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segunda-feira, 28 de julho de 2008

Suicídio cultural

Do portal MÍDIA SEM MÁSCARA
por Jeffrey Nyquist em 23 de julho de 2008


Resumo: O Último Homem de Fukuyama é um especialista, um inseto na colméia, um não-ente, um burocrata – com falsas noções de nobreza que invertem o elevado e o baixo. O Último Homem está enredado na lógica descendente do igualitarismo: ele não mais aspira a nada, não mais olha para coisas mais altas. Seu olhar se fixa para baixo, na sarjeta, e não até o Paraíso no alto.

© 2008 MidiaSemMascara.org

A colunista britânica Melanie Philips[1] teme que a Guerra ao Terror esteja sendo perdida. Em 2006, ela publicou um livro intitulado Londonistan [Londonistão], que delineia a crescente ameaça islâmica e a débil reação britânica. Entre os seus insights você encontrará a seguinte acusação contra a política cultural britânica (que se aplica igualmente aos Estados Unidos): “A Grã-Bretanha tornou-se uma sociedade decadente, enfraquecida por alarmantes tendências na direção do suicídio social e cultural”.

Você sabe, estamos todos destinados a viver numa “aldeia global” e a nação é um obstáculo em nosso caminho. Somos encorajados a nos tornarmos “multiculturais”. Ao mesmo tempo, os ideais nacionais são rotulados como culpados pela xenofobia, pela guerra e pelo racismo. Uma utopia igualitária toma o centro do palco. Portanto, Deus e o país devem ser enxovalhados. Em meio a essa nova “revelação”, não há nenhuma surpresa no fato de que nossa cultura tenha se tornado uma contracultura; que nossas tradições sejam atacadas abertamente pelos descontentes com procuração outorgada sabe-se lá por quem.

Certa vez, na pequena cidade de Dewsbury, [West Yorkshire, Inglaterra] ocorreu uma batalha amarga, “quando os pais de vinte e seis crianças brancas recusaram-se a mandá-las para uma escola pública primária cuja maioria dos alunos era muçulmana”, e sobre a qual se tinha a idéia de estar “privilegiando a cultura asiática e muçulmana”. De acordo com Philips, “Dezoito anos mais tarde, Dewsbury acordou para o fato de que tinha sido o lar... de Mohammed Sidique Khan, aparentemente o líder dos ataques a bomba de 7 de julho de 2005, em Londres”.

O que devemos entender disso? É muito simples: o sistema britânico perdeu seu instinto de autopreservação, pois permite que estrangeiros imponham idéias estrangeiras aos cidadãos nascidos na Grã-Bretanha. De acordo com Philips, “Este colapso da autoconfiança nacional surgiu de uma combinação de coisas”. Em especial, brotou do advento do niilismo europeu e do igualitarismo. O establishment britânico, nas palavras de Philips, tornou-se “particularmente vulnerável à ideologia revolucionária da esquerda, que dominou o mundo ocidental nos anos 1960 e 1970 e no cerne da qual repousam os ódios aos costumes e tradições da sociedade ocidental”.

Para aqueles com olhos para ver, a gravidade da situação tornou-se dolorosamente aparente durante os anos 1980 – quando os conservadores estavam ocupados demais congratulando-se a si mesmos pelas vitórias que não obtiveram. Ronald Reagan foi um bom líder, mas o ambiente cultural que o circundava já estava saturado de relaxantes produtores de ilusão. Enquanto a Doutrina Reagan era proclamada pelo presidente, quase não era apoiada pela nação ou pela burocracia em Washington. Portanto, não é nenhum acidente que uma defesa eficaz contra mísseis russos intercontinentais jamais tenha sido posta em prática, que a retirada soviética do Afeganistão já anunciasse a emergência da Al Qaeda, que Daniel Ortega retomasse a Nicarágua, que Jonas Savimbi perdesse a guerra civil angolana para os comunistas, que a África do Sul caísse nas mãos do CNA[2], que o Congo se tornasse igualmente comunista, e ainda a Venezuela, a Bolívia, etc.

