* Coronel Luis Alberto Villamarín Pulido
Em 9 de dezembro de 1990, tropas da Sétima Brigada do Exército da Colômbia, comandadas pelo general Luis Humberto Correa, realizaram a primeira grande operação aero-terrestre contra um complexo narco-terrorista, que nesse momento constituía a sede do Secretariado das FARC, conhecida com o mítico nome de “Casa Verde”, na zona rural Uribe-Meta, sobre os contrafortes sul-orientais do Páramo del Sumapaz.
Nas palavras de Jacobo Arenas, ideólogo fundador do grupo terrorista, “Casa Verde era o símbolo da construção de um movimento revolucionário que orientava guerrilhas comunistas, como um estímulo à subversão para a tomada do poder”.
Golpear o Secretariado das FARC em sua sede era assunto de máxima importância estratégica para o Exército Nacional e de singular importância política para o país. Nessa ordem de idéias, a “Operação Colômbia” foi planejada em detalhes com base em testemunhos de desertores das FARC, aerofotografias tomadas pela Força Aérea Colombiana e análises meteorológicas, simultaneamente com a seleção de tropas de assalto, fechamento sobre o terreno, fogos aero-táticos e manobras sobre objetivos concretos.
O assalto aero-terrestre desenvolvido depois de disparar os fogos de abrandamento aero-táticos, foi conduzido pelas Forças Especiais. Os comandos desembarcaram sobre os objetivos principais: casa de Tirofijo, casa de Jacobo, salas de aula, Escola de Quadros e depósitos logísticos.
O valor e a galhardia dos soldados colombianos foram postos à prova nesta fase do combate, pois travaram a parte mais dramática da batalha contra os destacamentos deixados em contato pelos cabeças que, alertados por agentes infiltrados no governo nacional, lhes advertiram da iminência da Operação Colômbia.
Ao longo de trinta anos as guerrilhas comunistas de Juan de la Cruz Varela e depois as FARC de Tirofijo haviam edificado ali um intrincado sistema de trincheiras, postos de observação, pontos de desdobramento, sítio de metralhadoras anti-aéreas e armas de tiro curvo, que imediatamente retardaram o avanço das tropas de assalto da primeira leva e os obrigaram a pedir novos apoios de fogo aéreo.
Vencida a feroz resistência comunista da primeira fase do ataque, desembarcaram mais tropas de infantaria sobre objetivos secundários pré-determinados que destruíram outros componentes da trama subversiva, escondida nas pregas da cordilheira oriental sobre locais de difícil acesso, protegidos por franco-atiradores.
Os choques armados e as escaramuças prolongaram-se durante 15 dias até quando, com muito poucas baixas entre mortos, feridos ou evacuados por outras razões, as tropas regulares assumiram o controle total da zona. Além das baixas e capturas de vários terroristas, as tropas apreenderam abundante material de guerra, intendência, comunicações e copiosos documentos de alto valor para a inteligência militar e a Justiça colombiana.
Um vez inventariados os achados, os documentos apreendidos pelas tropas puseram a descoberto a maior parte dos segredos que as FARC tinham na época, resumidos nas conferências guerrilheiras, nos plenos, nas reuniões de assistentes, nos escritos programáticos do grupo terrorista e no seu Plano Estratégico.
Com base nas informações obtidas, o Exército Nacional desvelou a importância estratégica do Páramo del Sumapaz e dos estados de Meta, Guaviare e Caquetá dentro da projeção das FARC sobre a capital da república, assim como a crescente dependência financeira das FARC em torno do narcotráfico.
Produto destas conclusões, o Exército Nacional criou as duas primeiras brigadas móveis com jurisdição em todo o território nacional, integradas por oficiais e sub-oficiais experimentados em operações de contra-terrorismo rural, para operar sobre objetivos de alto valor estratégico relacionados com o narco-terrorismo.
Os organismos do Estado colombiano também reenfocaram o esforço de busca de inteligência sobre as estruturas urbanas e rurais das FARC, adquiriram experiência em decodificar mensagens criptografadas com sistemas numéricos e chaves alfa-numéricas desconhecidas até a data e diferentes dos tradicionais do ELN, em regra geral, trabalhados sobre páginas pré-acordadas de livros, revistas e outros documentos, ou escritos com tinta indelével sobre folhas de papel em branco.
Os especialistas de inteligência técnica conheceram de primeira mão argúcias de mudança de canais de comunicação, alteração de freqüências, flexibilidade de horários, envio de mensagens falsas de contra-inteligência e sistemas internos de rádio-comunicação, utilizados pelo Secretariado e cada uma das frentes em todo o território nacional.
As unidades de combate em zonas rurais conheceram em detalhes os procedimentos logísticos, os sistemas de caletas [1] e as conexões camponeses para abastecer as frentes nas áreas de operações. Em conseqüência, aumentou a pressão contra as frentes em cada uma das regiões.
As unidades de operações psicológicas do Exército colombiano evidenciaram a importância da aproximação com a população civil, denominada pelos terroristas de “educação política da base camponesa”, pois ali radica a fortaleza estrutural do Partido Comunista Clandestino e as milícias bolivarianas integradas ao Plano Estratégico, na ocasião denominado “Plano Bolivariano para uma Nova Colômbia”.
Em síntese, a Operação Colômbia contra o Secretariado das FARC em “Casa Verde” dividiu em dois e história da guerra contra o terrorismo comunista na Colômbia, deixou ensinamentos táticos importantes acerca do emprego das Forças Especiais, artilharia de campanha, engenheiros de combate, operações helicoportadas, fogo aero-tático, inteligência de combate, inteligência técnica, análises de documentos, ação psicológica e logística em operações irregulares.
A presença permanente do general Correa à frente das tropas na área de combate, incrementou a moral e o desejo de combater dos soldados, e aumentou a eficiência das unidades de primeira linha. O apoio logístico total desde Bogotá, por parte do general Manuel Murillo, Comandante do Exército, reforçou a ação e forçou as FARC a que abortassem os planos que, em segredo, preparavam desde Casa Verde para lançar a ofensiva final sobre Bogotá em 1997. Isso e muito mais derivou-se da incursão militar contra a guarida principal das FARC em 9 de dezembro de 1990, data transcendental para as operações contra o narco-terrorismo na Colômbia.
Nota da tradutora:
[1] Caleta é o nome que os bandos terroristas dão para o local onde escondem dinheiro em espécie - quase sempre dólares -, armas e munições. Em geral, essas “caletas” são covas feitas em lugares determinados de conhecimento apenas dos chefes do segundo escalão e dos cabeças do Secretariado.
* Analista de assuntos estratégicos - www.luisvillamarin.com
Tradução: Graça Salgueiro
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