Ana Paula Grabois | De São Paulo
28/09/2010
Luiz Ushirobira/Valor
O advogado Ricardo Salles, 35 anos, se diz o único candidato assumidamente de direita do país. Salles quer uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo e defende, prioritariamente, a participação zero do Estado na economia. Ser de direita, segundo o candidato, é, antes de tudo, se opor ao que a esquerda defende. "A esquerda é contra as privatizações, a iniciativa privada, o livre mercado; nós somos a favor. Ela é contra as liberdades individuais em prol de um abstrato interesse coletivo; nós defendemos as liberdades individuais", diz Salles, sócio de um escritório de advocacia que atua na área do direito concorrencial em causas que tramitam no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Oposicionista ferrenho do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Salles tem publicado anúncios aos domingos em jornais de grande circulação de São Paulo de sua candidatura sob o título "Chega de PT!". O objetivo é atrair a classe média, espremida entre os beneficiários do Bolsa Família e "a elite que recebeu empréstimos subsidiados do BNDES". Sobre os juros altos adotados pelo Banco Central, diz que a classe média também tem obtido vantagem com as taxas elevadas. "Uma pessoa de classe média, se tiver R$ 1 mil aplicado em título do governo, também está se beneficiando", afirma.
De família paulistana de advogados, Salles estudou em colégio católico, fez administração no Mackenzie e pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas. Mora desde que nasceu no Morumbi. É na zona sul de São Paulo que concentra sua campanha. Também tem visitado cidades do interior como Ribeirão Preto, Barretos e Araçatuba. "Temos três públicos-alvo: agronegócio, associações comerciais e OAB", afirma. Salles é fundador junto com quatro amigos do "Endireita Brasil", movimento que promove há dois anos o Dia da Liberdade de Impostos, que ocorre no dia 25 de maio, o primeiro dia do ano que o brasileiro começa a não pagar em impostos em proporção à carga tributária em vigor. Os cinco integrantes do grupo se cotizam e subsidiam os impostos de um dia de venda de gasolina em um posto de São Paulo. Neste ano, quem abasteceu no posto escolhido pagou 53% a menos sobre o preço cheio. O equivalente aos impostos, R$ 10 mil, foi pago pelo grupo.
Salles diz existir um vácuo na representação da direita no país, diversa da que apoiou a ditadura militar. "Somos uma nova direita, acima de tudo democrática", afirma. O candidato do DEM enxerga uma "demonização" do termo direita após a ditadura, mas justifica a opção naquela época. "Quando a população exigiu a intervenção dos militares, tivemos um regime militar de direita que visava evitar que nós caíssemos numa ditadura de esquerda de base sindical como era aquela que João Goulart", diz.
Salles não considera de direita o deputado Paulo Maluf (PP-SP), a quem denomina de "adesista", assim como os Sarney. "São sempre governo", diz. Até no DEM vê esse vazio. Por motivos eleitorais, o DEM "disfarça" a posição de direita para se aproximar da social-democracia do PSDB. "O Democratas perde aqueles que poderiam ser naturalmente seus apoiadores", diz Salles, para quem existe demanda no eleitorado por esse tipo de posicionamento político. Cita pesquisa Datafolha segundo a qual 47% dos jovens de 18 a 25 se diziam de direita. "Se ninguém é de direita, alguém que assim se diz de não tem em quem votar."
Contra o aborto, a favor da pena de morte e contra o uso de drogas, tem proposta controversa sobre o uso de drogas caso elas venham a ser liberadas. Além de condicionar a liberação do uso à legalização do comércio, defende a responsabilização do usuário sobre a própria saúde, pois "do ponto de vista liberal, cada um faz o que quer com seu próprio corpo". "Se formos liberar as drogas, o usuário tem que assinar um termo abrindo mão da tutela estatal do ponto de vista da saúde pública. A pessoa que se droga tem que se virar sozinha depois", afirma.
Salles vê erro na ajuda dos governos a bancos e empresas na crise internacional eclodida em 2008 nos Estados Unidos. "O problema não foi o liberalismo, foi a ausência dele. No liberalismo, deixavam quebrar as empresas ineficientes", diz.
O candidato acusa o intervencionismo do governo americano de causar a crise financeira global, ao ter baixado os juros. "Essa crise, ao contrário do que dizem muitos dos esquerdistas de plantão, não foi consequência do liberalismo. Aconteceu porque houve intervenção excessiva do governo americano, ao baixar artificialmente as taxas de juros para o consumo", afirma. Contrário à reforma agrária, Salles diz que o problema no Brasil não é de concentração de terra. "É de geração de riqueza, que se faz com livre mercado e com defesa da propriedade privada".
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