23/11/2010 às 19:25
Vejam vocês… O que começou aqui quase como uma brincadeira acabou mesmo denunciando um cancro no mundo das letras e suas companhias — nem sempre muito respeitáveis. A. P. Quartim de Moraes*, “editor associado” da Global Editora, resolveu entrar na polêmica. Em socorro de Chico Buarque e da Cia. das Letras, naturalmente. Escreve hoje no Estadão um artigo intitulado “Chorando sobre o leite derramado”. O trocadilho, por óbvio, deveria ter sido evitado; uma vez praticado, há de me fornecer o fecho do post.
Confesso que gostei do artigo do rapaz (íntegra aqui). Como advogado da decisão da turma do Jabuti, Quartim expôs como ninguém a natureza do cágado. O link com a íntegra vai ali para que não digam que retirei trechos do contexto.
A premiação é política? Quartim responde:“Antes de mais nada, é preciso atentar para o óbvio: o julgamento de obras de criação artística, de qualquer natureza, está sempre sujeito a enorme componente de subjetividade, seja porque não há cânones absolutos e definitivos, seja porque cada pessoa enxerga a obra de arte com seus próprios olhos, através dos filtros de seus valores e de sua sensibilidade. Além disso, todo julgamento dessa natureza, por mais justo e objetivo a que se proponha, está sempre suscetível de ser de alguma maneira influenciado por um contexto mais amplo no qual o ato de julgar se insere. Para ser mais explícito: nenhuma premiação artística deixa de ser, umas mais, outras menos, também, “política”.”
Fico satisfeito com a resposta. Dada a metafísica influente, ele está afirmando, sim, que os ditos “progressistas” sempre levarão uma ainda que ligeira vantagem. Por conta de sua literatura? Não!
Há o risco de o prêmio estar, assim, contaminado por um certo “buarquismo inercial”? Quartim responde:“De resto, tanto Chico Buarque de Holanda quanto sua editora, a Companhia das Letras, são notórios colecionadores de prêmios literários. Dos quatro livros que escreveu, Chico já tinha tido dois, Estorvo, em 1992, e Budapeste, em 2004, eleitos Livro do Ano/Ficção. Não chega a ser surpresa, portanto, que tenha agora emplacado um terceiro, até porque repetiu a dose no Portugal Telecom. A Companhia das Letras, por sua vez, em 20 anos de Livro do Ano, ganhou 13 vezes, oito em ficção e cinco em não ficção. Sua participação no Portugal Telecom é ainda mais expressiva: em oito anos e 25 premiações, foi laureada nove vezes, seis das quais em primeiro lugar.”
Fico satisfeito com essa resposta também. Quartim aprendeu lógica na mesma escola em que Fidel Castro teve aula de democracia. Depois de admitir certo caráter político da premiação, ele acredita que o fato de Chico ter ganhado dois dos três Jabutis que disputou o habilita, naturalmente, a ganhar o terceiro. É um espanto! Agora só falta a Cia. das Letras publicar a grande fortuna crítica, acadêmica, sobre a obra de nosso romancista maior, que ainda vaga, solitária, num grande deserto de idéias. A tarefa poderia ficar por conta da Global Editora. Ah, sim: Quartim atribui tanta premiação à competência de seu amigo Luiz Schwarcz.
Como vocês vêem, com seu clichê e tudo, Quartim concorda comigo, não é mesmo? Ele ironiza os que, segundo ele, choram sobre o leite derramado. Dado o leite derramado de Chico, ele não se conforma que haja quem se negue a lambê-lo.
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PS: Neste momento, são 8.437 os signatários da petição “Chico, devolve o Jabuti”. Leia, assine e divulgue: aqui. Como se lê acima, eles próprios confirmam o caráter político da premiação.
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PS: Neste momento, são 8.437 os signatários da petição “Chico, devolve o Jabuti”. Leia, assine e divulgue: aqui. Como se lê acima, eles próprios confirmam o caráter político da premiação.
*Esta criatura bizarra, A. P. Quartim de Moraes, já foi devidamente exposta por Olavo de Carvalho no artigo abaixo.
PRESTEM ATENÇÃO AO TIPO DE GENTE QUE ELE É:
Detalhes interessantes: a morte do capitão Chandler
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 24 de março de 2008
Um amigo americano pede-me detalhes sobre o episódio Quartim de Moraes. Se aproveito a ocasião para fornecê-los também aos leitores do Diário do Comércio , é porque, embora o caso tenha se passado vários meses atrás, há aspectos nele que nunca foram discutidos na mídia brasileira.
