Quinta-feira, 22 de abril de 2010 10:20
Adriana Fernandes e Fernando Nakagawa, da Agência Estado
BRASÍLIA - Dados divulgados pelo Banco Central mostram uma piora nas contas externas brasileiras. O déficit em transações correntes acumulado no primeiro trimestre somou US$ 12,145 bilhões, o pior resultado da série do Banco Central para os primeiros três meses do ano. A série teve início em 1947. As informações são do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes
No primeiro trimestre do ano passado o déficit em transações correntes era quase três vezes menor (US$ 4,938 bilhões), o correspondente a 1,74% do PIB. Em 12 meses até março, o déficit em transações correntes subiu para US$ 31,509 bilhões, ou 1,79% do PIB.
Em março, o balanço de pagamentos do Brasil com o exterior apresentou um déficit na conta de transações correntes de US$ 5,067 bilhões. O resultado negativo é bastante superior ao déficit de US$ 1,559 bilhão, registrado em março do ano passado.
Os gastos com viagens internacionais na conta de serviços no balanço de pagamentos do Brasil com o Exterior apresentaram um déficit de US$ 543 milhões. Em março do ano passado, o déficit havia sido de US$ 124 milhões. No primeiro trimestre, a conta de viagens internacionais acumula um saldo negativo de US$ 1,685 bilhão ante um déficit de US$ 495 milhões no primeiro trimestre de 2009.
As despesas com transportes apresentaram um saldo negativo de US$ 574 milhões, em março e de US$ 1,259 bilhão no trimestre. Os gastos com royalties e licenças apresentaram um saldo negativo de US$ 188 milhões, em Março, e um déficit acumulado no trimestre de US$ 636 milhões. As despesas líquidas com aluguel e equipamentos apresentaram um resultado negativo de US$ 1,257 bilhão, em março. No acumulado do ano, os gastos foram de US$ 2,880 bilhões.
Dívida externa
A dívida externa total atingiu US$ 206,499 bilhões em março. A estimativa projetada para a dívida em dezembro de 2009 era de US$ 198,194 bilhões. Em setembro de 2009 - a última posição fechada da dívida externa - o montante somava US$ 204,670 bilhões.
Segundo o BC, a estimativa da dívida externa em março é composta por US$ 172,273 bilhões em compromissos de médio e longo prazos e US$ 34,227 bilhões em pagamentos de curto prazo.
Investimento estrangeiro
O ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) no País, em março, somou US$ 2,018 bilhões. O valor não foi suficiente para cobrir o déficit em transações correntes do mês. Altamir informou que o ingresso de IED) em abril, até hoje, soma US$ 2,1 bilhões. Ele considerou o resultado obtido até o momento positivo. A previsão do técnico do BC para o ingresso de IED em abril é de US$ 2,8 bilhões. O BC projeta um déficit na conta de transações correntes de US$ 4,8 bilhões em abril.
Em fevereiro deste ano, o ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) foi de US$ 2,849 bilhões, mas também não havia sido suficiente para cobrir o déficit em transações correntes registrado naquele mês, de US$ 3,251 bilhões. No acumulado do primeiro trimestre, o ingresso de IED soma US$ 5,656 bilhões. Em 12 meses, o fluxo de IED para o País totalizou US$ 26,263 bilhões - o equivalente a 1,50% do Produto Interno Bruto (PIB).
O ingresso de IED no trimestre corresponde a praticamente metade do déficit em transações correntes do período, que foi de US$ 12,145 bilhões.
O Banco Central informou que o investimento estrangeiro em ações brasileiras somou US$ 2,158 bilhões em março. O valor mensal responde por quase a metade do ingresso externo observado no acumulado do primeiro trimestre de 2010, quando os estrangeiros aumentaram a posição líquida em ações de empresas nacionais em US$ 5,270 bilhões.
Altamir informou que o investimento estrangeiro em ações brasileiras soma US$ 2,551 bilhões em abril até o dia 22. Segundo ele, o ingresso de recursos foi gerado apenas pelo movimento com as ações negociadas no Brasil, que atraíram US$ 2,693 bilhões. O saldo das operações com recibo de ações brasileiras transacionadas no exterior, como as ADRs, ficou negativo em US$ 142 milhões.
Altamir também disse que o investimento estrangeiro em papéis de renda fixa negociados no Brasil atraiu US$ 782 milhões em abril até hoje.
Segundo o BC, a maior parte das aplicações feitas por estrangeiros no mês passado ocorreu com as ações negociadas no mercado brasileiro, que recebeu US$ 1,885 bilhão. A parcela restante, de US$ 273 milhões, foi adquirida via recibo de ações brasileiras negociadas no exterior, como os ADRs.
O BC também informou que estrangeiros aumentaram sua posição em títulos de renda fixa, em US$ 1,491 bilhão em março. No acumulado dos três primeiros meses de 2010, esses investidores alocaram US$ 4,058 bilhões nesse tipo de investimento. No resultado do mês passado, estrangeiros aumentaram a posição em papéis negociados no País em US$ 1,962 bilhão, ao mesmo tempo em que reduziram o investimento em títulos brasileiros negociados no exterior em US$ 471 milhões.
Lucros e dividendos
As remessas de lucros e dividendos somaram US$ 2,509 bilhões em março. O valor mensal representa mais da metade das transferências ao exterior feitas por multinacionais instaladas no Brasil, já que as remessas somam no primeiro trimestre US$ 4,586 bilhões.
A remessa de lucros de dividendos realizada por empresas multinacionais instaladas no Brasil somou US$ 2,129 bilhões em abril até o dia 22, conforme dados preliminares divulgados pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central. O valor de parte do mês já é próximo da remessa total feita em março, quando as companhias enviaram US$ 2,509 bilhões. Altamir também informou que o pagamento de juros em abril somou US$ 860 milhões no mês, até o dia 22. Em março, os pagamentos somaram US$ 582 milhões.
A nota do BC mostra também que a despesa com juros no exterior somou US$ 586 milhões em março e US$ 3,053 bilhões no acumulado dos três primeiros meses do ano. O BC também informou que o déficit da conta de viagens internacionais ficou em US$ 543 milhões em março. No primeiro trimestre, o déficit da conta de turismo já soma US$ 1,685 bilhão.
Empréstimos
A taxa de rolagem dos empréstimos de médio e longo prazos feitos pelas empresas brasileiras no exterior atingiu 102% em março. Em março do ano passado, as empresas rolaram apenas 48% dos seus empréstimos.
No primeiro trimestre do ano, a taxa de rolagem subiu para 172% ante 52% do mesmo período de 2009. No ano de 2009, as empresas rolaram 88% das operações realizadas no exterior.
Os dados do BC mostram que as taxas de rolagem dos bônus, notes e commercial papers, em março, foram de 101%, com amortizações de US$ 2,039 bilhões e desembolsos de US$ 1,982 bilhão. A taxa de rolagem de empréstimos diretos atingiu, em março, 118%, com amortizações de US$ 289 milhões e desembolsos de US$ 341 milhões.
A taxa de rolagem dos empréstimos externos está em 290% em abril até o dia 22. A taxa, segundo Altamir, é composta pela renovação de 210% das operações em papéis e a forte taxa de 1.222% observada em empréstimos diretos.
(Esta matéria foi atualizada às 16h49)
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