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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Em busca de um outro mundo possível* (que tal Saturno, Júpiter ou Netuno?). Ou Disparatada: Descriminalização do aborto é o tema da próxima Parada Gay!

A CAPA
Por Tiago Duque* em 10/11/2011 às 19h25

Disparatada: Descriminalização do aborto é o tema da próxima Parada Gay!
Depois de muitos ativistas não perderem as esperanças e perseverarem nos últimos anos na insistência sobre a importância do assunto, o aborto foi escolhido como tema da próxima Parada do Orgulho Gay!

Muitos devem se perguntar em que a causa gay se relaciona com a discussão sobre o aborto. O que parece óbvio para alguns é absolutamente (estrategicamente) não compreensível para outros. Eis a primeira justificativa para a eleição do tema: dar visibilidade às causas que estejam focadas mais na busca por direitos do que na conservadora reivindicação por respeito. Mais esta mudança na lógica de visibilidade das questões de gênero e sexualidade no Brasil tem muito a ensinar para o mundo. Afinal, sabemos que historicamente a longa luta contra as injustiças e violências calcadas sobre a moralidade e os bons costumes foram vencidos com muita imoralidade. Vocês já imaginaram se os movimentos sociais ficassem focados apenas em causas reconhecidas como moralmente respeitáveis? Hoje estaríamos vivendo em uma realidade ainda mais violenta.

A respeitabilidade foi colocada na berlinda na hora da escolha deste tema. Alguns insistiam que este assunto é polêmico e poderá alocar os gays em uma realidade ainda mais estigmatizante do que a de "comedores de criancinhas", como a de "matadores de criancinhas". Outros se defenderam dizendo que o problema não é o estigma, mas a norma que o inventa. Então, ao invés de acabar com o que a sociedade acha que é menos valioso, é preciso denunciar a construção perversa das legislações que alocam determinadas pessoas em situações de vidas inabitáveis. Isso é absolutamente claro quando olhamos para os dados das mulheres que morrem por tentativas de aborto na ilegalidade neste país: pobre, negras e jovens.

Críticas identitárias também foram usadas na disputa para que outro tema ganhasse força e não o do abortamento mais seguro para os casos em que são solicitados ou necessariamente aplicados. "Aborto não é um tema pra viado se meter", "Temos coisas mais específicas para lutar", "Eu nunca vou me engravidar", estas fora algumas das frases ouvidas na discussão antes da votação do tema. Todas elas também foram criticadas porque ficou claro que o aborto não é um tema anti-identitário, pelo contrário. Assim o é a ponto de muitos o temerem. O problema não está no uso das identidades, mas na forma estratégica que a empregamos. Neste processo, foi defendido que o aborto, de um ponto de vista estruturante, é mais forte identitariamente do que outros de menor impacto transformador.

A aposta é que com essa decisão, o Movimento Social TTBLG (Travestis, Transexuais, Bissexuais, Lésbicas e Gays), além de rever seus próprios preconceitos, tente minimizar a dívida histórica com as mulheres, não somente dando maior visibilidade a uma luta anteriormente erroneamente identificada como sendo só delas, mas porque foi inteligente o suficiente para compreender que ajudar a garantir uma discussão de qualidade sobre o aborto é promover mudanças e direitos aos mais diversos usos dos corpos, autonomia dos desejos, laicidade da legislação e enfrentamento da violência contra as múltiplas formas de vivenciar as feminilidades. Alguém acha que isso não tem relação alguma com as experiências de sofrimento dos gays? Quem fez a defesa procurou justificar que, se a resistência em vencer a homofobia é alimentada por questões morais, o aborto também.

Com o fato de este movimento levar o tema da descriminalização do aborto para as ruas no dia da Parada, vários setores governamentais estão preocupados. Isso tem ocorrido porque este tema é um daqueles proibidos em campanha eleitoral. Como os nossos representantes vão se posicionar abertamente diante do apelo de milhões no domingo de manhã da Parada sem colocar em risco as articulações com os setores católicos e evangélicos do legislativo?

Na área televisiva esta questão também tem sido um problemão. Uma emissora já ordenou em seus bastidores que está vetada qualquer cobertura a esta "pouca vergonha". As ruas ocupadas em prol da descriminalização do aborto ganharam status perigoso como o vetado beijo novelesco entre dois homens jovens másculos bonitinhos em horário nobre. Por isso, mais uma vez, fica claro que quase tudo, aos olhos da censura, pode parecer revolucionário demais. O medo é o de que, se hoje querem descriminalizar, amanhã vão querer legalizar. Mas, e daí?

Enquanto os organizadores não mudam de idéia, porque tem sido forte a pressão de milhares de pessoas (via redes sociais) para que o tema seja outro, eu já estou garantido a minha passagem pra Pasárgada, onde esta Parada vai ser realizada! Não quero perder mais esta festa! Pelo menos neste dia, "Vou-me embora pra Pasárgada. Vou-me embora pra Pasárgada. Aqui eu não sou feliz. Lá a existência é uma aventura." Quem quiser sonhar comigo, pode vir. Aos mais aflitos com a escolha do tema, não se preocupem, vocês acabaram de ler uma falsa notícia. Como Manuel Bandeira sonhou com a sua cidade perfeita e imaginária, eu também sonho com a minha.

*Tiago Duque é sociólogo e tem experiência como educador em diferentes áreas, desde a formação de professores à educação social de rua. Milita no Identidade - Grupo de Luta Pela Diversidade Sexual. Gosta de pensar e agir com quem quer fazer algo de novo, em busca de um outro mundo possível*.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".