O APELO DE FHC
Nivaldo Cordeiro
03 de abril de 2010
Sinto que FHC se encontra naquela encruzilhada da vida, em que suas convicções de juventude, qual um Fausto tupiniquim, mostram-se falsificações mefistofélicas e que suas construções podem custar a vida e a liberdade de Baucis e Filémon, de todos os brasileiros
Sempre leio com proveito os textos e declarações de Fernando Henrique Cardoso. Mesmo não renegando sua fé socialista, sempre reafirmada, FHC costuma ser sincero e agudo nas suas observações, não obstante não conseguir retirar as conseqüências práticas de suas análises. Ele é hoje o grande oráculo político do Brasil.
O Estadão deste domingo trouxe um novo artigo seu (Hora de união), muito importante. E o Caderno Aliástrouxe também uma entrevista, que precisa ser sublinhada.
No artigo, FHC rememora como se deu o apoio das lideranças paulistas do então MDB à candidatura de Tancredo Neves ao colégio eleitoral, viabilizando a transição do regime militar para o poder civil. O ex-presidente sabe que o papel de Aécio Neves, neto de Tancredo, é vital para os destinos da candidatura de José Serra. Se Aécio subir em dois palanques, traindo a unidade em torno de Serra, as chances de derrota aumentam.
Lembrar o que foi feito em nome dos interesses gerais da Nação é oportuno, sobretudo por se invocar esse fato marcante da nossa história política.
Não subestimemos: Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral e o governador Aécio tem influência em parcela ponderável da opinião pública fora de lá. Qualquer vacilo da sua parte pode torná-lo o maior eleitor de Dilma Rousseff, selando a derrota de José Serra.
Na entrevista ao Aliás FHC fez uma análise sombria da estrutura de poder suportada pelas forças do PT. Nas suas palavras: “Em plena democracia, as forças de decisão estão se constituindo num golpe de poder que une setores do Estado, empresas e fundos de pensão”. Ele poderia ter acrescentado aqui também o papel dos sindicatos.
Eu próprio tenho apontado essa realidade em muitos textos que escrevi. Essa forma fascista/corporativa de organizar a economia é meio caminho andado para o totalitarismo, que, bem sei, o PT, se tiver oportunidade, não hesitará em instituir.
Infelizmente, FHC não faz a autocrítica necessária. Ele é o principal artífice da chegada ao poder do PT e os andaimes iniciais desse temida estrutura política foram postos por ele mesmo. FHC também se esquece de olhar a biografia e o programa de José Serra, que não difere muito daquilo que o PT acredita e almeja: um Estado agigantado, dirigindo autoritariamente a sociedade. De que adiante gritar “Fogo!”se o incendiário está no seu próprio quintal, aguardando a oportunidade para alastrar o incêndio?
Vejo que falta a FHC essa coragem moral para retirar as conclusões necessárias, que o Brasil caminha para uma forma letal de totalitarismo, urgindo mobilizar a Nação contra essa ameaça imediata. Usa o tom de convescote intelectual, como se falasse de uma realidade distante. Esta realidade é imediata e afeta os destinos de todos os brasileiros.
Não adianta falar mansinho se o fogo começou e começa a se alastrar. Ele exige o combate imediato e resoluto.
Sinto que FHC se encontra naquela encruzilhada da vida, em que suas convicções de juventude, qual um Fausto tupiniquim, mostram-se falsificações mefistofélicas e que suas construções podem custar a vida e a liberdade de Baucis e Filémon, de todos os brasileiros. Se tivesse verdadeira integridade moral faria oposição para valer e mobilizaria as chamadas forças vivas da Nação, na sua condição de ex-presidente. Mesmo Serra não é a pessoa para reverter o quadro deletério. Mesmo Aécio não é um escudeiro confiável.
FHC enxergou a tragédia e não sabe o que fazer com essa informação, para infortúnio de todos nós.
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