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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Obama ainda não entendeu

MÍDIA A MAIS
por Victor Davis Hanson em 16 de novembro de 2010


Segundo Obama, a culpa pelo fracasso eleitoral do seu partido seria dos ingratos que não entendem seus objetivos, e não uma repulsa a sua agenda esquerdista autoritária
OPresidente Obama chegou perto, mas ainda não foi capaz de admitir que suas políticas radicais e os efeitos destas sobre a economia foram a causa da devastadora repreensão política que recebeu nas eleições do dia 02/11. Durante a maior parte da coletiva de imprensa, um Obama deprimido, coisa rara, se absteve de assumir responsabilidades, chegando perto de dizer que os problemas são, em sua maior parte, nossos e não dele — ou pelo menos não de sua agenda política; no máximo um problema ocasional de comunicação inadequada.
 
Parecendo alguém incapaz de largar um velho hábito, ele mais uma vez foi condescendente, explicando que nósconfundimos suas soluções necessárias com um monstro imaginário do big government em expansão, e então, tal com é típico de nós, medrosos e ignorantes, demos uma surra em seu partido. Obama afirma que o ultraje brotou do mesmo tipo de frustração que o elegeu em vez de surgir precisamente em função dele e de sua agenda política. Em resumo, estamos furiosos porque a sua agenda socialista ao estilo União Européia está avançando de modo lento demais e ainda não entregou o prometido — mas com o tempo, entregará. Talvez então nós agradeçamos a ele por sua solução de altos gastos e governo hipertrofiado.
 
Ele parece perplexo (pela primeira vez?) com o fato de que sua popularidade como orador de campanha não durou até que se tornasse responsável por governar de verdade. Durante a maior parte da coletiva, um Obama deprimido, quase indiferente, mas aparentemente acuado, argumentou que o ultraje com raízes populares contra o seu endividamento maciço, contra o enorme governo perdulário e contra o elitismo, na verdade, era um descontentamento contra o estado da economia que ele herdou, um descontentamento do qual ele compartilha. Nós não sabemos disso, insinua o presidente, mas ainda estamos furiosos com os anos Bush, e no dia 02.11.2010, erroneamente atiramos nossa ira sobre os metódicos, ainda que muito lentos, esforços de Obama para a recuperação. Ou seja, quase nenhuma admissão de que a mensagem de Obama, e a maneira pela qual esta foi transmitida, alienou milhões de americanos — tampouco houve um Clinton arrependido no outono de 1994, mas agora Obama parece magoado por que não estamos gratos a ele.

Eu não acho que o povo americano — que há apenas uma semana ouviu seu presidente gabar-se de que os Republicanos tinham de se contentar em ficar no banco traseiro [i.e., sem poder] e que os latinos deveriam punir seus “inimigos” Republicanos, e que agora lhe infligiu a maior humilhação de meio de mandato em mais de meio século — subitamente irá dar ouvidos às suas conclamações por um fim à antiga tendência à discórdia.
 
De qualquer forma, eu tenho duas reações a esta eleição — uma diante da cena nacional e a outra aqui no meu estado, a Califórnia.
 
Se alguns fanáticos não tivessem falado de um ganho de 90-100 cadeiras no Congresso, os Democratas estariam sofrendo de um choque ainda maior diante daquase histórica perda de mais de 60 cadeiras na Câmara, e também de um estonteante arrastão pró-Republicano em legislaturas e governos estaduais, sem esquecer os consideráveis ganhos dos Republicanos e independentes no Senado — e tudo isso depois de meros 21 meses desde o início das políticas de “esperança e mudança”. A idéia de que copiaremos o socialismo da União Européia está morta, bem como o maciço endividamento nos moldes keynesianos. Morreu também a prometida segunda onda do obamismo, tais como o cap&trade e a anistia geral aos imigrantes ilegais. Os partidários de Obama podem se jactar que os outrora intocáveis veteranos senadores Democratas Barbara Boxer e Harry Reid conseguiram se reeleger, mas eles precisam entender que a visão de Obama e seu método de colocá-la em prática simplesmente fizeram com que a vasta maioria dos eleitores do país não mais acreditasse em suas promessas.
 
No lado dos conservadores, algumas coisas também precisam mudar. O Congresso não pode permanecer refém de deputados e senadores de estados agrícolas, para quem os enormes subsídios para determinados produtos são sacrossantos; há uma década, nós desistimos da “eliminação” de tais programas, via lei da “Liberdade para Produzir e Cultivar” para logo chamar a criação de porcos uma questão de segurança nacional no pós-11 de setembro. No front orçamentário, duvido que ouçamos alguém falar de, ao menos no curto prazo, cortes maciços nos impostos que resultariam num crescimento da economia de oferta e, consequentemente, num aumento da receita. Em vez disso, suponho que qualquer tentativa Republicana de cortar impostos deverá ser acompanhada, na prática realista, de um comensurável corte nos gastos, dólar por dólar. Eu também penso que ainda veremos deputados vangloriando-se dos novos centros comunitários que levarão aos seus distritos eleitorais, no velho etilo clientelista [pork-barrel politics], com direito a batizar com seus nomes essas “benesses” financiadas com o dinheiro dos contribuintes — ao menos por um tempo.

Na Califórnia, há alguma ironia. A filosofia que levou o estado a ter as mais altas taxas de impostos nos EUA, bem como às quase piores escolas, aos maiores déficits e a uma infra-estrutura em desmoronamento, foi reafirmada. Agora o governo do estado da Califórnia terá de lidar com a realidade da escolha: se aumentar ainda mais os impostos mais altos do país perderá moradores de renda maior em ritmo mais acelerado do que os já três mil contribuintes que deixam o estado a cada semana. Um Congresso Republicano pouco provavelmente irá resgatar uma Califórnia insolvente. O mais provável é que vejamos mais do atual governo-por-eufemismo, com ações ad hoc. Veremos mais concessões de “licenças” não-remuneradas em vez de cortes na folha dos funcionários públicos sindicalizados, classes com número de alunos “temporariamente” maior, mais “taxas de usuário” impostas por ordem executiva em vez de tentar aprovar novas taxas pela via legislativa.
 
O estado da Califórnia continuará a decair numa sociedade piramidal. No topo está a elite esquerdista costeira, do Napa Valley até Hollywood, que parece imune aos efeitos dos altos imposto e regulamentações (e ainda quer mais leis ambientais, casamento gay, aborto e conversa mole terapêutica). Ironicamente, o topo da pirâmide está unido a uma crescente classe baixa em parte dependente de uma enorme indústria de direitos e benefícios governamentais; tal coalizão favorece mais impostos, direitos, sindicatos de funcionários públicos, fronteiras abertas, etc.
 
Enquanto isso, um espremido setor privado de classe média está sendo lentamente sufocado, levado a fechar as portas e a deixar a Califórnia.
 
O que nos resta? O fato de que o dinheiro público californiano está acabando é, de fato, uma solução de pouco valor.
 
Tradução: Henrique Dmyterko
 
Publicado originalmente na National Review Online em 05 de novembro de 2010.
 
Também disponível no site do autor.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".