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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

PANEM ET CIRCENSES

 

BLOG DO HEITOR DE PAOLA

Publicado em 3 de agosto de 2012 por heitor

 

HEITOR DE PAOLA

03/08/2012
Já há muito tempo, desde quando não vendíamos nossos votos para ninguém, o Povo abdicou de seus deveres, o Povo que outrora detinha comando militar, altos cargos civis, legiões – tudo, enfim – hoje se restringe, e aguarda ansiosamente, a apenas duas coisas: pão e circo
JUVENAL – Sátira X

Abriu-se ontem na Nova Roma do Planalto um dos circos da Praça que contém três, oJuridicus. Anunciam-se meses de novo Ludus Circensis, Los Mensaleros, que superarão o já cansativo ludus encenado do outro lado da Praça, o circus Legisferandis, onde já perde audiência o cansativo Cachoeiras & Cascatas.

As autoridades da antiga Roma organizavam espetáculos para atrair o favor do público, como comentava Juvenal no Século I. O desenvolvimento crescente daqueles grandes espetáculos durante o período Republicano foi intensificado como veículo propagandístico na época Imperial, principalmente nos momentos de crise política mais aguda. Unidos à farta distribuição de alimentos para a plebe se converteram numa das duas mais poderosas ferramentas de controle social.

Iniciados como celebrações rituais sagradas, como cita Tito Lívio, o aparecimento dos ludi theatrici ocorreu em 354 a. C. por ocasião de uma epidemia violenta. Os eventos com gladiadores começaram um século mais tarde como uma celebração fúnebre pela morte do pai do Consul Decimus Iunius Brutus Esceva. Os ludi theatrici, herdeiros das tragédias gregas, foram aos poucos degenerando. Isto porque os detentores do poder perceberam as enormes vantagens que poderiam tirar sobre o populacho através de espetáculos menos sofisticados, pois o povo estava interessado em jogos circenses e competições sanguinolentas. O caráter sagrado e ritual logo desapareceu e os ludi se tornaram mais profissionais. Tanto o governo quanto a iniciativa privada os organizavam e sua importância cresceu a tal ponto que se tornaram, junto com a distribuição de alimentos, numa prioridade na condução dos negócios públicos.

Os edis, magistrados com funções de ordem pública passaram a organizá-los para enganar e conquistar a plebe e, a partir do século II a. C. os magistrados acrescentaram a seus proventos somas enormes que permitissem celebrações riquíssimas, pois o público só lembraria o edil que se mostrasse mais generoso. Como eles disputassem entre si o acesso a magistraturas superiores a competição se acirrava através de ludi cada vez mais atraentes. Distração popular e propaganda se tornaram tão complementares que já não se conseguia entender uma sem a outra.

No que veio a se conhecer apropriadamente como ‘populismo digestivo’, estava inextricavelmente ligada aos ludi a farta distribuição gratuitita de trigo, pão e dinheiro vivo e até de sparsiones, vales que podiam ser trocados por peixe, carne ou pão. Chegou-se mesmo a rifar casas de campo! Durante a espera do espetáculo a plebe era acalmada com bolsas de doces ou dinheiro jogadas por sobre suas cabeças.

Na época Imperial a importância dos espetáculos para o controle social fez com que se tornassem monopólio do Palácio Imperial. Os Imperadores reservaram para si a construção e restauração de circos, teatros e anfiteatros, certamente com o beneplácito da classe artística de então que, como hoje, adora um monopólio que garanta sua opulenta ‘sobrevivência’. As edificações provisórias ou de madeira, deram lugar a instalações permanentes e portentosas. Os Césaresperceberam também a importância de sua presença junto ao povo.

As primeiras vozes que se elevaram acima da gritaria das massas não condenavam o caráter sangrento e cruel, mas o clientelismo e populismo que lhes eram intrínsecos. Sêneca, Juvenal, filósofos e membros ilustres da sociedade viam nesta tática de pão e circo a degeneração da política e da sociedade romana. Apenas com a chegada dos Cristãos, inicialmente vítimas, posteriormente maioria na Cidade Eterna, passou a haver uma crítica mais radical, incluindo a reprovação da crueldade dos ludi. Finalmente, Constantino os aboliu.

