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segunda-feira, 28 de julho de 2008

ORTEGA E AS CIRCUNSTÂNCIAS

Do portal do NIVALDO CORDEIRO
Por Nivaldo Cordeiro em 22 de julho de 2008


A mais famosa frase cunhada por Ortega y Gasset, ele que era um escritor que construía frases memoráveis a cada página escrita, é: Eu sou eu e a minha circunstância e se não a salvo, não salvo a mim mesmo, posta no intróito ao livro Meditaciones del Quixote”. Depois da expressão “Penso, logo existo”, cunhada por Descartes, é a mais sensacional síntese filosófica que um pensador tenha conseguido. Ela diz muita coisa em filosofia, é a própria representação da razão vital orteguiana, que veio para superar o unilateralismo idealista e sepultar de vez um eventual resgate do realismo filosófico.

Não tenho o propósito aqui de expor, nas poucas palavras que escreverei, esse verdadeiro duelo da história do pensamento ocidental, que tem em Ortega y Gasset um apogeu. Teria eu que ser um filósofo também, o que não sou, e ter um espaço para, pelo menos, escrever um ensaio. Eu quero apenas fazer um pequeno comentário à expressão, muito a propósito para pensarmos o momento histórico que estamos vivendo.

O que podemos perceber é que a maior parte dos autores gosta de citar a primeira parte da sentença “Eu sou eu e a minha circunstância”, deixando em segundo plano a segunda parte, “e se não a salvo, não salvo a mim mesmo”, tão importante. Certo, a primeira parte é, digamos, a mais contemplativa. Ela demonstra que o Eu é tão fundamental quanto as coisas são, aquelas que encontramos, cada um de nós, na longa jornada que é a vida individual. As pequenas e as grandes coisas por igual. A verdade é resultado desse encontro do olhar humano com as coisas em derredor. Pensar é olhar”, ensinou Ortega certa vez. E nessa abordagem perspectivista vemos o filósofo espanhol ombrear-se com os grandes filósofos de todos os tempos, de Sócrates a Kant e Hegel e todos os outros. A ingenuidade realista dos antigos e a soberba autonomizada do Eu na modernidade são deixadas para trás enquanto unilateralidades incapazes que darem conta de explicar o real.

O interessante aqui é a segunda parte da sentença. É um olhar do homem de ação, depois da contemplação. Há uma forte ressonância cristã – o apelo à salvação – embora não pretenda ter um elo teológico. É que “salvar-se” tem sempre uma conotação metafísica e a pressuposição de que a transitoriedade da vida humana é aparente. A jornada continua por toda a Eternidade. A responsabilidade diante de Deus está posta ao vivente, mesmo que eventualmente ele a recuse e nem a reconheça. Mas o que estava à vista do filósofo era a coisa mais terrena, mais imediata, mais histórica. Era o contexto social, sua sociologia. Ortega estava vendo, àquela altura dos idos de 1916, a dramática emergência do homem-massa na Espanha e na Europa em geral, que triste memória deixou para a humanidade. Pensando sociologicamente, a expressão remete ao vivente a responsabilidade de salvar as circunstâncias. E as circunstâncias de um indivíduo são dadas precisamente pelo que ocorre na política. E a política não é alheia à ação individual de cada um.

É preciso, portanto, salvar a política das mãos do homem-massa para que possamos salvar a todos e a cada um. Mais precisamente, é preciso enquadrar o homem-massa, restabelecer a hierarquia. Salvar aqui, em minha opinião, tem o primeiro de seus sentidos dicionarizados: “Tirar ou livrar a si mesmo de perigo, dificuldades, ruína ou morte”. Há um grande perigo em nosso momento, muito semelhante àquele que Ortega viu a seu tempo. O ponto é que não temos escolha que não agir para salvar-nos a nós mesmos. Ninguém fará isso por nós, que somos os agentes históricos. A omissão não salvará ninguém, muito ao contrário, ela apenas entregará os destinos coletivos nas mãos dos que têm a alma moralmente deformada. Daqueles que não se importarão em causar morte e destruição.

Agir para salvar as nossas circunstâncias é, antes de tudo, tornar-se um líder. É ter o sentido da civilização, é conhecer o legado espiritual do Ocidente. É assumir a responsabilidade. A horda dos decadentes só toma o comando do Estado quando os homens egrégios se apequenam. O momento é de se fazer o movimento inverso, de pôr o homem-massa no seu lugar. A vida convida todos nós à responsabilidade existencial. Salvar-se requer, antes de tudo, ter uma atitude moral consigo mesmo, que fatalmente influenciará o meio. As massas, deixadas por si mesmas, serão enganadas pelos demagogos malignos, no rumo do desastre.

A questão é: como fazer isso? Ora, mudando cada um de nós mesmos e formando o caráter daqueles que nos são próximos. Sem esse pequeno tijolo inicial não se fará construção alguma. A ordem social depende da ordem na alma individual. Tornar-se alguém maduro, recusar as falsas facilidades do populismo, resgatar os valores da tradição, santificar a vida cotidiana... Parece fácil enumerar, mas se tivéssemos feito isso a tempo não teríamos de chegar, ainda uma vez, ao mesmo estágio em que Ortega y Gasset encontrou a Espanha para cunhar a sua frase imorredoura.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".