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terça-feira, 29 de junho de 2010

Turquia radical ultrapassa os limites

MÍDIA A MAIS

por Daniel Pipes em 24 de junho de 2010



Melhores amigos? Erdoğan (esquerda) com Ahmadinejad
Como todo teatro islamista-esquerdista focado em deslegitimar Israel, a flotilha “Liberte Gaza” [ou “Gaza Livre”] patrocinada pela Turquia, no final de maio, foi tediosamente repetitiva. Como uma ilustração de que os israelenses não entendem o tipo de guerra que precisam lutar agora, o resultado foi sombriamente previsível. Mas como uma declaração das políticas turcas e como augúrio do futuro do movimento islamista, estava repleta de significado e novidades.
Algumas informações históricas: após aproximadamente 150 anos de tímidas tentativas de se modernizar, o Império Otomano finalmente entrou em colapso em 1923, substituído pela dinâmica, e de orientação ocidental, República da Turquia que foi fundada e dominada por um antigo general otomano, Kemal Atatürk. Nos seguintes quinze anos, até sua morte em 1938, Artatürk impôs um programa de ocidentalização tão rígido que uma vez sugeriu substituir os tapetes nas mesquitas por assentos de igrejas. Mesmo que a Turquia seja praticamente cem por cento muçulmana, ele insistiu numa estrutura de Estado puramente secular.
 
Atatürk nunca conseguiu fazer com que toda população turca compartilhasse de sua visão e com o tempo sua república laica precisou crescentemente se acomodar a sentimentos muçulmanos pios. Mesmo assim, a ordem de Atatürk persistiu nos anos 90, resguardada pelo corpo de oficiais militares, que teve como prioridade manter sua memória viva e seu secularismo enraizado.
 
A primeira vez que os islamistas conseguiram representação parlamentar foi no início dos anos 70, quando seu líder Necmettin Erbakan já tinha servido três vezes como vice primeiro ministro de seu país. Como os principais partidos políticos turcos enfraqueceram sua legitimidade entre uma mistura vergonhosa de egoísmo e corrupção, Erbakan conseguiu se eleger primeiro ministro por um ano, 1996-1997, até que os militares se reafirmaram e o removeram.
 
Alguns dos seguidores de Erbakan mais ágeis e ambiciosos, liderados por Recep Tayyip Erdoğan, em agosto de 2001, formaram um novo partido político islamista, o Adalet vê Kalkinma Partisi ou AKP. Pouco mais de um ano depois, este partido conseguiu a significativa margem de 34 por cento de uma pluralidade de votos e devido à excentricidade do sistema eleitoral turco, dominaram o parlamento com 66 por cento dos assentos.
 
Erdoğan se tornou primeiro ministro e, com uma amostra de um bom governo, o AKP conseguiu um aumento substancial de votos e a reeleição de 2007. Com um novo mandato e com os militares crescentemente em segundo plano, prosseguiu agressivamente na elaboração de teorias conspiratórias falsas, multou um crítico de sua política em 2,5 bilhões de dólares, filmou o líder oposicionista em uma situação sexual comprometedora, e agora planeja alterar a constituição.
 
A política externa, nas mãos do Ministro de Relações Exteriores Ahmet Davutoğlu, que tem aspirações de que a Turquia recupere sua antiga posição de liderança no Oriente Médio, exagera ainda mais rudemente. Ankara não apenas adotou uma abordagem mais beligerante quanto à questão emChipre, mas inconsequentemente inseriu-se em tópicos mais sensíveis como o avanço nuclear iraniano e o conflito árabe-israelense. O mais surpreendente de tudo foi seu apoio à IHH, uma organização de caridade turca com ligações documentadas com a Al-Qaeda.
 
Se o comportamento irresponsável de Ankara tem implicações preocupantes para o Oriente Médio e o Islã, tem também um aspecto mitigador. Os turcos têm estado na vanguarda do que eu chamo de Islamismo 2.0, a versão popular, legítima e não agressiva daquilo que o Aiatolá  Khomeini e Osama Bin Laden tentaram alcançar pela força com o Islamismo 1.0. Eu previ que a pérfida forma de islamismo de Erdoğan “pode ameaçar a vida civilizada ainda mais que a brutalidade do islamismo 1.0”.
 
Mas o seu abandono da modéstia e cautela  anterior sugere que os islamistas não conseguem evitar esse comportamento e  a violência inerente ao islamismo deve emergir em algum momento; sugere que  a variante 2.0 acaba revertendo às suas origens do 1.0.  Como propõe Martin Kramer “Quanto mais longe os islamistas estão do poder, mais contidos eles são, assim como o inverso”. Isto pode significar que o islamismo apresenta-se como um adversário menos formidável do que o esperado, por duas razões.
 
Fethullah Gülen não aprova
Primeiro, a Turquia hospeda o movimento islamista mais sofisticado do mundo, um que inclui não apenas a AKP, mas o movimento em massaFethullah Gülen, a máquina de propaganda Adnan Oktar e mais. A nova belicosidade da AKP causou divergências; Gülen, por exemplo, condenoupublicamente a farsa “Liberte Gaza”, sugerindo a possibilidade de uma debilitante luta interna sobre táticas.
 
Segundo, se antes apenas um pequeno grupo de analistas reconheciam o posicionamento islamista de Erdoğan, isto agora ficou evidentemente óbvio para o mundo inteiro ver. Erdoğan descartou gratuitamente sua imagem cuidadosamente construída de “democrata muçulmano” pró-ocidental, tornando muito mais fácil tratá-lo como o aliado de Teerã-Damasco que é. 
 
Como Davutoğlu buscava, a Turquia voltou ao centro do Oriente Médio e da umma [*]. Portanto, não merece mais ser membro integral da OTAN e seus partidos oposicionistas merecem apoio.
 
Atualização em 8 de junho de 2010: Para maiores informações que não se encaixaram no artigo principal, veja: “More on Islamist Turkey Overreaches
 
Tradução: Roberto Ferraracio
 
Publicado originalmente na National Review Online no dia 8 de junho de 2010. Também disponível no site do autor.


[*] NT: Termo islâmico que representa a totalidade da comunidade muçulmana mundial, unidos pela crença em Alá.

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
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A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".