Quarta-feira, 31 de março de 2010 | 6:23
No post acima, citei o livro “Fascismo de Esquerda”, de Jonah Goldberg, cuja leitura recomendo. Abaixo, transcrevo um trecho do capítulo intitulado “Adolf Hitler: Um Homem de Esquerda”. Tenho a certeza de que vocês vão gostar. Se o tempo for curto para ler tudo, vocês podem pular para aquele trecho que está em negrito. Boa leitura!
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Hitler dedica todo um capítulo à deliberada exploração que os nazistas fizeram das idéias, da retórica e das imagens socialistas e comunistas e relata como esse marketing confundiu tanto liberais quanto comunistas. O exemplo mais básico é o uso nazista da cor vermelha, que estava firmemente associada a bolchevismo e socialismo. “Escolhemos o vermelho para nossos cartazes após uma especial e cuidadosa deliberação… de modo a chamar a atenção deles e tentá-los a vir aos nossos encontros… para que tivéssemos uma oportunidade de conversar.” A bandeira nazista - uma suástica negra dentro de um disco branco num fundo vermelho - era explicitamente destinada a atrair comunistas. “No vermelho nós vemos a idéia social do movimento, no branco a idéia nacionalista e na suástica a missão de lutar pela vitória do homem ariano.”
Os nazistas tomaram emprestadas seções inteiras do manual de estratégia dos comunistas. Membros do partido - homens e mulheres - eram chamados de “camaradas”. Hitler recorda como seus apelos aos “proletários com consciência de classe” que queriam se lançar contra a “agitação monarquista, reacionária, com a força dos punhos do proletariado” tiveram sucesso em atrair inúmeros comunistas para as reuniões nazistas. Às vezes, os comunistas chegavam com ordens de arrasar o lugar. Mas os vermelhos com freqüência se recusavam a obedecer ao comando porque haviam sido ganhos pela causa dos nacional-socialistas. Em suma, a batalha entre os nazistas e os comunistas era um caso de dois cães lutando pelo mesmo osso.
A política nazista de uma nação única apelava, por sua própria definição, a pessoas de todos os tipos. Professores, estudantes e funcionários públicos davam um apoio desproporcional à causa nazista. Mas é importante se ter uma idéia do tipo de gente que constituía os seguidores do nazismo, os jovens, freqüentemente agressivos e violentos, que verdadeiramente acreditavam no que faziam, lutando nas ruas e se dedicando à revolução. Patrick Leigh Fermor, um jovem britânico que viajava pela Alemanha logo depois do Hitler subir ao poder, encontrou alguns desses homens num bar de trabalhadores do Reno, ainda usando seus macacões do turno da noite. Um de seus novos companheiro de bar o convidou a passar a noite em sua casa. Quando subia a escada do sótão para dormir numa cama de hóspedes, ele deu com “um santuário dedicado ao culto hitleriano”:
As paredes estavam cobertas com bandeiras, fotos, pôsteres, slogans e emblemas. O uniforme da SA, muito bem passado, estava pendurado num cabide… Quando eu disse que ali devia ser muito claustrofóbico, com todas aquelas coisas nas paredes, ele riu, sentou-se na cama e disse: “Homem! Você devia ter visto isso no ano passado! Teria morrido de rir! Estava coberto de bandeiras vermelhas, estrelas, martelos, foices, fotos de Lênin e Stálin e ‘Trabalhadores do mundo, uni-vos!…’ Então, de repente, quando Hitler chegou ao poder, compreendi que tudo não passava de disparates e mentiras. Entendi que Adolf era meu homem. Tudo assim, de repente!” Estalou os dedos no ar. “E aqui estou eu”… E muita gente fez o mesmo naquela época? “Milhões! Eu lhe digo, fiquei espantado com a facilidade com que todos mudaram de lado!”
Mesmo depois de Hitler tomar o poder e tornar-se mais receptivo aos apelos dos homens de negócio - as demandas de sua máquina de guerra exigiam não menos que isso -, a propaganda do partido ainda era contínua e sistematicamente voltada para os trabalhadores. Hitler sempre enfatizava (e flagrantemente exagerava) sua condição de “ex-operário”. Com freqüência, aparecia em mangas de camisa e conversava informalmente com operários alemães: “Na juventude, fui um trabalhador como vocês, lentamente abrindo caminho com o esforço, com o estudo e, acho que posso dizer também, com a fome.” Como pretenso Volkskanzler, ou “chanceler do povo”, ele sabia tocar todas as notas da escala populista.
Um de seus primeiros atos oficiais foi a recusa de um doutorado honorário. Um catecismo nazista perguntava: “Que profissões teve Adolf Hitler?” A resposta esperada era: “Adolf Hitler era um trabalhador da construção civil, um artista e um estudante.” Em 1939, quando a nova Chancelaria foi construída, Hitler saudou primeiro os operários da construção e deu aos pedreiros retratos seus e cestas de frutas. Prometeu “carros do povo” para todos os trabalhadores. Não conseguiu entregá-los a tempo, mas acabaram se tornando os Volkswagens que todos conhecemos hoje. Os nazistas eram brilhantes quando argumentavam a favor da política de uma nação única na qual um camponês e um homem de negócios tinham o mesmo valor. Nos ralis nazistas, os organizadores nunca permitiam que um aristocrata falasse a menos que estivesse acompanhado de um camponês humilde vindo do mato.
Um comentário:
Putzgrilla! Esse é o livro que faltava.
Seria ótimo se ele estivesse nas universidades brasileiras; seria excelente se ele fosse divulgado na mídia. Porém...
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