QUINTA-FEIRA, 21 DE ABRIL DE 2011
Em 21 de abril os brasileiros comemoram a inconfidência mineira, uma conspiração ocorrida contra a taxação do ouro e da derrama sobre a economia colonial, tido por muitos como um símbolo da liberdade e pela luta pela emancipação brasileira contra a opressão estatal portuguesa, que impunham pesados tributos e regulamentações às atividades coloniais.
Em parte, tal movimento em si traz algumas verdades. A Coroa portuguesa à época era realmente opressiva com seus súditos, com um projeto mercantilista imperial que se acentuou no governo do Marquês de Pombal. Inspirado em ideias iluministas francesas, Pombal aumentou o tamanho do Estado português mais do que os reis absolutistas antecessores, criou mais impostos, concedeu mais monopólios e privilégios do que os monarcas anteriores, implantando um sistema econômico corporativista que se assemelhava ao fascismo moderno. Pombal era o Mussolini português do século XVIII.
A inconfidência, baseada nas ideias do liberalismo econômico de Adam Smith, que nascia à época, buscando por impostos baixos, e semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos, poderia ter ficado na história como um grande movimento pró-livre mercado, inédito no Brasil, se este estivesse se limitado à esfera econômica apenas. Entretanto, foi na verdade um movimento irrelevante historicamente, e nada se sabia da Inconfidência até a República. Tiradentes era um desconhecido até esse período quando, foi resgatado como um mártir emancipacionista, e de um simples alferes executado com cabelo e barba raspadas, passou a ser idealizado com as feições de Cristo, em uma das maiores falsificações da história brasileira.
A derrubada da monarquia em 1889 exigia que fosse apagada do nosso passado referências a monarcas, e colocada brasileiros que se revoltavam contra nobres e reis. A data de 21 de Abril, instituída forçadamente a partir de 1889 pelos militares positivistas, inaugurou uma série de manipulações e falsificações de nossa história, que passaria a ser moldada aos interesses políticos do presente, sendo feita até hoje, com a construção ideológica de mártires que nunca existiram. O feriado de 21 de Abril marca o início da história usada a serviço do estatismo.
Não seria interessante para o novo regime republicano contar às novas gerações que nasciam de que D. Pedro II e D. João VI foram nossos heróis nacionais, construidores de nossa identidade e exemplos para os brasileiros. Senão, de que teria valido a pena fazer oposição a eles e derrubá-los?
A legitimação da República seria feita assim, baseada na mentira, apagando a importância de nossa monarquia ter-nos dado estabilidade política, unidade territorial e uma cultura rica e civilizada que nos diferenciava do resto dos nossos vizinhos hispânicos, mergulhados na autodestruição anárquica. Os republicanos queriam criar no Brasil figuras bolivarianas demagógicas semelhantes a Simon Bolívar e San Martin, nos tirando aquilo que que mais nos dava identidade de brasileiros para nos nivelar culturalmente e politicamente ao resto da América Latina.
Saiba-se que as revindicações pelo livre-mercado da inconfidência foram muito bem atendidas posteriormente no Brasil, pelos próprios monarcas, sem precisarmos nas rebelar contra eles. Foi D. João VI que abriu o país ao livre comércio em 1808 e desfez-se de muitas regulações coloniais mercantilistas. A constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, foi de longe a carta que mais limitava o intervencionismo estatal. E Pedro II garantiu um período de grande liberdade econômica no Brasil, quando aderimos ao padrão-ouro e permitiu-se grande fluxo de entrada de capital estrangeiro. Mas isso não foi suficiente para os republicanos quererem conspirar contra o regime, falsadamente tido como autoritário e promotor do atraso.A chegada de D. João ao país foi de muito maior importância para nossa história do que 21 de Abril, mas ninguém quer o comemorar.
A tragédia do feriado de 21 de Abril seria repetida pelas esquerdas, adotando o argumento, "se eles fazem porque não fazemos também?". É assim que são criados mártires da noite para o dia, com o Zumbi sendo elevado a categoria de herói nacional pela libertação dos escravos, tirando o lugar ocupado pela Princesa Isabel, terroristas guerrilheiros dos anos 70 se tornam defensores da democracia de uma hora para outra, um operário semi-analfabeto se torna o presidente, "nunca na história desse país", a tirar o Brasil da opressão das elites que o antecediam, que impunham estagnação econômica, quando ele só pegou na verdade carona nas reformas bem-sucedidas de seu antecessor.
O maquiavelismo histórico não tem limites. Mudemos o dia da Inconfidência mineira para 1 de Abril, e passamos a chamá-lo de dia da mentira, de um dia que nunca existiu e que não tem nenhuma importância para os nossas vidas como brasileiros.
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