SEXTA-FEIRA, 4 DE FEVEREIRO DE 2011
Glenn Beck e Sarah Palin: Conservadores. Mesmo?
(Foto)
DEXTRA: Atendendo a pedidos, estamos pondo novamente no ar este ensaio (aliás, brilhante) do Lawrence Auster.
Lawrence Auster: View of the Right, 20 de julho de 2002
Tradução, foto e link*: Dextra
Como podemos ver pela recente manifestação de desprezo por parte de Peggy Noonan em relação a qualquer idéia não-ideológica de nacionalidade, como não sendo melhor do que "lama", a convicção do conservador médio americano de que os Estados Unidos não são nada além da encarnação de idéias universalistas não se desvanece com o tempo, como se poderia esperar, mas torna-se cada vez mais dogmática e inegociável. Ao adotarem com tamanho fervor o proposicionalismo, o conservadorismo moderno mais uma vez revela o seu caráter essencialmente liberal/esquerdista.
Como já se apontou muitas vezes, o conservadorismo moderno consiste, em larga medida, em queixas a respeito das consequências de premissas esquerdistas que os próprios conservadores adotam. Assim, eles se queixam da correção política, embora se recusem a ver que o politicamente correto é uma consequência lógica da crença na igualdade não-discriminatória, que os próprios conservadores apoiam. Assim, eles se queixam dos muçulmanos anti-ocidentais entre nós, embora se recusem a questionar a política de imigração que trouxe estes muçulmanos para cá. Assim, eles criticam este ou aquele excesso da feminização das Forças Armadas, embora se abstenham de atacar a própria idéia de se permitir a presença de mulheres nas Forças Armadas. Na verdade, os conservadores apoiaram cada estágio desta loucura, da admissão de mulheres nas academias militares, nos anos 70; até o aumento do número de mulheres nas Forças Armadas, durante a administração Reagan, nos anos 80; o posicionamento de mulheres a bordo de navios da Marinha; e a indicação de mulheres para unidades muito próximas às de combate. Hoje, um conservador, no que toca a questão das mulheres nas Forças Armadas, é alguém que, depois de ter cedido em todos os estágios da feminização das Forças Armadas até o momento, se opõe ao posicionamento de mulheres diretamente em posições de combate.
Este é o padrão dos conservadores americanos. Eles aceitam todas as inovações esquerdistas até o presente momento e só se opõe à próxima iniciativa que a esquerda está tentando implementar. Mas assim que aquela reforma ou inovação cultural acontece, os conservadores a aceitam como um fato, põe de lado como um "extremista" qualquer um que persista em em atacá-la (ou seja, qualquer um que realmente tem princípios não-esquerdistas) e se retiram para a posição recuada seguinte. Sim, eles preferem impostos mais baixos a mais altos; sim, eles antipatizam com a ação afirmativa; sim, eles preferem uma defesa nacional mais forte a uma mais fraca e um presidente moralmente decente a um canalha traidor. Mas na maioria das questões fundamentais relacionadas à sobrevivência de nossa cultura, os conservadores aceitam as obras -- e os princípios subjacentes -- da esquerda.
Eu estou definindo a esquerda de forma ampla, como uma ideologia ou sentimento que deriva, de uma forma ou de outra, das idéias da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade e a idéia jacobina do estado oni-includente (nacional ou global), governando uma sociedade de indivíduos desenraizados, com todas as associações intermediárias, lealdades e fontes de autoridade social que se encontram entre o individuo e o estado -- tais como a comunidade local, a igreja, as culturas distintas, chegando por fim (no globalismo) a nações e raças inteiras -- eliminadas, de modo a dar origem a uma única ordem mundial homogênea.
Este padrão, em linhas gerais jacobino, pode tomar várias formas, algumas totalitárias, outras (inicialmente) livres, mas todas elas -- já que todas procuram impor uma única idéia igualitária ou racionalista qualquer ao mundo e assim destruir as distinções culturais existentes -- conducentes ao fim da liberdade cultural, política e individual. A esquerda marxista tradicional busca reduzir o mundo a uma única ordem homogênea, baseada na igualdade econômica. A esquerda multiculturalista busca uma ordem social baseada na "diversidade", querendo dizer, com isto, uma sociedade na qual há muitas culturas "iguais" e nenhuma cultura dominante, e na qual este padrão multicultural é imposto a todas as instituições. Os conservadores econômicos buscam uma ordem racionalizada mundial, baseada na liberdade econômica capitalista, na qual todas as nações e culturas particulares desaparecerão uma a uma. Os neoconservadores moralistas (um grupo que vai se tornando menos relevante, à medida em que cada vez mais aqueles entre seus membros cedem à cultura nihilista dominante da "boemia burguesa”) buscam uma ordem mundial baseada nos valores familiares, no capitalismo democrático e no multiracialismo, na qual culturas e povos distintos terão desaparecido. (Os neoconservadores morais imaginam que a sociedade pode manter um consenso moral na ausência de qualquer identidade etno-cultural, história e lealdade compartilhadas, simplesmente com base em uma adesão compartilhada a "idéias" -- uma fórmula mais jacobina do que qualquer outra que já houve.) Até mesmo os mais destacados conservadores cristãos, do Papa João Paulo II a grupos evangélicos como a Christian Coalition e os Promise Keepers [Guardiões da Promessa], fizeram das fronteiras abertas e do amalgamento racial cruzadas morais suas.
Então, os vários tipos de conservadores têm ideologias que podem ser descritas, de diferentes formas, como neo-jacobinas. Os conservadores de hoje são a asa direita da mesma revolução da qual a esquerda é a asa esquerda. A revolução precisa de ambas.
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