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quinta-feira, 5 de abril de 2012

Resposta ao leitor: O que a dinâmica social tem a ver com hedonismo e materialismo radical?

 

LUCIANO AYAN

 

Existem dois tipos de objeções que trato neste blog. As que partem de leitores honestos (que gostem do meu material ou não) e as que partem de safados.

É por isso que tratei com gratidão as críticas feitas pelo Macartista enquanto dei chutes nos fundilhos de Bruno Almeida (veja aqui e aqui).

O leitor Edans Djeh também faz objeções, e encaixa-se na primeira opção. Acho que as críticas feitas são oportunidades de esclarecimento. Abaixo segue o comentário dele:

Olá LH, estou sempre por aqui, mas hoje eu gostaria de trocar uma idéia. Mystery só não faz militância para o ateísmo por que passa a maior parte do tempo fazendo para o hedonismo. O método dele é feito para ateus hedonistas. Veja: um religioso de verdade não sairia por ai com várias minas, esbanjando. O Mystery inverte os papéis, usa o intelecto para servir a matéria. Se você gosta de neurociência, lhe apresento a teoria do cérebro trino (não é muito certa,mas serve para explanar meu ponto): reptiliano, límbico, cortical. O racional, por ser mais desenvolvido consegue suprimir os outros. Mystery e seus clones desvirtuam isso e mostram quão “anti-evolutivos” eles são. Embora popularizem a evolução, o que fazem é uma apologia aos processos primitivos do homem. Redução animalesca.

Eu sei que aqui se fala da dinâmica social, mas vocêr não vê que é um fenômeno novo, oriundo da observação da sociedade atual? Será que teria validade se fosse aplicado em grupos com pessoas de individualidade forte (de conservadores até marxistas culturais), em comunidades com gente verdadeiramente religiosa? Não existe jogo de poder em comunidades assim, o poder é a proximidade com Deus, com a busca da verdade. O progresso é sim necessário, mas não há motivos para manipulação e tentativa de entender e organizar a natureza humana em teorias psicológicas, até por que uma coisa é clara. Ela é auto-destruitiva, selvagem. Ou você a domina ou ela te domina.
O que quero dizer é que dinâmica social é mais uma técnica de manipulação.

Me parece que quanto mais você se afasta da filosofia (e da religião, que é parte dela), mais você se aproxima do que combate: humanismo e ateismo, agora na sua mutação: materialismo e utilitarismo. Como admirador da sagacidade dos seus artigos, faço um apelo … volte para a filosofia garoto, volte para casa (aqui você pode imaginar uma cena de filme heheh)

Da beira do rio na segunda metade do verão, um abraço de Edans Djeh.

Só a título de esclarecimentos, Mystery é aquele sujeito, especialista na arte da sedução, que aparece em um vídeo na parte I:2 da série “A verdade nua e crua”. Em certo momento do vídeo ele diz que sua prática é “dinâmica social”. Eu questionei essa definição e na verdade o que ele possui é um método, que não é a dinâmica social, mas é amplificado por ela.

Na verdade, a dinâmica social é apenas o estudo das interações humanas. Ou, como já defini anteriormente, é “o estudo de como funciona a interação de um indivíduo em relação a outro indivíduo, um indivíduo em relação a grupos, e grupos em relação a grupos, considerando todo o espaço vital relacionado a essas entidades.” Nada mais que isso.

Se o método de Mystery, usando o conhecimento da dinâmica social para ampliar seu conhecimento sobre a espécie humana e assim facilitar a pegação de mulheres, é considerado anti-ético, isso não diz nada contra a dinâmica social em si. Até por que para facilitar a pegação de mulheres ele também faz o uso da linguagem, que não pode ser considerada anti-ética em si. Usar a linguagem para mentir sobre alguém é criticável, mas não a linguagem em si.

