GLÓRIA DA IDADE MÉDIA
domingo, 29 de julho de 2012
As realizações medievais dão a sensação de que, de algum modo, a ponta de nossos dedos tocou na base do trono de Deus.
Elas produzem na nossa alma a sensação singular de estar sendo assumido: aquilo nos toma, nos penetra, nos inunda, nos eleva.
Temos a sensação de que um elevador nos eleva até Deus, e que nós, de algum modo, estamos sendo assumidos, levados por aquilo.
E sendo assim assumidos, entramos numa vida que tem algo do Céu.
Isto é o que produzia a Idade Média.
Foi um período histórico em que o papel do povo – considerado não no sentido eleitoral democrático da palavra, mas no sentido da população constituída por homens em que cada um era cada um – teve mais valor na História.
Tudo na Idade Média foi sendo construído porque um movimento de graças pujante, profundo, invadiu a massa geral da nação.
Isso fez com que saíssem do chão, como cogumelos, santos de toda ordem, mas também pequenos homens locais importantes de toda ordem.
Cada homem no ambiente em que vivia era levado por um movimento de ascensão indeterminado que o fazia desejar subconscientemente o esplendor das catedrais góticas, as delicadezas dos vitrais da Sainte-Chapelle, a beleza do palácio dos Doges, etc.
Era um só impulso confuso, mas geral, que conduzia para a santidade, para o Céu, para o maravilhoso, para a rejeição categórica do pecado que em todas as épocas se encontrava na Terra.
Por causa disso, um élan de alma que tendia para toda forma de esplendor e de organização, mas também para toda forma de mediania, de decência, de compostura, para tudo aquilo que, nas encostas da montanha social, participa, a seu modo, do esplendor geral.
O mesmo movimento levou à construção de castelos no alto da montanha.
E, às vezes, eram um covil de ladrões construídos com o beneplácito de quem mandava, por um arquiteto qualquer desconhecido, mas que acabava fazendo obra de arte.
O bandido dono do castelo queria essa obra de arte.
Ao mesmo tempo a aldeiazinha de marzipã ia ficando encantadora, engraçadinha. Até seu chiqueirinho era engraçadinho.
Nasceu então a fábula do porquinho, das mil coisas prosaicas da vida de todos os dias que assim foram se enobrecendo e ficando bonitas.
O tamancão, os gansos que passam pela rua, a fontezinha, tudo ia ficando engraçadinho.
Os aquedutos que levavam água para as cidades foram sendo reconstruídos.
Os romanos tinham feito, os bárbaros tinham destruído, e as cidades medievais – todas, todas, mas todas – foram reconstruindo.
Não havia cidadezinha que não tivesse sua fonte.
As fontes, à sua maneira, representavam a fonte de água viva que é a graça divina.
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