MUNDO | 03.02.2011
A "ordem número 00447" aprovada pelo Politburo, o escritório do comitê central do Partido Comunista da União Soviética, chegou em 31 de julho de 1937. Com essa ordem, emitida por Nikolai Yezhov, comissário do Interior, foi iniciado na União Soviética o episódio conhecido como o Grande Expurgo.
Criminosos, membros de comunidades religiosas, ex-membros de partidos políticos, opositores dos bolcheviques, cossacos, kulaks (donos de propriedades rurais) e todas as pessoas consideradas opositoras ao regime passaram a ser perseguidos.
Muitos prisioneiros não sobreviveram ao cárcereO Expurgo stalinista começou em agosto de 1937 e durou até novembro de 1938. Os julgamentos eram feitos por "troikas", compostas pelo chefe local do partido, um representante dos Comissariados do Interior e um promotor público.
Segundo estimativas atuais, cerca de 800 mil pessoas foram vítimas do Grande Expurgo. Desse total, em torno da metade foi assassinada por arma de fogo e a outra foi mantida presa por longo tempo. Muitas destas vítimas morreram no cárcere. Durante muito tempo não se soube os exatos motivos que originaram a ordem de Yezhov.
Novas informações
Pesquisadores do Instituto Histórico Alemão em Moscou e da Universidade do Ruhr (Bochum), juntamente com colegas na Rússia e na Ucrânia, pesquisaram o assunto. A questão que pode ser colocada, e que muitos pesquisadores ainda acreditam, é se, por exemplo, o Grande Expurgo de 1937 se deveu ao fato de os detentores do poder esperarem uma guerra e, por isso, queriam eliminar "elementos antisoviéticos".
Para Marc Junge, membro da equipe de pesquisas, "provavelmente as razões da grande ação foram de ordem econômica ou por razões da política interna, o que a torna ainda pior". Já para o pesquisador Michael Ellman, o Expurgo de Stalin pode ser considerado também um exemplo de social engineering. Para constituir o socialismo, determinados grupos sociais são apoiados, enquanto outros são aniquilados, explicou.
Na Ucrânia sob domínio soviético, a ação teve o objetivo de extinguir em definitivo os kulaks (proprietários de grandes propriedades rurais) e, segundo Serhiy Kokin, diretor do arquivo do Serviço Secreto da Ucrânia e co-editor do livro O Grande Expurgo na Ucrânia. Operação Kulaks 1937 – 1938, isso já havia começado entre os anos de 1929 e 1930. Segundo ele, as pesquisas deixaram claro como naquela época Moscou trabalhava em conjunto com as demais regiões. Muitas das decisões eram tomadas pelos representantes locais dos comissariados do Interior.
"Descobertas terríveis"
Bernd Bonwetsch: 'descobertas terríveis'O que especialmente assustou os pesquisadores alemães foi o fato de muitas mortes terem sido planejadas detalhadamente. Bernd Bonwetsch, antigo chefe do Instituto Alemão em Moscou e membro da equipe de pesquisas, declarou: "O mais importante do que descobrimos é a organização burocrática do que, em última análise, pode ser chamado de extermínio em massa".
Marc Junge relatou que os pesquisadores não sabiam que o Expurgo também visara as camadas baixas da população: "Fizemos uma verdadeira descoberta sobre como ele cresceu. O Expurgo contra a elite foi uma coisa terrível, mas também os camponeses mais humildes, os clérigos de pequenas cidades e criminosos de pequena monta sofreram com ele".
Acesso aos arquivos secretos em Kiev
Após cinco anos de trabalho, os pesquisadores publicaram diversos livros, editados em alemão, russo e ucraniano. "Falando honestamente, nós não estávamos certos de que poderíamos finalizar este trabalho", confessou Bonwetsch.
O maior problema para os historiadores foi o acesso a documentos. O arquivo do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, sucessor do KGB) não foi aberto aos alemães.
"Acabamos encontrando quatro regiões em que documentos do arquivo do serviço secreto haviam sido entregues a arquivos regionais", conta Marc Junge, citando como exemplos as russas Tver, Perm e Yaroslavl. Os pesquisadores contam que receberam também grande apoio da Ucrânia, onde segundo Junge o serviço secreto possibilitou o acesso integral aos documentos em seu arquivo em Kiev.
Autores: Roman Goncharenko / Markian Ostaptschuk (pp)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Revisão: Roselaine Wandscheer
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