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terça-feira, 4 de novembro de 2008

O PUDIM DE STEINBRUCH

NIVALDO CORDEIRO
28/10/2008

Em artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje (“Lenha na fogueira”), o empresário Benjamin Steinbruch escreveu: “Somos todos - a maioria, pelo menos - a favor da livre iniciativa e da privatização da economia. Mas isso não nos autoriza a defender atitudes irresponsáveis. Titubear diante de uma convulsão financeira global de tamanha proporção é um desatino. Quando até o Reino Unido estatiza bancos, não é hora de brincar de neoliberalismo”.

Essa frase é emblemática e reproduz fielmente o que pensa a nossa elite econômica sobre o liberalismo (o prefixo neo poderia muito bem ser descartado aqui). A verdadeira fé dessa gente é no Estado. Todos eles acreditam que nas mãos do poder de Estado estão os instrumentos de resgate da crise, da atual como das futuras e das passadas. As idéias de Adam Smith não estão apenas fora de moda: são consideradas anti-científicas e inadequadas para se compreender e agir sobre a realidade. Qualquer teoria que diga que o Estado é o problema, e não a solução, não é levada em consideração. Steinbruch foi muito feliz na sua síntese, mas infeliz na sua idéia.

Veja, caro leitor, que o que se passa no Brasil é o que se passa no mundo todo. Os jornais de circulação internacional elogiaram a iniciativa do primeiro-ministro Gordon Brown, que puxou a fila da estatização bancária na Europa e no mundo. Coragem por quê? Porque Brown contrariou o senso comum consagrado no mais profundo das convicções ocidentais, de que não cabe ao Estado ser sujeito da economia e nem resgatar agentes falidos. Brown deu uma de César, atravessou o Rubicão. Mas nisso não foi original. Nazistas, fascistas, progressistas e comunistas fizeram isso reiteradas vezes e vimos no que deu. Portanto, não foi propriamente um ato de coragem, mas de desespero. Pular do último andar de um edifício em chamas não é um ato corajoso.

Alguém brinca de ser liberal? Não aqueles a quem conheço. Todo mundo diz-se liberal seriamente, pois abraçam a causa como resultado de uma conclusão moral e científica. Funda a escolha uma filosofia e um conjunto de ciências, como a Economia, a Sociologia e a História. A própria Ciência Política. O certo seria dizer a expressão contrária: brinca-se quando se é estatista, como Keynes o foi. Keynes, cuja visão existencial era niilista (“A longo prazo todos estaremos mortos”) podia achar que fazer experimentos perigosos do ponto de vista político e social com o Estado seria algo aceitável e até mesmo louvável, como num jogo. Ocorre que no longo prazo temos filhos e netos. As novas gerações esperam que os adultos atuais, seus avós, leguem a eles uma sociedade sadia ou, pelo menos, um mundo não pior do que aquele que receberam de seus pais.

Mas toda a gente sabe que Keynes não teve filhos. Ele deve ter lido em Machado de Assis: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Ocorre que seu legado intelectual, a sua Teoria Geral, infectou a mente de todos os homens e mulheres de Estado (salvo exceções, como Reagan e Thatcher) com a crendice anti-científica do estatismo. Os filhos intelectuais de Keynes hoje são legiões e detêm o poder de Estado. Querem ser os bombeiros da grande crise, na prática estão pondo fogo no mundo.

Quem viu as imagens de Henry Paulson, secretário do Tesouro dos EUA, propondo a compra de ações de bancos pelo governo no Senado norte-americano, visivelmente envergonhado, deve compreender melhor o que eu quero dizer. Mesmo gente de mercado, treinada em escolas de Business, ouvindo as lições de Milton Friedman, não resistiu por um instante aos soar os clarins dos perigos da crise. Paulson entregou suas convicções com a ligeireza dos desesperados, trocou um reino por um punhado de dólares. Foi chocante. A crise era inevitável, não o movimento desesperado de estatização.

Por isso ler o que escreveu Steinbruch não me surpreendeu e nem me chocou. Seu artigo só confirma, de forma cândida, essa adesão incondicional ao novo Baal. Nem Steinbruch e nem Paulson pararam para pensar que, na origem, a crise tem como causa justamente o Estado, de quem esperam o poder mágico de redenção.

Se há atitude irresponsável a reprovar é essa virada de casaca ideológica, como a feita por Paulson. Ou a cegueira científica de um Steinbruch. Os loucos anos vinte, os inflacionários anos vinte do século passado deram-nos Hitler e a Segunda Guerra. Claro, a história não se repete, mas as tendências podem ser buscadas. O Mal está sempre engrandecido no Estado, sobretudo no paquidérmico e destrutivo Estado que hoje conhecemos. Esses homens de dinheiro e de poder estão alimentando o monstro que poderá devorar não apenas a eles mesmos, mas a todos nós. Se o Estado tem todo esse poder de minorar crises via estatização não demorará em descobrir que empresários privados são um estorvo e talvez a origem da crise, como os comunistas sempre pregaram. Um grande perigo.

Dizem que a prova do pudim é justamente comê-lo. Estamos diante da grande prova. Steinbruch já devorou o seu, assim como Paulson. Devem ter tido engulhos, pois os ingredientes estatais são venenosos e fazem mal á saúde. O tempo dirá. De minha parte, dessa iguaria exótica eu não provo.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".