerda verificou que nas classes D e E o adversário Leonardo Quintão saiu-se bem na estratégia de posar como aliado de Aécio Neves, porque o eleitor acreditou que havia dois candidatos "amigos" do governador: um simpático (Quintão) e outro carrancudo (Lacerda).
E se a origem do produto era a mesma, sentiram-se à vontade para escolher aquele com a melhor embalagem.
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