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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

HONDURAS - POVO HONDURENHO MAIS UMA VEZ ENGANADO? “Pepe” Lobo ou Zelaya II?

Fonte: HEITOR DE PAOLA


“Pepe” Lobo ou Zelaya II?


Graça Salgueiro


28/01/2010



Honduras começa hoje uma nova etapa de sua vida constitucional com a tomada de posse do Presidente da República, Porfirio “Pepe” Lobo, eleito por 61% dos cidadãos hondurenhos em 29 de novembro passado. Muitos articulistas de opinião política se entusiasmaram com o novo presidente, entretanto, mesmo antes de sua posse, Pepe Lobo começou a tomar medidas que levaram os hondurenhos a se questionar se de fato tinham votado na pessoa certa.


No dia 20 pp., Lobo assinou um acordo juntamente com o Presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, no qual oferece anistia e um salvo-conduto ao deposto presidente Manuel Zelaya e o deixa sair de Honduras, rumo à República Dominicana, como “hóspede ilustre”. No documento, dentre outras coisas, Porfirio Lobo diz: “Procederei (...) a ditar um auto de salvo-conduto em favor do Presidente Manuel Zelaya e de seus familiares, a fim de que possam exercer em plenitude o direito cidadão que lhes corresponde ao desfrute da liberdade de trânsito, tal como se encontra consagrado na Constituição da República”. Foi um golpe duríssimo para aqueles que ansiavam em ver Zelaya julgado e condenado por seus crimes, e não saindo do país pela porta da frente sob o manto da total impunidade.


Em seu discurso de posse, “Pepe” Lobo agradeceu ao apoio brindado pelos presidentes Oscar Arias, da Costa Rica e Leonel Fernández, da República Dominicana, ambos signatários do Acordo Tegucigalpa-San José, cujo teor em nenhum momento agradou aos hondurenhos que ao ouvir a citação deram uma rotunda e sonora vaia. Em seus agradecimentos Lobo também lembrou-se, com gratidão, de nefastos personagens que nunca foram do agrado dos hondurenhos por suas ações tíbias e duvidosas em relação ao governo constitucional de Roberto Micheletti, e que por isso também foram solenemente vaiados: Hillary Clinton, Hugo Llorens e a OEA.


Entretanto, a vaia que mais retumbou no estádio foi quando o novo presidente referiu-se – e assinou - à anistia oferecida ao deposto Manuel Zelaya. Aquilo tinha cheiro de traição e era insuportável para toda aquela gente que o elegeu como prova de rechaço a Zelaya. Não era isso que se esperava dele! Por outro lado, quando Lobo anunciou os representantes dos países presentes, dois foram bastante aplaudidos: o Vice-Presidente da Colômbia, Francisco Santos, e o presidente do Panamá, Ricardo Martinelli que teve de se levantar para agradecer.


Seria leviano e irresponsável de minha parte afirmar que Pepe Lobo é uma re-edição de Manuel Zelaya mas ao assistir seu discurso populista, suas homenagens a figuras que em nenhum momento ajudaram Honduras a resolver seus problemas reais e ainda por cima fizeram de tudo para que Micheletti renunciasse e devolvesse – ilegal e inconstitucionalmente – o poder a Zelaya, fiquei com uma sensação ruim de déjà vu e temerosa de que aquele povo simples e honesto caísse outra vez na esparrela, como quando elegeu Zelaya. Vale lembrar que Zelaya foi eleito democraticamente, com um discurso que defendia a democracia, o progresso e o respeito aos direitos humanos. Hoje, Pepe Lobo exaltava os mesmos valores em seu discurso improvisado e inflamado...


Poucos países se fizeram representar, mas alguns da União Européia já estavam enviando seus embaixadores e observadores para o ato de posse: França, Itália, Espanha e Alemanha, além de Taiwan. Os presidentes do bloco da ALBA e da UNASUL, quer dizer, do Foro de São Paulo, não foram tampouco deram satisfação, pois continuam não reconhecendo a legitimidade destas eleições. O Brasil, através do chanceler Celso Amorim, afirmou que “a maneira como vão tratar o presidente Zelaya é que vai influir em nossa atitude para com Honduras”. Agora que Zelaya já deixou Honduras com honras de chefe de Estado, numa caravana de 15 carros oficiais e escolta militar rumo ao aeroporto de Toncontin para seguir no jatinho de Leonel Fernández rumo à República Dominicana, pode ser que o Brasil volte atrás.


