ESTADÃO
Ex-deputado e atual presidente do PTB afirma ter sido procurado pelo deputado petista e hoje líder do governo para ficar calado e preservar mandato
18 de julho de 2012 | 22h 20
Débora Bergamasco, de O Estado de S. Paulo
Às vésperas do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, diz que Arlindo Chinaglia (SP), então líder do governo, ofereceu uma "saída pela porta dos fundos" para que não seguisse com a denúncia que abalou o governo petista em 2005.
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Ed Ferreira/AE
Ex-deputado Roberto Jefferson assume presidência do PTB
Pela proposta, Jefferson entregaria a presidência do PTB ao então ministro Walfrido dos Mares Guia (hoje no PSB). Depois, seria escalado um "delegado ferrabrás" para tocar o processo e um relatório pelo não indiciamento do petebista.
"Acharam que eu ia me acovardar. Me confundiram com o Valdemar Costa Neto. De joelho eu não vivo, eu caio de pé", disse Jefferson ao Estado antes da Convenção Nacional do PTB, nessa quarta-feira, 18, em Brasília. Durante mais de três horas, discursos enalteceram a "coragem" do ex-deputado por denunciar o maior escândalo do governo Lula.
A reunião do PTB foi feita para mostrar ao Supremo que Jefferson não é um "qualquer" e que goza de prestígio em seu partido. Ideia do advogado do réu petebista, Luiz Francisco Corrêa Barbosa, que sugeriu antecipar o evento, previsto para novembro, e transformá-lo em "convenção-homenagem".
Carlinhos Cachoeira deveria falar tudo o que sabe à CPI?
Ele é um homem de negócios, não é um homem público. O político tem o patrimônio moral, que é a imagem, para preservar. Ele é chamado de bicheiro, seus negócios nunca foram, assim, muito dentro da lei. Será que ele está zangado? Tem mais é que se preservar mesmo.
Ao denunciar o mensalão, o sr. queria preservar sua imagem?
Claro. Me foi oferecida a troca: eu sairia da presidência do PTB, a daria ao Walfrido. Seria nomeado um delegado ferrabrás para o processo. E o relatório seria pela minha absolvição, pelo não indiciamento. Quer dizer, eu viveria de joelhos, sairia pela porta dos fundos. Eu falei: "Não vou, não. Entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente. Ou vocês arrumam isso que vocês montaram ou vou explodir isso". Não toparam e foi o que eu fiz. Acharam que ia me acovardar, que eu tinha jeito de Valdemar Costa Neto (presidente do extinto PL, hoje PR, e réu do mensalão), que ia renunciar para depois voltar. De joelho eu não vivo, caio de pé. Fiz o que tinha que fazer. Fui julgado errado pela turma do PT.
Quem fez essa proposta?
O líder do governo (Arlindo) Chinaglia foi à minha casa e fez a proposta. Eu disse: "Não tem a menor chance de dar certo. Não vai para frente".
Arrependeu-se?
Não. Não dá para dar uma de galo mutuca e fugir. Vai olhar o neto no olho como? "Vovô foi acusado, renunciou para não ser cassado..." Isso é conversa de vagabundo, tô fora.
Como avalia o impacto do julgamento nas eleições municipais?
Prefiro agora do que em 2014. Está na hora de ser julgado. O João Paulo Cunha (candidato pelo PT em Osasco) é o único que pode se prejudicar agora.
Haverá surpresa?
Para mim, a sentença que virá – absolvendo ou condenando – é que ninguém mais pode abusar. Quem é processado sofre, todos devem estar sem dormir, como eu. Digo por mim, o processo em si já é uma punição.
De 2005 para cá, houve mudança na postura política brasileira?
Ah, mudou. Até a própria mudança do Lula para a Dilma. O Lula era tolerante com esses abusos, a Dilma, não. O sinal amarelo está aceso para todos. Agora tem que deixar tudo claro. Quando chega uma doação, a gente quer saber de onde vem, quem está mandando, o que ele quer. Antes, se vinha dinheiro, vinha dinheiro.
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