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segunda-feira, 3 de novembro de 2008

As eleições nos EUA

GAZETA DO POVO
Publicado em 02/11/2008 | JULIANO DA SILVA CORTINHAS

Na próxima terça-feira, a potência dominante do sistema internacional escolherá seu presidente, cargo político mais importante do planeta. A decisão será cercada por diversas peculiaridades, que podem ser consideradas demasiadamente complexas pelo eleitor brasileiro, habituado ao sistema de voto direto, mais simples que o norte-americano.

As eleições estadunidenses são regulamentadas pela Constituição do país, de 1787. Têm, portanto, características que encontram fundamento naquele período histórico. A própria data do pleito, realizado na primeira terça-feira seguinte à primeira segunda-feira do mês de novembro, deve-se ao fato de que o norte-americano do século XVIII teria tempo de ir à igreja no domingo e de se deslocar até o local de votação. Os constituintes consideraram que, no mês de novembro, com a colheita já encerrada, dois dias de deslocamento seriam suficientes para que os eleitores chegassem aos locais de votação. Assim, a realização da eleição no próximo dia 4, uma terça-feira, não tem nenhuma relação com os tempos atuais, em que em poucos minutos é possível dirigir-se a uma urna.

Outra questão que deve ser contextualizada é o sistema do Colégio Eleitoral. Nos Estados Unidos, o presidente não é escolhido de forma direta: os eleitores decidem que candidato será selecionado pelos representantes de seu estado no Colégio Eleitoral, que conta, no total, com 538 votantes, divididos proporcionalmente entre os estados de acordo com o tamanho da população. O estado mais populoso, a Califórnia, tem 55 votos no Colégio Eleitoral, sendo responsável por mais de 10% do total. Tal instituição foi concebida pelos constituintes do país para que nenhum candidato com forte apelo em somente uma região tivesse a possibilidade de ser eleito, obrigando os candidatos a obterem votos em diversas regiões.

A adoção desse sistema traz dois efeitos principais. Há pouca possibilidade de existência de diversos partidos, pois o sistema favorece a existência de partidos com ampla base de apoio em diversas localidades, com grande capacidade de organização e obtenção de recursos financeiros. Os partidos Republicano e Democrata, que, desde 1852, vêm elegendo todos os presidentes norte-americanos, dominam as eleições.

Outra importante conseqüência é a possível eleição de um candidato que não obteve a maioria dos votos populares, pois há a hipótese de vencer por pequena margem em muitos estados e perder por grande margem em estados menos populosos, com muitos votos no Colégio Eleitoral. Tal fato já ocorreu 17 vezes na história do país, sendo a última na primeira eleição de George W. Bush, em 2000. Isso é possível porque a ampla maioria dos estados dirige todos os seus votos no Colégio Eleitoral para o candidato vencedor, independentemente da margem que obteve.

A partir desse cenário, pode-se avaliar a eleição polarizada pelos candidatos Barack Obama, do Partido Democrata, e John McCain, do Partido Republicano.

Muitos analistas têm se baseado nas pesquisas de opinião pública para ressaltar a pequena margem de liderança do democrata. Essas pesquisas, porém, não são tão importantes para apontar um favorito quanto as que avaliam o desempenho dos concorrentes por estado, que têm dado ampla margem de vantagem ao candidato democrata, que teria cerca de 350 votos no Colégio Eleitoral contra 170, aproximadamente, de McCain (são necessários 270 para a vitória e ainda há estados indefinidos). A tendência de vitória de Obama, portanto, é grande, mas a vitória não é dada como certa porque o quadro pode ser invertido por duas razões.

Como o voto é opcional, há a possibilidade de baixo comparecimento dos eleitores democratas, devido ao bom desempenho do partido nas pesquisas, o que pode levá-los a considerar a vitória como certa. A chance disso ocorrer, todavia, é baixa, pois o grande descontentamento dos norte-americanos com a gestão de Bush provavelmente fará com que os eleitores compareçam às urnas para mostrar seu descontentamento (o comparecimento nas últimas eleições foi de apenas 60% dos eleitores registrados, mas tende a ser maior neste pleito).

A segunda hipótese é a de que os eleitores estejam declarando seu voto para Obama, pois não querem ser considerados racistas, votem, efetivamente, para McCain. Essa possibilidade é chamada, nos EUA, de efeito “Bradley”, denominação que se refere ao candidato negro Tom Bradley, do Partido Democrata, que concorreu ao governo da Califórnia, em 1982, e liderava amplamente as pesquisas (por 22 pontos porcentuais) até uma semana antes da eleição. O resultado final, porém, foi favorável aos republicanos, o que foi atribuído a um racismo velado dos eleitores. Essa possibilidade também é improvável, pois a ocorrência desse fenômeno em diversos estados, concomitantemente, parece-nos difícil.

Percebe-se, portanto, que a tendência natural do pleito norte-americano é a eleição de Obama, mas a resposta definitiva só será dada pelo povo norte-americano no dia 4 de novembro, a primeira terça-feira seguinte à primeira segunda-feira do mês.

Juliano da Silva Cortinhas é professor licenciado do Unicuritiba, professor dos cursos de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília, do Centro Universitário do Distrito Federal e da Faculdade Michelangelo.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".