24/3/2010 - 19h46
Edward Schumacher-Matos
É hora de os Estados Unidos ratificarem o acordo de livre comércio com a Colômbia.
Eles deveriam fazer isso em benefício dos empregos norte-americanos e do notável avanço dos direitos humanos e da democracia na Colômbia.
Durante quase 40 anos, este país sul-americano tem lutado uma dura guerra contra as drogas e pagado caro em contagem de corpos. Mesmo assim, nós, colombianos, não conseguimos ratificar um simples acordo de livre comércio quatro anos depois dele ter sido negociado.
Os colombianos estão, legitimamente, começando a perder as esperanças. "É hora de dizer se vamos seguir com esse acordo ou não", disse recentemente Luis Guillermo Plata, ministro da Indústria e do Comércio da Colômbia, após Ron Kirk, representante especial do comércio dos EUA, ter se recusado, durante uma audiência no Congresso, a especificar o que mais os Estados Unidos desejam da Colômbia antes que o governo Obama busque a ratificação.
Podia-se imaginar que Washington tivesse aprendido com o enorme ressentimento que criou no Afeganistão, depois de apoiar a luta do país contra os soviéticos e em seguida ter ido embora do país.
O acordo com a Colômbia pode ser ainda mais frustrante, já que é tão claramente a favor dos interesses dos EUA. A Colômbia, procurando garantir confiança aos investidores, deseja tornar permanente o amplo acesso de suas exportações nos Estados Unidos. Há quase 20 anos ela tem preferências temporárias por causa da guerra às drogas. Os exportadores norte-americanos ficariam com a maior parte do que é novo no acordo – acesso favorável ao mercado colombiano para ter mais competitividade do que, por exemplo, os exportadores de grãos argentinos e de produtos chineses.
O presidente Obama defendeu uma campanha pró-exportação norte-americana para recuperar os empregos perdidos. Contudo, o tratado com a Colômbia – como outros acordos pendentes com a Coreia do Sul e o Panamá e a resolução sobre o tráfego de caminhões do México – está sendo adiado por causa da oposição equivocada dos sindicatos e de seus aliados no Congresso. Obama está esperando o momento certo para passar por cima deles politicamente. Após uma pequena movimentação durante o governo de George W. Bush, a espera tem sido longa demais.
Os adversários do acordo com a Colômbia citam violações aos direitos humanos e, especificamente, o assassinato de líderes sindicais, como uma razão para bloqueá-lo. Grupos como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch se uniram com os sindicatos norte-americanos e colombianos, embora o acordo comercial não tenha nada a ver com os direitos humanos.
Aliás, ao restringir o crescimento econômico da Colômbia, os críticos do tratado estão prejudicando os pobres e os trabalhadores num momento em que milhões de pessoas foram transferidas pela violência aqui e o desemprego seja o mais alto da América do Sul. Os grupos dos direitos humanos também estão negando ao governo a arrecadação que ele precisa para garantir os serviços e a segurança, o primeiro direito humano.
Isso já é enganador o suficiente, mas há algo ainda pior. A acusação deles sobre a situação sindical na Colômbia simplesmente é falsa. Não existem assassinatos sistemáticos de membros ou líderes de sindicatos.
E não há nenhuma campanha organizada contra eles por parte do governo ou de mais alguém.
Alguns membros dos sindicatos foram assassinados – 28 no ano passado, segundo o governo, o que é menos do que os 205 em 2001 – mas um estudo imparcial de dois pesquisadores da Universidade de Los Andes, em Bogotá, Daniel Mejia e Maria José Uribe, mostra que a taxa de homicídio entre os colombianos em geral no ano de 2008 era seis vezes maior do que entre os membros de sindicatos. Utilizando os números dos próprios sindicatos, a taxa de homicídio entre os seus filiados era de seis em 100 mil, ou praticamente a mesma da taxa de homicídio geral nos Estados Unidos.
Isso parece inacreditável, mas é verdade: os membros dos sindicatos na Colômbia são de classe média e não vivem nem trabalham na zona rural ou nas favelas perigosas, onde ocorre a maior parte da violência relacionada à guerrilha e ao tráfico de drogas. E até mesmo essa violência está diminuindo.
A violência política envolvendo sindicatos era alta nos anos 90, mas, como Mejia e Uribe mostraram, entre 2000 e 2008 não houve relação entre o volume de atividade sindical – de negociações salariais a protestos de rua – e o número de assassinatos de membros de sindicatos. Isso se afina com a revelação das unidades de investigação e dos tribunais que, em 334 condenações desde 2000, a motivação geralmente tinha a ver com assalto ou paixão. A real questão aqui é ideológica: os sindicatos não gostam de livre comércio.
Ao aceitar a decisão judicial de não lhe permitir concorrer a um terceiro mandato em maio, o popular presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deu um exemplo de democracia. Obama e o Congresso dos EUA precisam agora dar seu exemplo e reconhecer a Colômbia como um parceiro comercial valioso.
Edward Schumacher-Matos é colombiano e colunista do The Washington Post
Tradução: Rodrigo Garcia
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