Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro concede Medalha Tiradentes a Olavo de Carvalho. Aqui.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

TRANSPARENTE E ENRUSTIDO

BLOG DO PERCIVAL PUGGINA


Percival Puggina

27/06/2010

Não é raro que em debates de rádio e tevê surjam interlocutores que se apresentam revestidos de credenciais acadêmicas. Proclamam-se técnicos e querem que seus argumentos sejam apreciados por sua "objetividade científica". No entanto, têm lado, ocupam bem cavada trincheira ideológica ou partidária, vestem colete a prova de balas, escudo, viseira e disparam seu arsenal com determinação. Mas assumem ares de isenção. Não requer muito esforço desmontar a cena e expor a falsidade da situação: cientista militante é apenas um militante cientista, é intelectual orgânico, tão a serviço da causa quanto o sujeito que, na madrugada, sai à rua para colar cartazes. Nada há de errado em ter lado. Errado é esconder o lado onde se está. É fingir neutralidade e isenção quando não se é neutro nem isento.

Lembrei-me de alguns personagens assim ao refletir sobre o que, em nosso país, se espera da mídia em relação à política (e em época de campanha a ela se impõe). É a mesmíssima coisa! De modo muito especial, pretende-se que no desenrolar de cada campanha eleitoral os veículos e seus profissionais escondam suas predileções e façam de conta que não as têm. Deseja-se, com isso, eliminar toda influência sobre a opinião pública, para que o eleitor possa "decidir por si mesmo", sem sofrer manipulação. É uma pretensão que padece da inviabilidade inerente às coisas absurdas. Neste caso, uma pretensão com péssimas consequências: a manipulação se torna muito mais acentuada, mais dissimulada e mais eficaz.

Todo o equívoco de que estou tratando aqui tem origem no preceito da Constituição pelo qual o Governo Federal concede e renova as concessões das emissoras de rádio e televisão. Esse mecanismo afeta a autonomia das empresas tanto quanto o faz a publicidade oficial deliberada e distribuída em ambiente político-partidário. É um paradoxo! O Congresso Nacional, que criou o instrumento da concessão e que não regula a publicidade oficial, põe sob suspeita aquilo que criou e coloca a mídia sob mordaça durante as campanhas eleitorais... Assim, tão logo elas começam, não há jornalista que faça pergunta incisiva ou que aponte as contradições dos candidatos. Só se analisa o que não tem qualquer importância. Vale dizer, não há jornalismo durante o período eleitoral. Tudo se passa como se houvesse, mas não há.

Graças a tais impedimentos, por outro lado, a comunicação social de natureza política fica submetida por inteiro ao marketing dos candidatos, manipulada para conquistar e convencer. Aquela manipulação que se queria evitar resulta agravada pela mordaça imposta aos jornalistas.

Seria muito preferível que as emissoras de rádio e televisão fossem consideradas atividades empresariais como quaisquer outras, sujeitas a controles que inibissem a formação de grandes conglomerados e monopólios e pudessem expressar livremente suas posições políticas, filosóficas e assim por diante. Doravante, até outubro, tudo será controlado e medido. Os centímetros de texto e de imagem, bem como os segundos de exposição concedidos aos candidatos, estarão sob rigoroso escrutínio. Só não serão compulsados, nessa imposta e falsa neutralidade, os miligramas de veneno ardilosamente inseridos nas matérias. Tudo muito transparente e, ao mesmo tempo, totalmente enrustido. Bem ao gosto nacional.

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* Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia. 

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
"Para conseguir sua maturidade o homem necessita de um certo equilíbrio entre estas três coisas: talento, educação e experiência." (De civ Dei 11,25)
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ação. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus atos: eles moldam seu caráter.
Cuidado com seu caráter: ele controla seu destino.
A perversão da retórica, que falseia a lógica e os fatos para vencer o adversário em luta desleal, denomina-se erística. Se a retórica apenas simplifica e embeleza os argumentos para torná-los atraentes, a erística vai além: embeleza com falsos atrativos a falta de argumentos.
‎"O que me leva ao conservadorismo é a pesquisa e a investigação da realidade. Como eu não gosto de futebol, não gosto de pagode, não gosto de axé music, não gosto de carnaval, não fumo maconha e considero o PT ilegal, posso dizer que não me considero brasileiro - ao contrário da maioria desses estúpidos que conheço, que afirma ter orgulho disso". (José Octavio Dettmann)
" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".