Uma coisa me chamou muito a atenção no discurso de Pepe Lobo: em nenhum momento ele citou o nome de Roberto Micheletti que é a quem mais Honduras tem a agradecer – inclusive a possibilidade daquelas eleições - nem este estava presente ao ato. É verdade que, pelas convenções daquele país, quem passa a faixa presidencial é o Presidente da Câmara mas isto não era impeditivo para que Micheletti estivesse presente para homenageá-lo. Haveria alguma indisposição pessoal ou ideológica entre os dois? Creio que nunca se saberá pois Michletti é muito diplomático, mas é curioso que um dia depois da assinatura do acordo traiçoeiro, Micheletti tenha dito que “decidiu dar uma passo ao lado” para que no futuro não se diga que seu governo quis entorpecer o novo governo de Porfirio Lobo Sosa. E quatro dias antes da posse ele de fato se afastou de suas funções, sem contudo renunciar ao cargo como queriam e insistiam seus desafetos.


Há fatos que minha intuição alerta como no mínimo estranhos, mas só o tempo dirá se estava certa ou eram apenas devaneios. Ficou claro que Pepe Lobo não tem a mesma têmpera de Micheletti. As atitudes de um de outro são diametralmente opostas, como por exemplo, a fortaleza de Micheletti nesses sete meses de ostracismo, complôs, boicotes e até atentado físico à sua família. Ele não se deixou intimidar, praticamente lutando sozinho contra ventos e tempestades vindas dos quatro cantos do mundo. Este é um homem a quem não somente Honduras mas toda a humanidade deve lembrar com orgulho, respeito e reverência, por seus punhos de aço para não deixar o trem da Nação descarrilar.


Lobo, ao contrário, cedeu com muita facilidade e ligeireza ao canto de sereia doForo de São Paulo – que na aparência não reconhece estas eleições mas manda seus agentes atuarem conforme seus interesses -, através dos apelos de Leonel Fernández assinando aquele acordo nefasto pelo qual Micheletti tanto lutou para não ser assinado. Com este mal passo, Lobo tenta reaproximar os países que não o legitimaram, pois não possui a fibra de Micheletti para provar seu valor através da forma como conduz o país. Lobo necessita da “aprovação” dos outros para resolver as incontáveis dificuldades do país e para isto cedeu onde não deveria nem poderia ceder, pois qualquer cidadão hondurenho poderá mais tarde tentar embargar seu mandato alegando que ele feriu a Constituição ao outorgar essa anistia a um criminoso denunciado pela Justiça.



Outro fato desagradável – até para quem não é hondurenho – foi ver Pepe Lobo na embaixada brasileira entregando pessoalmente o salvo-conduto a Zelaya, num clima amistoso entre sorrisos e abraços. O novo presidente eleito pelo povo que rejeitou Zelaya estava diante de um criminoso que havia traído seu país, sua Constituição e esta gente que o elegeu, mas o tratava com um amigo dileto referendando todos os seus crimes!


Tomara que eu esteja enganada e que Porfirio Lobo faça uma boa administração, para o bem de Honduras e dos hondurenhos, mas o que vi naquela tomada de posse me cheirou muito mal e me lembrou de velhos filmes passados na Venezuela e aqui mesmo no Brasil. Oxalá minha intuição esteja vendo fantasmas e tendo alucinações, pelo bem daquela gente boa e que não merece outro golpe do qual se safou há tão pouco tempo...


[ESTE ARTIGO FOI ESCRITO ESPECIALMENTE PARA ESTE SITE NUMA DEFERÊNCIA DA AMIGA GRAÇA]

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A teoria marxista da “ideologia de classe” não tem pé nem cabeça. Ou a ideologia do sujeito traduz necessariamente os interesses da classe a que ele pertence, ou ele está livre para tornar-se advogado de alguma outra classe. Na primeira hipótese, jamais surgiria um comunista entre os burgueses e Karl Marx jamais teria sido Karl Marx. Na segunda, não há vínculo entre a ideologia e a condição social do indivíduo e não há portanto ideologia de classe: há apenas a ideologia pessoal que cada um atribui à classe com que simpatiza, construindo depois, por mera inversão dessa fantasia, a suposta ideologia da classe adversária. Uma teoria que pode ser demolida em sete linhas não vale cinco, mas com base nela já se matou tanta gente, já se destruiu tanto patrimônio da humanidade e sobretudo já se gastou tanto dinheiro em subsídios universitários, que é preciso continuar a fingir que se acredita nela, para não admitir o vexame. Olavo de Carvalho, íntegra aqui.
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" Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. " Citação de Olavo de Carvalho em "Virtudes nacionais".