Em três momentos da sua carreira as atividades do personagem aqui mencionado tiveram relação direta com os EUA:
1) Nos últimos anos, junto com tipos como Noam Chomsky, Danny Glover, Rigoberta Menchu, Ramsey Clark e outros cuja presença é infalível nesse gênero de empreendimentos, ele é um destacado participante da campanha organizada pelo movimento comunista mundial para exigir a libertação de cinco espiões cubanos presos no território americano (v. http://dc.indymedia.org/newswire/display/135233/index.php).
2) Ele é o principal mentor e engenheiro de uma vasta operação destinada a restaurar a “esquerda militar” no Brasil. Mediante infiltração, propaganda e lisonja, essa operação visa a tranformar as Forças Armadas brasileiras em instrumentos da política comunista, alinhando-as com as Farc e o “exército bolivariano” de Hugo Chávez numa frente militar anti-americana.
3) Em 1968, ele era um dos três dirigentes máximos da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, organização terrorista que assassinou o capitão do exército americano Charles Rodney Chandler, sob o pretexto, jamais provado e aliás intrinsecamente absurdo, de que o oficial estava no Brasil “ensinando tortura” aos soldados brasileiros.
Essa criatura apareceu nos meus artigos nas seguintes circunstâncias:
Em 2001, em entrevista ao jornal da Universidade Estadual de Campinas, Quartim, interrogado sobre o assassinato do oficial americano, afirmou: “Essa ação me valeu dois anos de condenação. Não participei diretamente, mas eu era da direção do grupo.”
Se Quartim quisesse modificar ou corrigir essa declaração, não teria a menor dificuldade para isso, já que trabalha na mesma universidade como professor e dirigente de um “Núcleo de Estudos Marxistas” e é ali considerado uma das glórias maiores da intelligentzia esquerdista. Mas ele não teve o menor interesse em fazê-lo, pois, decorridos sete anos, a declaração, inalterada, ainda consta da página desse jornal na internet (v. a entrevista “O inventário inacabado”), sem qualquer adendo ou retificação. Foi ali que a encontrei em janeiro de 2007, entendendo-a como qualquer pessoa alfabetizada e no pleno domínio das suas faculdades mentais entenderia: Quartim, dirigente da organização responsável pelo assassinato do capitão, tinha sido condenado como mandante do crime, do qual foram executores materiais os militantes Pedro Lobo, Marco Antonio Braz de Oliveira e Diógenes José de Carvalho (v. nota sobre este último no fim do artigo). A brevidade do tempo de prisão para crime tão grave explicava-se automaticamente pela anistia, sobrevinda em 1979.
Aconteceu que, tão logo publiquei em 8 de fevereiro de 2007 a informação tal qual a colhera da própria boca do declarante, este se encrespou todo, dizendo que tinha sido “caluniado” e acusando-me de ser um “extremista de direita”. Quanto a esta rotulação, desafio Quartim e o mundo a encontrar em toda a minha obra publicada uma só linha ou palavra que sugira ou apóie medidas políticas extremadas de qualquer natureza contra quem quer que seja ou o que quer que seja. Quartim, por seu lado, além de sua militância terrorista direta, não hesita (v.Um outro olhar sobre Stalin) em se proclamar adepto de Josef Stálin -- coisa que a maioria dos esquerdistas teria pudor de fazer em público mas que ele se gaba de ser “um ato de coragem intelectual” -- e é hoje membro de um partido maoísta, adepto do regime culpado de assassinar pelo menos 75 milhões de pessoas. Um exemplo de moderação e tolerância.
Quanto à “calúnia” que supostamente lhe fiz, Quartim alega que não foi condenado pelo assassinato do capitão e sim por outros crimes, menos graves. Mas, se é assim, por que ele permitiu que sua confissão falsa permanecesse no ar por sete longos anos, tendo todos os meios de corrigi-la se quisesse? A resposta é simples: no ambiente entusiasticamente esquerdista da Universidade Estadual de Campinas, passar por mandante do assassinato político de um representante do “imperialismo” é vantajoso, cobre o sujeito de uma aura de heroísmo guerrilheiro. Quando, por meu intermédio, a informação vazou para o público maior e politicamente mais neutro do Diário do Comércio e doJornal do Brasil , ela se tornou retroativamente prejudicial à imagem do declarante, que então tratou de atribuir a mim a mentira da qual ele mesmo fôra o único inventor e responsável.
