Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

EM BUSCA DA BARATARIA

EM BUSCA DA BARATARIA

Nivaldo Cordeiro

02 de abril de 2010

http://www.nivaldocordeiro.net/embuscadabarataria


Quando nos debruçamos sobre o Dom Quixote, de Cervantes, é tudo surpresa e encanto. Nem me refiro aos óbvios méritos literários que têm encantado gerações, desde a publicação original. Refiro-me à fina análise política que o espanhol, por força de sua experiência de vida e pela agudeza de sua percepção, pode registrar no romance.

Cada vez mais me convenço de que o fato mais marcante da vida de Cervantes foi testemunhar a “limpeza” da Península Ibérica, de onde foram expulsos os muçulmanos e os judeus. Ele próprio foi suspeito de ser marrano e teve que arrumar atestados de limpeza de sangue, essa tolice que redundou no nazismo, sem o que sua vida teria sido pior do que de fato foi. Cativo em Argel, Cervantes testemunhou no meio bárbaro a existência de uma sociedade plural, agora impossível na Europa alucinada pelo poder criado pelos novos Estados nacionais.

Surpreende que a suposta pureza dos europeus fosse buscada na antiguidade da fé cristã dos ascendentes, como se o cristianismo pudesse se traduzir nessa tosca idéia de raça e pudesse ser um legado, e não uma escolha livre. Ser cristão é uma mera adesão de fé, para o que se exige unicamente o batismo, seguido dos demais sacramentos. Mas a Europa renascentista ansiava por pureza e perfeição, perigosamente associada à idéia de raça. Mergulho fundo na Segunda Realidade e a obra de Cervantes é a crônica desses tempos, bem como a profecia do que viria no tempo vindouro.

Sancho Pança e sua idéia fixa de governar uma ínsula espelha
 o novo tempo, em que a multidão dos desqualificados do espírito pretende-se governante, dirigente. Sancho está encarnado em Lula e sua Barataria chamada Brasil. Está em Obama. Está em toda parte. O tempo moderno é o tempo em que a multidão de sanchos clama em praça pública por sua ínsula. São os novos estadistas. Os novos príncipes. Os piores serão alçados ao poder.

Sancho e seu jumento, o mesmo jumento endeusado por Giodano Bruno, pelos franciscanos. O espírito do Renascimento. A inversão da hierarquia natural que está no âmago de toda a Bíblia, a partir do princípio fundamental de amar a Deus sobre todas as coisas. Essa história de cultivar os “idiotas”, inventada pelofranciscanismo, não tem respaldo bíblico. Tem sido o fundamento da subversão da ordem e a eleição do igualitarismo como o máximo objetivo político é seu instrumento de ação. O mal moderno.

Cervantes viu tudo isso e percebeu os desdobramentos. Por isso o livro Dom Quixote é imortal e encanta a cada geração. Ali está a realidade e a descrição da loucura da Segunda Realidade. Como Unamano certa vezescreveu, a loucura agora é a solidão; sanidade é comungar dos preconceitos da massa dos “idiotas’. O isolamento de quem permanece na realidade aparta o ser da multidão enlouquecida. A falsa sanidade é clamar por uma Barataria, a politização de tudo. O desprezo cristão pelos poderes desse mundo, sua suspeita de que nele pode residir o mal, foram deixados de lado. O poder político passou a ser o instrumento para se alcançar a perfeição.

O partido tomará o lugar da Igreja como instrumento de salvação das almas. O primeiro partido nasceu com a Reforma, essa busca desesperada dos“puros”pela perfeição. A alucinação ganhou assim roupagem bíblica. O poder eclesiástico foi fragmentado na multidão de sanchos. Santa loucura! Mas o partido já estava em embrião na alma de Felipe II. Ironicamente a subversão começou na realeza, no próprio rei.

Loco, y no tonto”, escreveu Unamuno, referindo-se a Dom Quixote, por quem anseia para fugir da multidão de sanchos. Sim, a loucura é a solidão daqueles que se recusam a embarcar para o reino da Segunda Realidade. Com os “idiotas” marcham seus escribas. Nietzsche beijando o jegue na piazza romana, a imagem plástica mais perfeita da subserviência dos homens de letra aos “idiotas”. No caso, “loco y tonto”, na unidade da idiotice. Rocio agora pode estar encarnado em um Airbus, o transporte preferido pelos idiotas governantes em nossas plagas.

Um comentário:

HaroldoC disse...

Apesar do peremptório "Do contrário, [eu] excluo." o certo é que ao menos [o eu] lerá para decidir pelo excluir, certo?
Só isso dá indicativo que os sanchos-da-vida estão sendo postos a correr pelo mundo afora. Ocorre que a internet chancela um ambiente virtual (mundo, universo, seara, espaço) paralelo ao da vida real; paralelismo às veras, de chance zero para intercessão.
A título de ilustração, quem teria "sugerido" a internet - exageradamente falando - foi Fernando Pessoa pelos seus heterônimos; eis trecho via Google: "Fernando Pessoa tornou-se único na história da Literatura ao conceber com tamanha correção o fenômeno da heteronímia..." Na internet o indivíduo dispõe da oportunidade de se multiplicar, se fazer muitos de muitos. O indivíduo idoso de 80 anos poderá - após treinos e truques - se fazer passar por um garoto de 15 anos.
Nos próximos tempos não será nem a agitação nem a locomoção nem a mobilidade global que dará o status - intimamente falando - pois surge novo meio de isolamento: internet. O tempo da "multidão de sanchos" não tem nada de moderno mas sim de ocaso do moderno, saída de cena dos modernismos e modernidades.
Dá de considerar que os atuais veículos interativos - YouTube, Twitter, MSG, email, blog, Facebook - logo mais estarão na lixeira substituídos por versões mais amplas. Quero dizer que o tempo que sucederá "os tempos modernos" será o tempo da versão, do versionamento, versionar.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".