GEOPOLÍTICA NO HAITI
20 de janeiro de 2010
Se existe o horror na terra, algo parecido com o fim do mundo, está no Haiti. Nenhuma alma pode deixar de lamentar e prantear o que está acontecendo naquela ilha do Caribe. Em nenhum lugar a frase bíblica se aplica melhor: os vivos terão inveja dos mortos. Ao lado da pobreza crônica, histórica, tivemos agora a destruição física. A infra-estrutura desapareceu com o terremoto, a linha se suprimento foi interrompida, a fome e a sede, como raras vezes uma sociedade padeceu, ali se instalaram. O governo desapareceu. O futuro desapareceu. Só resta aos que sobreviveram contar com a caridade internacional.
Mesmo essa caridade, que chegou, não está isenta de interesses. Vários artigos, como o do Le Monde reproduzido pela Folha de São Paulo, mostram que a ação pronta norte-americana, necessária e humanitária e, sob todos os aspectos, digna de aplausos, precisa ser compreendida dentro do duelo em que a maior das soberanias nacionais, os EUA, está em confronto direto com aqueles que desejam implantar o projeto de governo mundial e usam a ONU como escada para alcançar esses objetivos. Até a data do terremoto o Haiti estava sob jurisdição da ONU, na qual o Brasil desempenha, a mando do Lula, o papel de administrador e de polícia. A chegada unilateral e espetacular dos EUA surpreendeu e serviu para expor a fonte do poder real. A ONU não tem músculos sequer para mandar no Haiti.
A situação daquele pequeno país não é de emergência militar, mas humanitária. O recurso militar serve apenas para garantir a ordem e exibir o poder de quem o tem. Não há inimigos a combater ali, exceto os infortúnios, agora agravados com o terremoto (ou os terremotos, vez que vários vieram na seqüência). A ação dos EUA mostrou que aquele país tem recursos, capacidade de mobilização pronta e vontade política de fazer a coisa certa no prazo exíguo, coisas que faltaram aos burocratas da ONU. Nenhum dos apoiadores da Força de Paz lá instalada tinha quaisquer desses requisitos. O Brasil, coitado, tem Forças Armadas sucateadas e jamais teria como mandar um porta-aviões carregado para servir de unidade supridora de bens ao povo vitimado. Nem tinha um gigantesco navio-hospital para, no prazo de 48 horas, zarpar pronto para entrar em ação. Nem dinheiro. E, menos ainda, vontade política para realizar empreitada de tamanha envergadura. Afinal, como diz a canção, o Haiti também é aqui e sequer temos como enfrentar as nossas próprias mazelas com os parcos recursos de que dispomos.
O fracasso da ONU é rotundo e o Brasil, por apoiar suas aventuras imperiais canhestras, acabou por se envolver com um problema maior do que poderia resolver. Vimos o comando brasileiro perder o controle, que agora está com quem de direito, com quem paga a conta e pode lá enviar quantos soldados for preciso. Não deixou de ser uma prova humilhante. A perda do aeroporto foi a mais emblemática confissão de fracasso.
Acredito que a mobilização norte-americana foi generosa e unilateral. Tudo dentro da tradição daquele povo bendito, que sempre está disposto ajudar alhures, na paz e na guerra, onde precisar. Não faltaram análises de observadores mal intencionados, dizendo que o cálculo de Barack Obama foi eleitoral, que pretende impedir o agravamento da imigração, que é a oportunidade de colocar em prática um grande exercício de enfrentamento de grandes catástrofes. Se há um elemento de realidade em cada uma dessas motivações, basta lembrar que mais importante que o Haiti é o México, o que não impediu a construção de um muro fronteiriço contra a emigração ilegal. Situações diferentes, soluções diversas. Vi a motivação humanitária sobrepor-se a todas as outras.
A brincadeira amadora da ONU acabou e os profissionais de verdade chegaram ao cenário de operações. A experiência provou que os delirantes revolucionários encastelados na ONU estão muito longe de pôr a operar a sua Cosmópolis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário