QUINTA-FEIRA, 21 DE JANEIRO DE 2010
TIBIRIÇÁ RAMAGLIO
Os petistas são obsessivos. Sua ideia fixa é a manutenção do poder, por meio da eleição de Dilma Rousseff. Essa obsessão os cega e fatalmente os fará cometer inúmeros erros daqui para frente, o que, se não levá-los a derrota por conta própria, pelo menos pode contribuir com a campanha da oposição. Referindo-se à reação do PSDB às provocações de Dilma, Ricardo Berzoini postou em seu twitter ontem o seguinte comentário: “PT manda a fatura e PSDB passa recibo”. Ora, comentar publicamente a estratégia de que se utiliza, ainda que para provocar o adversário, é deixar um flanco aberto. Quantos flancos o PT precisará abrir até o PSDB deixar de passar recibos?
No Chile, a Concertación fez questão de usar o fantasma de Pinochet como cabo eleitoral de Frei. Seu discurso de campanha voltava-se para o passado. O de Sebastián Piñera olhava para a frente. Parafraseando Joãosinho Trinta, quem gosta de História é intelectual. Além do mais, o PT é tão previsível e sua retórica anda tão esvaziada que a refutação de seus argumentos, em muitos casos, se tornou desnecessária. O argumento da ética na política, por exemplo, já não pode ser usado. Até os jegues do sertão nordestino já não têm dúvidas de que o PT é farinha do mesmo saco e rouba tanto quanto qualquer outro partido político brasileiro. Suponho que os bichinhos nem chegam a identificar nisso um problema, porque seu interesse é o de que roubem, mas façam.
Enfim, o bom-mocismo dos candidatos petistas também não cola mais, em particular numa candidata como Dilma Rousseff, cujo passado condena e cujo autoritarismo e arrogância são evidentes a mais não poder. Não é possível que a antipatia da figura e sua vinculação com o radicalismo esquerdista não possam ser empregados para golpeá-la no fígado. Aliás, a retórica revolucionária, cujo avatar da vez são os direitos humanos, destinado principalmente aos jovens e à classe média “esclarecida”, é uma faca de dois gumes. O PT não pode negá-la, mas, a maioria do eleitorado, ela certamente assusta mais do que seduz. Será que ninguém vai explorar eleitoralmente o radicalismo do Programa Nacional dos Direitos Humanos e mostrar o risco que o Brasil corre de se transformar numa nova Venezuela caso Dilma seja eleita? Não será possível explorar os sentimentos aversivos que a figura de Chavez desperta em grande parte dos brasileiros e colar a imagem do Mussolini de Caracas na de Dilma? Não seria interessante divulgar junto ao grande público a linguagem e os projetos revolucionários que o Partido ostenta em seus meios de comunicação?
Sinceramente, acho que a própria figura de Lula talvez seja uma faca de dois gumes, o que só não vê quem é covarde. Sua propalada popularidade junto a 80% do eleitorado não é propriamente sua, pois se deve exclusivamente à bonança na economia, que não foi ele quem promoveu. Lula não desperta paixões, não é uma personagem como foi Getúlio Vargas que despertava o afeto incondicional dos eleitores e que fez do PTB uma espécie de Flamengo dos partidos políticos. Creio que a simpatia a Lula é muito circunscrita e que, por isso mesmo, ele não tem conseguido transferir até o momento o seu prestígio para sua candidata. Certamente, o melhor para a oposição na campanha é colocar a figura de Lula de lado – afinal, ele é passado –, para bater forte no PT e no seu projeto revolucionário, que tem inequivocamente em Dilma Rousseff um de seus mentores. Aliás, o próprio fato de o PT acalentar ambiguamente esse projeto, ora negando-o, ora fazendo avançá-lo de maneira traiçoeira, é uma bruta vulnerabilidade.
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