Esse é o grande problema que tenho visto dificultando o entendimento do que é a dinâmica social, e creio ser o mesmo erro cometido por Edans. Ele entende que manipular os outros é dinâmica social. Nada mais falso. A dinâmica social é o estudo da interação entre humanos em sua totalidade, e é claro que esse estudo pode ser utilizado para aumentar as chances de alguém manipular o outro. Mas os truques de manipulação pertencem a OUTRO DOMÍNIO, que não tem nada a ver com a dinâmica social.

E, da mesma forma que é possível utilizar a dinâmica social para entender a totalidade das interações humanas, e assim facilitar os truques de manipulação, é com a mesma dinâmica social que podemos com MUITO MAIS FACILIDADE escapar das manipulações.

Um dos conceitos em segurança da informação é a engenharia social (não tem nada a ver com o conceito sociológico). Ele fala das práticas utilizadas para obter acesso a informações sigilosas através da manipulação da confiança das pessoas. Existem várias técnicas de engenharia social, como se passar por outra pessoa, fingir que possui influência, etc.

Quem utiliza os ensinamentos da dinâmica social, poderá implementar a engenharia social com muito mais facilidade. Mas, em contrapartida, estudar a dinâmica social também permite a NEUTRALIZAÇÃO MAIS FÁCIL dos truques de engenharia social. Aí vem a pergunta: o que é anti-ético? Engenharia social ou dinâmica social? Obviamente, é a primeira, mas jamais a segunda.

Portanto, vamos fechar alguns pontos.

Quando Edans Djeh diz que “dinâmica social é mais uma técnica de manipulação”, isso é um erro conceitual. Na verdade, existem várias técnicas de manipulação (incluindo aquelas vistas na PNL e hipnose ericksoniana, como também no historicismo ou até no discurso de esquerda), que podem ser amplificadas pelo conhecimento obtido através da dinâmica social. E, da mesma maneira, a neutralização das manipulações cometidas pelo outro podem ser POTENCIALIZADAS pelo conhecimento visto na dinâmica social. A dinâmica social, portanto, não é técnica para se realizar ação alguma. É, na verdade, um estudo sobre a totalidade das interações humanas. Estudo esse que, por si só, não manipula nenhuma situação a seu favor.

A afirmação de que o cérebro racional “por ser mais desenvolvido consegue suprimir os outros”, me parece incorreta, pois o cérebro mais desenvolvido é o emocional. Ele é o que surgiu primeiro, aliás. Pode-se dizer que todos os seres humanos fazem suas escolhas mais profundas no ambito emocional.

A expressão “Não existe jogo de poder em comunidades assim, o poder é a proximidade com Deus, com a busca da verdade” também não condiz com a realidade. Em qualquer comunidade, seja religiosa ou não, há jogos de manipulação. Sempre existiram. O ser humano é facilmente manipulável. Entretanto, concordo que hoje em dia a manipulação é mais fácil, pois existem mais recursos, como a PNL, gramática transformacional e outros. E justamente esse é um argumento que deveria funcionar a favor da dinâmica social, pois ela permite que conheçamos a natureza humana e PORTANTO reduzir o risco da manipulação ocorrer.

A afirmação dizendo que “não há motivos para manipulação e tentativa de entender e organizar a natureza humana em teorias psicológicas”. Na verdade, os motivos para manipulação são explicáveis de acordo com a dinâmica social. Eles são frutos da necessidade de sobrevivência da espécie humana, mas a capacidade de fugir da manipulação é igualmente importante. Por isso a tentativa de entender e organizar a natureza humana nunca foi tão importante. Novamente, esse é um argumento a favor da dinâmica social.

Por fim, discordo da noção que eu tenha me afastado da filosofia.

Sem querer ser ousado demais, ultimamente defini dois conceitos, ceticismo político e conservadorismo cético, que são defensáveis em âmbito filosófico.

O ceticismo político é o questionamento às afirmações políticas. Já o conservadorismo cético é a aplicação do ceticismo político em direção à religião política.

Eu utilizo a dinâmica social apenas para AMPLIAR o leque de conhecimento sobre a natureza humana, e então POTENCIALIZAR o meu ceticismo político.

Não consigo visualizar o que há de anti-ético, materialista e/ou utilitarista nisso.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".