HÁ POUCO, a euforia com o surto de crescimento da economia brasileira somado ao descobrimento dos campos de petróleo fazia acreditar que o Brasil estava blindado contra as mazelas que se revelavam na economia mundial. Chegou-se a pensar que seríamos de novo uma ilha de prosperidade num mundo em recessão, o que, de fato, havia acontecido por breve período no "milagre econômico brasileiro" dos anos 1970, quando a economia do país crescia mais do que a chinesa atual.
Havia muito para o Brasil celebrar.
A demanda chinesa fez com que nossa dívida externa fosse quase toda paga e nossas reservas em divisas atingissem a marca de US$ 200 bilhões. A transferência de renda aumentou a inclusão social, e os investimentos decorrentes do aquecimento econômico fizeram crescer a nossa classe média.
Atingimos o grau de investimento e ainda fomos abençoados com o bônus da descoberta de reservas gigantescas de petróleo no pré-sal. A liberação generosa de créditos agrícolas promoveram a ampliação das áreas plantadas, e a demanda de um mundo carente de alimentos contribuiria ainda mais para as reservas do país.
Todavia, a falta de um plano para a nação, bem como de um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo, aliada a uma necessária reestruturação da nossa economia, fez com que aproveitássemos pouco -e mal- o período de prosperidade da economia mundial.
Não há como criar uma nação prospera e moderna sem plano e sem planejamento. Deixamos passar a fase de bonança mundial para criar as defesas que poderiam proteger nosso país da crise financeira que se alastra e se aprofunda a cada dia.
Sem um rumo definido, fomos beneficiados pela economia mundial em ascensão. Agora, estamos esperando que se revele o destino para onde as ondas negativas nos levarão. O pouco que nosso país tem crescido se deve mais à teimosia do povo empreendedor que a influências do Estado, que consome 40% da riqueza nacional.
Acordamos para a realidade com a velocidade com que vimos se evaporar a nossa poupança em ações e a acelerada desvalorização da moeda.
Enquanto nações como EUA, China e outras agressivamente adotavam políticas de estímulo econômico com juros baixos e câmbio favorável para fazer frente à recessão mundial, nosso otimismo fez com que agíssemos na contramão do bom senso econômico.
À frente a uma das mais severas recessões mundiais, aumentamos a taxa de juros e mantivemos nosso cambio em situação desfavorável até que a as circunstâncias forçaram a desvalorização do real.
Com a nossa desorganização econômica, as reservas de petróleo serão insuficientes para desenvolver a nação. Convém lembrar que países como Venezuela e Irã continuam em situação de subdesenvolvimento, apesar das grandes reservas de petróleo. Da mesma forma, vimos nações enriquecerem em curto prazo sem grandes riquezas naturais, como China, Japão e demais tigres asiáticos.
Nada substitui a organização econômica de um país. Mercantilismo, o caminho da riqueza dos tigres asiáticos e da China, deverá ser o modelo adaptado para o Brasil.
O atual processo de recessão, com a crise sistêmica do setor bancário e da economia global, tem tudo para se transformar em uma profunda e prolongada depressão mundial. E já estamos vendo essa queda contagiar nossas commodities, cuja exportação tanto nos rendeu nesses últimos anos e que iria blindar o Brasil.
O sistema do "laissez-faire", de Adam Smith, pregado para o mundo como fórmula sagrada para a prosperidade, ora revela suas limitações. A socialização dos prejuízos de Wall Street e a estatização total ou parcial de quase todas as entidades financeiras chocaram a opinião pública norte-americana. A intervenção de governos na economia, mais chegada às teorias de Keynes e que se aproxima da direção planejada dos tigres asiáticos e da China, deve ora ser vista pelo mundo sob nova ótica. O capitalismo, da forma praticada, deixará de existir.
Agora temos que nos livrar do modelo econômico de pobreza, que sempre abafou nosso crescimento com taxas de juros exorbitantes. O câmbio desfavorável, o sistema de entraves, a velha legislação trabalhista e a falta de plano e planejamento fazem parte do nosso modelo de pobreza.
Enquanto a China conseguiu promover a inclusão econômica e social de 480 milhões de habitantes em 25 anos, nossos bolsões de miséria se mantêm. E a moeda chinesa, que flutua de acordo com uma cesta de moedas, se manteve estável nesta crise.
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