Mais significativo ainda é que, mesmo depois de publicados os meus artigos do começo de 2007, o infeliz não teve nenhuma pressa em desmentir a declaração falsa que lhes servira de fonte, mas esperou para fazê-lo só em agosto daquele ano, em entrevista ao jornal do partido maoísta ( Quartim: acusação pela morte de Chandler é deslavada mentira), bem depois de colocar em circulação um manifesto furioso contra mim, assinado por 1.500 militantes e simpatizantes comunistas. No meio de tantas e tão eloqüentes palavras de indignação fingida (v. Solidariedade a João Quartim de Moraes), esse singular documento ainda se esquivava espertamente de desmentir a balela de 2001, preferindo manter no ar a impressão de que o autor dela fôra eu, e não o próprio Quartim.
Entre outras assinaturas, o manifesto trazia as do presidente nacional do partido governante, sr. Ricardo Berzoini, e do assessor especial da presidência da República, sr. Marco Aurélio Garcia, agente de ligação entre o presidente Luís Inácio Lula da Silva e o Foro de São Paulo, coordenação estratégica do movimento comunista na América Latina e berço da “revolução bolivariana” do sr. Hugo Chávez.
Mas ainda há um detalhe interessante a observar. A auto-acusação falsa que João Carlos Kfouri Quartim de Moraes fez ante os estudantes da Unicamp foi uma mentira em sentido estrito ou um “ato falho” freudiano? Sendo um dos três dirigentes máximos da organização terrorista que determinou o assassinato do capitão Chandler, ele não pode ter ignorado essa decisão, da qual foi portanto, na mais branda das hipóteses, cúmplice moral passivo. E a maior prova disso é que até hoje ele justifica o homicídio, alegando que “mortes são da lógica dos conflitos armados” e voltando a insistir na história de que o oficial estava no Brasil como “instrutor de tortura”. Em entrevista ao jornal Zero Hora em 12 de dezembro de 2005 (v.Os órfãos da ditadura), o filho do capitão assassinado, Todd Chandler, explicou o óbvio dos óbvios: seu pai não estava no Brasil nem com a missão alegada por Quartim de Moraes nem aliás com missão alguma. “Pensem nisto: os EUA jamais mandariam a família civil junto com um oficial que estivesse em qualquer tipo de missão.” Isso é absolutamente irrespondível. Charles Rodney Chandler estava no Brasil como estudante, num dos programas de intercâmbio que prosseguem até hoje entre as escolas militares brasileiras e americanas. Esse estudante foi assassinado a sangue frio, diante dos olhos de sua esposa e de seu filho, e o dirigente da quadrilha que fez isso, depois de confessar o crime ante uma platéia que o aplaudia por esse feito macabro, se diz “caluniado” quando suas próprias palavras são levadas a sério. Até hoje Todd Chandler pergunta: “Por que levaram meu pai? Por que destruíram uma família?” A única resposta, sr. Chandler, é que à mentalidade revolucionária tudo é permitido: mentir, trapacear, matar, caluniar as vítimas e depois ainda se fazer de coitadinha, principalmente se com base nisto pode colher alguma vantagem publicitária ou financeira. Sob este último aspecto, convém lembrar que um dos participantes do assassinato do capitão, Diógenes José de Carvalho, que mais tarde se tornaria ainda mais tristemente célebre com o apelido de “Diógenes do PT” quando de seu envolvimento num escandaloso caso de corrupção em 2002, foi o mesmo que em 20 de março de 1968 jogou uma bomba na biblioteca do consulado dos EUA em São Paulo , arrancando a perna de um transeunte inocente, Orlando Lovecchio Filho. Recentemente, o criminoso recebeu uma indenização de aproximadamente duzentos mil dólares do governo, como ex-prisioneiro político, ao passo que Lovecchio jamais recebeu indenização nenhuma. Por esses detalhes, sr. Chandler, o senhor pode imaginar que tipo de pessoas a sra. Condoleezza Rice, durante sua viagem ao Brasil, disse considerar parceiras leais dos EUA na guerra contra o terrorismo.
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