Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

sábado, 2 de outubro de 2010

Presenças honrosas

MÍDIA SEM MÁSCARA

Um sindicato de maridos traídos não seria talvez tão lerdo e recalcitrante em tomar ciência das más notícias.

Entre os quase sessenta mil signatários do "Manifesto em Defesa da Democracia" há, decerto, um bom contingente de cidadãos - nos quais me incluo - que jamais se deixaram enganar pelo "novo paradigma" imposto à política brasileira desde a ascensão das esquerdas ao primeiro plano do espetáculo nacional. Mas há também uma parcela de celebridades da mídia, do show business, da política e do mundo empresarial, das quais não se pode dizer o mesmo. O próprio site do Manifesto incumbe-se de distinguir os dois grupos, reunindo o segundo nos links "Assinaturas em destaque" e "Artigos em destaque" .
Significativamente, a quase totalidade dos nomes aí "destacados" são de pessoas que integram uma das seguintes categorias:
(1) Contribuíram ativa e entusiasticamente para a criação do monstro petista e até hoje não lhe fazem restrições - quando as fazem - senão limitadas e pontuais.
(2) Sem ser petistas ou simpatizantes, julgaram a ascensão do PT um fenômeno positivo para a democracia e a defenderam galhardamente contra quem quer que, com base na leitura dos próprios documentos internos do partido, advertisse que se tratava de uma organização revolucionária de alta periculosidade.
(3) Fizeram tudo o que podiam para bloquear ou inibir a divulgação da existência e das atividades do Foro de São Paulo, entidade com que o PT salvou e restaurou o movimento comunista latino-americano, ameaçado de extinção no começo da década de 90.
(4) Repetidamente denunciaram toda veleidade de anticomunismo como uma ameaça temível e um abuso inaceitável, ajudando a criar assim a atmosfera de hegemonia esquerdista na qual o triunfo do PT, como personificação mais pura do esquerdismo nacional, se tornava claramente inevitável (v. meu artigo de setembro de 2004, "Assunto encerrado").
Atribuindo a esses indivíduos um lugar de relevo, o site do Manifesto dá a entender que a presença de suas assinaturas infunde no documento um valor a mais, revestindo-o de uma autoridade moral que a mera quantidade de signatários não poderia lhe conferir.
O critério de julgamento aí subentendido é, por si, toda uma lição de sociologia quanto à mentalidade daquilo que o sr. Presidente chama de "azé-lite". Basta assimilar essa lição para compreender por que o País chegou ao ponto em que se tornou necessário arrebanhar às pressas sessenta mil pessoas para defender uma democracia que, ainda meses atrás, tantas delas proclamavam firmada e consolidada - vejam vocês - pelo fato mesmo da ascensão petista.
O que os destaques do site evidenciam, desde logo, é que, no sentimento geral da "azé-lite", o mérito supremo, em política, não consiste em perceber os perigos em tempo de preveni-los, mas em recusar-se obstinadamente a enxergá-los, ou a deixar que alguém mais os enxergue, até quando já nada mais reste a fazer contra eles senão assinar um manifesto - o último recurso dos derrotados.
Com toda a evidência, as opiniões, nesse meio, não valem pelo seu coeficiente de veracidade, de oportunidade estratégica ou de eficácia preditiva, mas, justamente ao contrário, só são admitidas como dignas de alguma atenção - ainda assim parcial e seletiva - quando obtêm finalmente o nihil obstat dos últimos a saber. Um sindicato de maridos traídos não seria talvez tão lerdo e recalcitrante em tomar ciência das más notícias.
Mas a lentidão paquidérmica em admitir os fatos não é causa sui. Ela vem do apego supersticioso da "azé-lite" à lenda de que o movimento comunista não existe e de que toda tentativa de denunciá-lo só pode ser coisa de extremistas de direita, saudosistas da Guerra Fria, loucos de pedra e teóricos da conspiração. Essa lenda foi criada para infundir naquelas pessoas a ilusão de que o fim do regime militar traria magicamente ao Brasil uma democracia estável, de tipo europeu - ilusão necessária, precisamente, para que a gradual mas inevitável ascensão de comunistas e pró-comunistas ao poder absoluto aparecesse a seus olhos como o fruto espontâneo da "evolução democrática" e não como o resultado de um planejamento maquiavélico de longo prazo, que os documentos do PT e do Foro de São Paulo atestam para além de toda dúvida razoável.
A expressão "azé-lite" é tardia. Muito antes dela, em 1996, no meu livro O Imbecil Coletivo, eu já havia dado a essa faixa social o nome de "pessoas maravilhosas", observando que para tornar-se uma delas você deveria antes de tudo acreditar que, embora o comunismo não exista, ser comunista é chique e ser anticomunista é brega.
Agora, na página do Manifesto, até uma pessoa indiscutivelmente maravilhosa como o sr. Luiz Eduardo Soares, que viu na publicação daquele meu livro um sinal alarmante de ressurgimento da abominável direita, sai gritando, tarde demais, contra os "bolcheviques e gambás" (sic) que se apossaram do País.
Pessoa maravilhosa é também o sr. Luís Garcia, que ainda em 2008 se orgulhava de tudo ter feito para lotar de esquerdistas as páginas de opinião de O Globo e muito se arrependia de haver ali encaixado, mesmo a título de falso balanceamento, um único direitista que fosse. Num gesto inusitado para um chefe de redação, o sr. Garcia chegou a puxar, nas páginas do jornal, uma discussão com esse direitista - que não era outro senão eu -, para alegar que o referido, ao alertar contra o poder crescente do esquerdismo continental, estava enxergando crocodilos embaixo da cama.
Ainda ontem, crocodilos, gambás e bolcheviques só existiam na minha imaginação perversa. De repente, surgindo do nada, tomaram posse do circo inteiro e assombram as noites das pessoas maravilhosas que riam de quem os enxergava.
Já nem falo dos srs. Hélio Bicudo, Ferreira Gullar, Eliane Cantanhede e tantos outros, que, ajudando a instaurar o mito do monopólio esquerdista do bem e da verdade, criaram as condições indispensáveis para transformar a política brasileira numa disputa de família entre organizações de esquerda, ignorando ou fingindo ignorar que a hegemonia ideológica traz inevitavelmente, mais cedo ou mais tarde, o império do partido único, contra o qual hoje esperneiam com ares de inocência surpreendida.
Todos esses, sem exceção, apostaram suas vidas na mentira mais estúpida e letal que alguém já inventou contra a democracia: a mentira de que é possível um regime democrático normal e saudável sem partidos de direita, ou só com uma direita amoldada servilmente aos propósitos da esquerda. Ao assinar o Manifesto, não têm sequer a honestidade de reconhecer que o assinam contra si mesmos. Num país onde o fingimento é a mais excelsa das qualidades morais, isso é razão suficiente para considerar seu apoio àquele documento uma honra digna de menção especial.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".