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terça-feira, 28 de outubro de 2008

DOS POSTES AO PTSUNAMI...

Por e-mail (sic)

Waldo Luís Viana*

O excessivo otimismo vociferado pelos petistas, de que Lula elegeria até um poste, esboroou-se com os resultados das eleições municipais, em que o partido do governo, além de perder fragorosamente na capital paulista, conquistou apenas 501 municípios em todo o território nacional.

Com toda a arrogância barbuda, filha de um sindicalismo de resultados com o hermafroditismo de um capitalismo de fundos de pensão num mesmo corpo de socialismo de mercado e diplomacia terceiro-mundista – o lulismo vivia, lépido e fagueiro da popularidade do chefe irremovível, inamovível e invulnerável, como se fosse um deus.

Só que esse “deus ex-machina” não transfere votos, ou seja, é uma espécie de demiurgo sem santos, apenas um chefe carismático cercado de áulicos, com fraca densidade eleitoral.

O panorama externo, favorável durante seis anos de governo, deu uma fenomenal guinada e não mais auxiliará o governo Lula, que deverá andar dessa vez com as próprias pernas, sem levitar sob ventos de liquidez fácil e de jogatina. A estratégia dos juros altíssimos para atrair capitais especulativos não vingará mais, pelo simples fato de que não há mais capitais especulativos. Eles evaporaram. Sumiu aquela tendência de investir 1 e ganhar 10. Os bancos que fizeram isso, as empresas que fizeram aquilo, os espertos que manipularam virtualmente capitais-fantasmas totalmente virtuais – muitos estão agora arruinados: são mendigos de colarinho branco...

Lula abusou do culto à personalidade e agora deve ater-se à economia real, que ainda vive os últimos dias de Pompéia: ainda tem o lastro do otimismo dos economistas e das agências que vaticinavam as fortunas que ganharia o país na manipulação bursátil das commodities, mas que, agora, terão de se condicionar ao que existe e não às mentiras de um cassino virtual, absolutamente sem qualquer taxação.

As eleições municipais, por sua vez, comprovaram que o PT não passa de um enorme “arenão” a serviço do chefe. Vale dizer, sem Lula não há PT, nem haverá. Difícil para o chefe escolher, dentre tantos medíocres que o cercam, um “poste” para tentar eleger em 2010. Agora, a crise vai se espraiar, primeiro fingindo que está refluindo, como o mar faz, antes de investir com ondas gigantescas e trágicas sobre o continente.

A crise não é como a de 1929, porque hoje o sistema econômico é interconectado e repercute suas crises por todo o mundo capitalista. As bolsas, com as suas cinematográficas e vertiginosas quedas, começam a prejudicar o dia financeiro a partir do leste e vão caminhando pela Europa oriental e ocidental, atingindo, por fim, a América Latina e os Estados Unidos, que são o Extremo Ocidente. Quanto já foi gasto em reuniões com líderes mundiais para decidir o amparo a instituições financeiras inadimplentes, que se dedicaram a albergar os recursos da esperta elite financeira que, de repente, ficou ilíquida? Inaugurou-se nova modalidade microeconômica: o “overnight” ao contrário: os bancos e financeiras ficam no vermelho ao final do dia e, na calada da noite, um empresta dinheiro ao outro para não haver o estouro da boiada da incredibilidade e a destruição dos sistemas de capitais que só subsistem baseados na confiança.

É claro que os banqueiros sempre possuem bons helicópteros e jatinhos para fugir, mas agora fugir para onde? E enfrentar as barras da Justiça em qualquer lugar representa uma suprema vergonha, a ponto de esse modesto escriba acreditar que alguns estão montando estruturas do tipo que no passado apelidavam de “tesouro de Odessa”.

O PT, porém, com o seu primarismo – e por acreditar piamente em seu chefe, que ainda respira e tem apoio popular – só poderá organizar um “tesouro de Odete”, visando ao pleito de 2010. No entanto, percebemos que os artistas em cena não têm estofo para assumir um grande país, principalmente porque será coberto pelas vicissitudes da enorme crise e recessão que se avizinham e que não possui um Roosevelt para a administrar. A mediocridade dos candidatos em disputa ao governo norte-americano bem o comprovam. Tanto é assim que os americanos estão olhando com muito mais atenção para os vices do que para os próprios candidatos, porque lá não são depostos os governantes que incomodam; eles são simplesmente eliminados.

As instituições globais e multilaterais, baseadas nos sortilégios de Bretton Woods, de 1944, não têm mais competência para conter crises globais, porque foram criadas para administrar a eventual supremacia norte-americana, surgida após a 2ª Guerra Mundial e que erodiu, em nossos dias, feito fumaça. Nossa história foi sempre um trabalho de amor (direita) e ódio (esquerda) contra essas instituições, que conseguiram administrar o mundo de forma monopolista, principalmente após o êxito dos acordos da Trilateral (1973), patrocinados por Nelson Rockfeller, que culminaram, enfim, com a queda do muro de Berlim (1989), a destruição da União Soviética (1992) e a superação da noção “pura” de socialismo de Estado, baseado na burocracia estatal e na polícia secreta.

Embora alguns caipiras latino-americanos desejem ressuscitar essas fórmulas fantasmagóricas, já perceberam que “isso não pega mais”. Chávez começa a temer que os norte-americanos passem a não mais usar o petróleo venezuelano, usando parte de suas reservas secretas da Costa Leste; os bolivianos e paraguaios inventam um pretenso “imperialismo brasileiro” para terem como distrair as suas respectivas populações e nós brincamos de usar o petróleo do “pré-sal” para educar nossa população analfabeta de fato, analfabeta funcional e analfabeta para o mercado real.

Lula e o PT perderam as eleições municipais, mas não se dão por vencidos, porque o chefe está vivo e é amado (ainda!) pelo povo. Mas para além dos governantes, o povo ama a própria sobrevivência e o próprio bolso. Essa dialética, sem querer, foi estabelecida pelo PT: um partido que se imaginava eleito, mesmo que apresentasse um candidato como poste, agora tem que reforçá-lo contra o grande tsunami de destruição financeira e de iliquidez que irá devastar o ano de 2009.

Como esses prefeitos eleitos irão cumprir as promessas inúmeras que fizeram se os recursos serão esterilizados ou oferecidos a banqueiros e empresários faltosos que transferiram os bingos para as instituições financeiras? O povo não atinou que promessa sem dinheiro é pior que amor sem beijo: no final vira prostituição...

E após a prostituição sempre vem a direita...

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*Waldo Luís Viana é escritor e economista (todo mundo tem um defeito...)
Teresópolis, 28 de outubro de 2008. [estou vivo...]

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".