DE VOLTA AO FUTURO

Na Nova Roma Brasiliensis temos circos, bolsas as mais diversas, sorteio de casas (Minha Casa Minha Vida), PACs mil. Ah!, e se os Césares tivessem os instrumentos modernos, o rádio a TV e uma mídia amestrada que segue os ditames, às vezes sigilosos, doCircus Maximus, o Planalto, comandado pela residência Imperial, o Alvoradensis? Esta imitação grosseira da nobre arte de informar é totalmente regida pelas gordas verbas publicitárias estatais. Possivelmente o Império Romano não teria se esboroado, ao menos tão cedo.

Da mesma forma que os Césares detinham um poder limitado pela pressão do populacho, os atuais também se vêm limitados pelo ‘clamor popular’, como sugeriu ao circo atual o Príncipe dos sociólogos hipócritas (FHC).

Quando vejo a unanimidade que a imprensa vem adotando ‘contra’ o PT, quando leio Merval Pereira, Demétrio Magnoli, Miriam Leitão, os ‘analistas’ da Folha, do Estadão, a rede Globo e tutti quanti (imitando o Olavo para fazer jus ao título de Olavete que nos pespega, entre outros, o Ilustríssimo Senhor Historiador Gustavo Moreira, apenas o último, por enquanto, de uma série que já se perpetua), um sinal de alarme toca em minha pobre mente paranoica e dada a ‘teorias conspiratórias’! Quando, ainda, políticos de diversos partidos que já tiveram sua dose de circo, como os Mensalonis Circenses tucano, do DEM, as estripulia dos mesmos no ludus Cachoeirenses, o alarme ultrapassa o limiar do ridículo! Quando, ainda mais, vejo e ouço estes gatos do mesmo saco pontificando em defesa das instituições democráticas, da derrocada do PT e da salvação das liberdades, só me resta gargalhar!

O que me surpreende e entristece é ver analistas políticos sinceramente liberais e conservadores, alguns até amigos pessoais, se deixarem iludir por esta pantomima farsesca!

Que democracia? Quais instituições? Quem será derrotado? Como bem o disse Cláudio Peixoto: as propostas do marxismo cultural continuarão a todo vapor: incentivo à promiscuidade, pederastia, pedofilia, descriminalização do aborto, infanticídio, eutanásia, liberação das drogas, desarmamento, legislação penal cada vez mais inócua, recusa de investir em segurança pública, fabricar analfabetos funcionais através do aparato educacional, aparelhamento do Estado, seja pela criação de cargos de confiança, secretarias e ministérios inúteis, seja por artimanhas legais (por exemplo, no anteprojeto da Lei Orgânica da Advocacia Geral da União consta a previsão de nomeação de pessoas fora da carreira, isto é, apadrinhados políticos, para os cargos de chefia), destruição da soberania nacional, sucateamento das Forças Armadas, terceiro-mundismo nas relações externas, como atesta o alinhamento com Cuba e Venezuela, a simpatia pelo Irã, China (a nova vedete da Rede Globo), Rússia, etc.

Ao que eu acrescento: continuará a diplomacia da espúria Tríplice Aliança, hoje contra um Paraguai pacífico e povoado de gente muito mais digna e corajosa (vide Manifesto). Continuará o domínio total da economia através de conluios com empresários inescrupulosos que choram por verbas, dinheiro de nossos impostos fartamente distribuídos (panem) pelo onipresente BNDES para não investir do próprio bolso!

E além de tudo isto uma lição que aprendi na própria pele, mas que são comentários repetidos por todos os que estudam as organizações revolucionárias: a causa é tudo, os militantes nada! Se necessário for para engambelar melhor os ingênuos, o sacrifício eventual via condenações desses “cumpanhêros” em nada atrapalhará o andamento da causa.

As informações sobre os ludi foram retiradas em certa medida da condensação da excelente reportagem da revista Historia y Vida, nº 572. A citação de Juvenal foi traduzida por mim do Inglês. Misturadas com as palavras realmente latinas existem outras propositadamente inventadas por mim.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".