sexta-feira, 15 de janeiro de 2010 | 16:42
Não há terremoto, acreditem, por maior que seja, que consiga superar os males causados pela ignorância, pela estupidez, pelo preconceito, pela ignomínia. A quantidade de mortos no terremoto do Haiti só serve para evidenciar que o que mais mata por lá é o que fez o homem, não o que faz a natureza. Ou outra seria a infra-estrutura do país, por exemplo, e a tragédia teria matado muito menos.
Por que isso? Um vagabundo moral chamado George Samuel Antoine, cônsul-geral do Haiti em São Paulo, sem saber que estava sendo gravado por um equipe de reportagem do SBT, afirmou o seguinte sobre a tragédia em seu país: “A desgraça de lá está sendo uma boa pra gente aqui; fica conhecido“. Ele também tem uma explicação para um desastre de tal proporção ter acometido seu país:“Acho que é de tanto mexer com macumba. Não sei o que é aquilo. O africano em si tem maldição. Todo lugar que tem africano tá fodido”.
Ora, o que se espera que aconteça com um delinqüente como esse? Que seja afastado de sua função, é evidente. Não! Não vai ser. O embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre-Jean, disse que ele fica porque “não é hora de dividir”, mas de somar. Entendi… Eis o que significa ter um governo que consegue ser mais devastador, ao longo da história, do que o terremoto. Idalbert afirmou que George Samuel vai pedir desculpas. Ah, bom…
O cônsul certamente se refere ao vodu, religião da maioria dos haitianos. O mais curioso é que ele, à semelhança do povo que trata com evidente desprezo, também acredita no poder do que chama “macumba”. Ele só é um tantinho mais perverso. Os cultores do vodu devem achar que seus rituais lhes trazem sorte, eventualmente desdita para algum inimigo. Na visão mística de George Samuel, eles provocam terremotos…
Esse ser asqueroso não sabia que sua fala estava sendo gravada. Pode-se até discutir eticamente a decisão de levar a gravação ao ar, mas isso não ameniza a sua fala e o seu pensamento grotescos.
Já na entrevista oficial, ele aparece manipulando terços: “Esse terço, nós usamos que (sic) dá energia positiva, que acalma as pessoas, tá certo? Como eu estou muito tenso, deprimido, com o negócio (sic) do Haiti, a gente fica mexendo com vários para se acalmar”.
Dona Reinalda, que é árabe — sim, Tio Rei (branco com índio) é pai de duas lindas mestiças —, me informa que aquela peça que ele manipula se chama “masbaha“, também conhecida por “terço isâmico”, “terço árabe” ou “terço grego”. Tem, para os muçulmanos, a mesma função do terço católico: ser um guia de oração. O hábito, no entanto, se espalhou no Oriente — e, como se vê, fora de lá — também entre os não-muçulmanos: tornou-se algo que “acalma”, que traz “energia positiva”. Usado com esse caráter, não se distingue do… vodu! O tal cônsul não sabe que o que difere o seu fetichismo do fetichismo alheio é só o cinismo, a vigarice e a truculência.
No Brasil, estaria preso. E essa é uma boa notícia para nós. No Haiti, ainda que à distância, está no poder. E essa é mais uma má notícia para eles.
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