Quem realmente venceu a Guerra Fria? Parece incrível considerar a idéia; mas talvez seja mais do que jamais possamos compreender: a história é algo que não aconteceu contada por pessoas que não estavam lá. Os anos 1960 trouxeram mudanças sinistras, os anos 1970 trouxeram crise, mas, nos anos 1980, tudo se submeteu sob o estandarte “Morning in America”.[3]

Considere a realidade: o trombeteado retorno aos valores tradicionais foi, em grande medida, fraudulento. A queda do comunismo foi projetada m Moscou. As escolas públicas ficaram piores e piores. O crescente comércio com a China foi um câncer. Um presidente com a memória cada vez mais fraca foi cercado e minado por renegados e apaziguadores em sua própria administração. “Aqueles que não conseguem lembrar o passado”, escreveu George Santayana, “estão condenados a repeti-lo”. E não era apenas a memória do presidente que falhava. Os próprios Estados Unidos tinham desenvolvido Alzheimer. De que outra forma podemos explicar a popularidade do clamorosamente confessional livro de Francis Fukuyama, The End of History and the Last Man [O Fim da História e o Último Homem]?

Aqui encontramos uma racionalização do hedonismo através dos tempos, e uma razão para esquecer o Holocausto, para esquecer os açougueiros marxistas dos campos da morte do Camboja, para esquecer o Gulag soviético, o massacre da Praça Tiananmen, o legado totalitário e negar a sua prontidão para acontecer de novo. O Último Homem de Fukuyama é um especialista, um inseto na colméia, um não-ente, um burocrata – com falsas noções de nobreza que invertem o elevado e o baixo. O Último Homem está enredado na lógica descendente do igualitarismo: ele não mais aspira a nada, não mais olha para coisas mais altas. Seu olhar se fixa para baixo, na sarjeta, e não até o Paraíso no alto.

Ainda que muitos dêem de ombros ou riam, é inegável que um punhado de estadistas manteve o Ocidente. Onde estão esses estadistas agora? Os pais conscritos do antigo senado deram lugar ao Último Homem. A confusão reina enquanto o governo americano ignora a primeira lição da política do século XX: não subestime o mal. Os críticos do governo, porém, de forma tola, ignoram a segunda lição da política do século XX: apaziguar o mal promove o mal.

E o que acontece quando o bem é confundido com o mal? Fiquem ligados e assistam ao que acontece. De acordo com Melanie Philips, o britânico médio pensa “que os Estados Unidos são a fonte de todo o mal, que George W. Bush é um criminoso de guerra maior do que Saddam Hussein jamais foi e que Israel oferece uma ameaça à paz mundial”. Isso seria chocante, mas nós já sofremos tantos choques. Estamos entorpecidos e sobram poucos sentimentos. Talvez já seja mais tarde do que imaginávamos. Talvez a duradoura aliança entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos tenha acabado. Qual o apelo, qual a correção, que remédio ainda há para essa estupidez crônica? Philips está certa ao dizer que “a Grã-Bretanha tornou-se uma sociedade decadente“. Mais que isso, ela ainda acrescenta: “A implacável demonização dos Estados Unidos e de Israel pela mídia britânica serviu como um poderoso agente de recrutamento para a jihad...”.


© 2008 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

[1] NT: Melanie Philips escreve na The Spectator, uma das mais prestigiosas revistas britânicas, ainda relativamente conservadora e onde Paul Johnson também tem coluna fixa.

[2] NT: Congresso Nacional Africano, organização comunista liderada por Nelson Mandela.

[3] NT: Slogan político em 1984 que, em sua versão completa, equivaleria a algo como “O redespertar da América: mais orgulhosa, mais forte, melhor”.


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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".